A expressão correspondente no original,
significa "setenta setes". Como a mensagem do capítulo nove de Daniel
abrange um longo espaço de tempo, entende-se que cada uma dessas semanas mencionadas
pelo anjo representa sete anos. A Bíblia usa linguagem semelhante em Levítico
25.8, onde a tradução é feita literalmente como "semanas de anos".
Em Ezequiel 4.5,6 ocorre o mesmo fato, já que estes versículos tratam também
de anos e utilizam o mesmo método simbólico. Portanto, as setenta semanas de
Daniel compreendem 490 anos, ou seja, setenta vezes sete anos assim
explicados, segundo as opiniões mais abalizadas: v.25 - "Desde a saída
da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Messias, sete semanas
e sessenta e duas semanas". Esta ordem foi dada por Artaxerxes em cerca de
445 a. C. (leia Neemias 2), sendo que as primeiras sete semanas correspondem
aos 49 anos gastos na reedificação da cidade. As sessenta e duas semanas
seguintes compreendem 434 anos que, somados aos 49 anteriores, totalizam 483
anos: v. 26 - "E depois das sessenta e duas semanas será tirado o Messias
e não será mais; e o povo do príncipe que há de vir destruirá a cidade e o
santuário". Assim sendo, estes 483 anos culminam com a crucificação de
Cristo. O povo aqui mencionado são os romanos, que dominavam o mundo
contemporâneo de Jesus, e foram os responsáveis pela destruição de Jerusalém e
do Templo, no ano 70 d.C. Cumprindo-se neste último caso as palavras do Mestre:
"Não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada", Mt 24.2.
"O príncipe que há de vir" é uma referência direta ao Anticristo, por
diversas vezes aludido em outras passagens bíblicas, o qual se manifestará no
fim dos tempos. V. 27 - "E ele firmará um concerto com muitos por uma
semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares;
e sobre as asas das abominações virá o assolador, e isso até a consumação; e o
que está determinado será derramado sobre o assolador". Neste versículo,
chegamos à última fase da mensagem profética, isto é, a septuagésima semana
que começará após o arrebatamento da Igreja e o retorno geral dos judeus à
Palestina, conforme se observa no versículo 26. Convém salientar que este
último fato já está ocorrendo. Na ocasião, o Anticristo fará uma aliança por
sete anos com Israel, e estabelecerá um governo mundial com base no seguimento
do antigo império romano, sob a forma de uma confederação de dez nações: Dn
2.42,43; 7.7,8. Porém, na metade da semana, ou seja, após três anos e meio, ele
quebrará o concerto, dando início à Grande Tribulação propriamente dita.
"O príncipe que há de vir" então tripudiará sobre o povo israelita
"até a consumação" da semana profética e, finalmente, "o que
está determinado será derramado sobre o assolador": Cristo se manifestará,
segundo o relato de Apocalipse 19, e começará uma era de paz sobre a terra,
conhecida como o Milênio.