teologia APOFATICA
Tudo que nega Deus como o único ser
onipotente, onipresente e onisciente é considerada teologia da negatividade.
Por essa razão, sua definição exata seria "teologia apofática". Para
Lossky, no entanto, chama-a "teologia mística". Não estaríamos aqui
diante de uma incongruência? À primeira vista, parece que sim. Com efeito, o
aspecto místico não consiste na "apofaticidade" (o que lhe permitiria
dar à sua teologia o título de "mística", em virtude da identidade
entre "mística" e "apofaticidade"),mas sim na experiência vivida. "O dogma, que exprime
uma verdade revelada e nos aparece como um mistério insondável", e deve
ser vivido por nós num processo no curso do qual ocorre que, ao invés de
assimilarmos o mistério ao nosso modo de entender, nós atendemos a uma profunda
mudança, uma transformação interior do nosso espírito, para nos tornarmos aptos
para a experiência mística. Longe de se oporem, teologia e mística se apoiam e
completam mutuamente. Uma é impossível sem a outra: se a experiência mística
significa valorizar pessoalmente o conteúdo da fé comum, a teologia é a
expressão, em proveito comum, daquilo que pode ser experimentado por cada um.
Se formos nos basear
nesse texto, parece que a mística não tem nada a ver com a
"apofaticidade": esta é definida como experiência, como assimilação
pessoal dos mistérios da fé, como união com Deus, como incidência prática do
conhecimento teológico. De fato, porém, a "apofaticidade" está
incluída nessas definições, porque é exatamente a fé vivida dos mistérios que
impede sua transformação em fórmulas abstratas, em simples teoremas, em
artífices da razão, em idéias claras e distintas; é a experiência vivida que
proclama sua inefabilidade.
Assim, a
"apofaticidade" está implícita na mística e, portanto, dizer"
teologia mística" e dizer" teologia apofática" é a mesma coisa,
pois, ambas não passam de argumentos voltados para confundir pensamentos
convictos de que existem um Deus e que Ele tem todo governo físico e celestial
sob seu poder.
Na cristologia, o
caráter apofático pode ser facilmente observado examinando-se a fórmula do
Concílio de Calcedônia: "Com efeito, a união das duas naturezas é expressa
por quatro definições negativas: asunkútos, atréptos, adiairétos, akorístos (sem confusão, sem mudança, sem
divisão, sem distinção). Nós conhecemos o fato da união das duas naturezas numa
só pessoa, mas o 'como' dessa união continua sendo para nós um mistério fundado
na distinção-identidade incompreensível da natureza e da pessoa". A
atitude apofática também pode ser notada na multiplicidade de imagens usada
para ilustrar a obra realizada por Cristo, obra incompreensível para os homens,
segundo são Paulo: imagens como redenção, mediação, etc.
O
"apofatismo" que está na origem de toda a teologia trinitária, encontra-se
especialmente na base da teologia do Espírito Santo, ou seja, da pneumatologia.
Com efeito, no caso da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, o ensinamento
bíblico" já tem o caráter de uma tradição mais secreta, menos revelada, em
lugar da manifestação refulgente do Filho, proclamada pela Igreja até os
confins do universo". "O Espírito Santo permanece não-manifestado
enquanto pessoa, permanece escondido, dissimulando-se no seu próprio
aparecimento".
Concluindo, "o
'apofatismo' é expressão de uma atitude de fundo que faz da teologia em geral
uma contemplação dos mistérios da Revelação e não um ramo da teologia, um
capítulo, uma introdução inevitável sobre a incognoscibilidade de Deus, depois
da qual passa-se tranquilamente à razão humana, à filo comum. O 'apofatismo'
nos ensina a ver nos dogmas da Igreja antes de mais nada um sentido negativo,
um veto a que nosso pensamento siga os seus caminhos naturais e forme conceitos
que substituiriam as realidades espirituais. O cristianismo não é uma escola
filosófica que especula com conceitos abstratos, mas é antes de mais nada uma
comunhão com Deus vivo. Foi por essa razão que os fiéis ao princípio apofático
da teologia, apesar de toda a sua cultura filosófica e suas inclinações
naturais para a especulação, souberam conter o seu pensamento no umbral do
mistério, não substituindo Deus por ídolos de Deus". Por fim a teologia
apofatica é tudo aquilo que afirma o que Deus não é.
teologia catafatica
A teologia do pensamento positiva,
podemos dizer que não passa de meros atos simbólicos, pois ela apenas se aplica
aos atributos revelados, às manifestações de Deus no mundo. Esse conhecimento
de Deus nos seus atos traduz as suas "fanias" através do modo
inteligível, apresenta uma expressão calculada, simbólica, pois a realidade de
Deus é absolutamente original, irredutível a qualquer sistema de pensamento.
Assim Evagrio aconselha: "Aproximai-vos do Imaterial de uma maneira
imaterial". Da mesma forma, por exemplo, para Crisóstomo, a expressão
"à direita do Pai" nada tem de especial, mas exprime a identidade da
glória do Cristo com a do Pai. A teologia positiva assim não é desvalorizada,
mas determinada quanto à sua dimensão própria e aos seus limites.
Em compensação a teologia negativa
habitua à intransponível e salvadora distância. "Os conceitos criam os
ídolos de Deus", diz Gregório de Nissa, "só a admiração apreende
qualquer coisa". Os mistérios simples revelam-se para além de qualquer
conhecimento, para além mesmo de qualquer ignorância, nas trevas mais que luminosas
do silêncio. É uma aproximação das trevas, franja da inacessível luz divina,
mas que se encontra ao oposto do agnosticismo, pois graças a esta própria
ignorância, através de uma "intuição primordial e simples",
conhecemos para além de qualquer inteligência. A teologia negativa realiza um
ultrapassar, mas que nunca se desliga da sua base, a teologia positiva da
Revelação bíblica. Quanto mais alta é construída a vertical celeste, tanto mais
ela se encontra enraizada na horizontal terrestre da história.
Não se trata apenas da simples
impotência natural do homem, mas da profundidade indizível, radicalmente
transcendente da essência divina. Deus é misterioso, incognoscível pela sua
própria natureza. Ela constitui o único remédio para a insuficiência obrigando
a transcender-se. Eis por que ela não é um simples corretivo nem um apelo à
prudência, mas uma teologia autônoma. Os seus termos "hiper-bom" ou
"hiper-existente" são negações-afirmações e levam uma certa descrição
do Inconcebível situada na experiência geradora da unidade.
Quanto mais Deus é incognoscível na
transcendência da sua sobre essência mais ele é experimentável na sua
proximidade imanente enquanto Existente.
Quando o homem procura Deus, é ele que
é encontrado por Deus; quando ele procura a verdade divina, é ela que o
apreende e o transporta ao seu nível. "Encontrar Deus consiste em
procurá-Lo sem cessar... é verdadeiramente ver Deus sem nunca estar saciado de o
desejar". Ele é "o eternamente procurado" o zêtoumenos. Como
método, a apofase ensina a atitude correta de todo teólogo: o homem não
especula, mas transforma-se. É nesse estado de mudança contínua, de
"deificação" progressiva que o homem contempla pelos olhos da Pomba a
Mônada una e trina ao mesmo tempo e que "permanece escondida na sua
própria epifania".
TEOLOGIA DO PROCESSO
Os filósofos antigos desenvolveram seus sistemas em torno
da idéia de que o mundo era algo fixo, em que o ser incluía o porvir. Whitehead
desenvolveu seu sistema ao redor da idéia de que o mundo é dinâmico, estando
sempre em constante processo de transformação. Segundo ele, até Deus está
sujeito ao porvir (um conceito semelhante ao do teísmo aberto e da teologia da
esperança). A religião, para ele, “é a visão de algo que está além, atrás e
dentro do fluxo passageiro das coisas imediatas; algo que é real e ao mesmo
tempo espera por realizar-se, algo que é uma possibilidade remota e mesmo assim
é o maior de todos os atos presentes, possuí-la é o bem último, e mesmo assim,
está além do nosso alcance”. O legado kantiano, como se pode observar, está bem
latente na filosofia de Whitehead.
Harthshorne
desenvolveu ainda mais a filosofia de Whitehead e aplicou suas conclusões no
cenário teológico. Associado com teólogos radicais de língua inglesa como
Norman Pittenger, Daniel Day Willlians, Schubert Ogden e John Coob Jr., o grupo
está convencido que para responder à “Teologia da Morte de Deus”, devemos
demonstrar a realidade objetiva de Deus através de uma metafísica racional.
Nesse sentido, Whitehead lhes serve como ponto de partida. As idéias de Chardin
também são muito parecidas com a dos teólogos do processo, isso porque tanto
ele quanto Whitehead assimilam idéias evolucionistas.
Deus,
segundo a teologia do processo, “não é um ser, e sim uma força dinâmica por
detrás da evolução, emergindo sempre em tudo, tanto na história como na
natureza”. Com isso, a teologia do processo descaracteriza Deus, reduzindo-o a
um mero conceito panteísta. Assim como na filosofia kantiana, na teologia do
processo também há um grande apelo à autonomia e a liberdade humana. Os
teólogos do processo também comprometem a soberania de Deus. Deus, segundo
Whitehead, é “co-criador” do universo.
A
criação de Deus é um processo contínuo, uma coexistência de ordem e liberdade
na qual o homem participa para criar o futuro. Essa tendência teológica torna
injustificável a escatologia, pois uma vez que não há um Deus soberano e
onisciente, não há certeza alguma quanto aos eventos futuros. Desse modo, o
livro de apocalipse e as profecias bíblicas perdem todo o sentido.
Assim
como na teologia de Paul Tillich, a teologia do processo tende à dissipar a
idéia de Deus como ser pessoal, reduzindo Deus à uma força que existe como o
aspecto principal de todas as coisas, o que reduz o cristianismo bíblico a uma
mera versão panteísta de religião. Nas palavras de Hartshorne, o teólogo do
movimento, “Deus literalmente contém o universo”.
Ainda
que muitos teólogos do processo se neguem a admitir que descrevem Deus em
termos panteístas, em sua teologia o mundo se torna necessário para que Deus
exista. Além disso, o mundo também condiciona as atividades de Deus. Dessa
forma, o Deus pessoal da Bíblia que se auto-revela, fala e atua por conta
própria, e manifesta seus desígnios de forma inteligente, dentro da teologia do
processo é “uma sequência de experiências pessoalmente ordenada”, um conceito
mental tomado a partir de analogias da experiência humana.
Mesmo
que a teologia do processo tenta dar um “toque bíblico” em sua teologia, esse
biblicismo é apenas aparente. Como disse Carl Henry: “apesar de todo esforço,
[na teologia do processo] a criação se transforma em evolução, a redenção se
transforma em relação e a ressurreição se transforma em renovação. Há um
abandono do sobrenatural, os milagres desaparecem, e o Deus vivo da Bíblia fica
submerso em termos imanentes”. Como podemos ver, também na teologia do processo
há uma tendência em reinterpretar os milagres da Bíblia em termos existenciais.
Sua
cristologia também é bastante confusa. Cristo aparece mais como um “símbolo” da
atividade divina na terra do que como uma intervenção divina no curso desse
mundo. Ele é um homem em quem Deus atuou, mas suas conclusões o dissociam do
Deus encarnado.
A
doutrina da ressurreição, segundo os teólogos do processo, também é
insustentável porque tal ato seria uma coerção divina, uma intervenção direta
no livre-arbítrio humano. Um evento tal como esse acabaria por forçar nossa
vontade. Como se pode perceber, a teologia do processo está muito mais
fundamentada em hipóteses filosóficas do que naquilo que a Bíblia realmente
diz.
Ao
negar o conhecimento que Deus possa ter de fatos ainda não ocorridos, a
teologia do processo põe em risco a credibilidade das Escrituras, pois se Deus
não tem nenhum conhecimento dos fatos ainda não ocorridos, como pode fazer
predições sobre o futuro? A consequência lógica do seu sistema é que não pode
haver predição ‘cem por cento’ segura na Bíblia, pois parece altamente
improvável que um ser que não tenha presciência plena dos contingentes futuros
saiba o que acontecerá. A Bíblia na afirma categoricamente: “Deus não é homem para que minta”,
mas se Deus é ignorante em relação a grandes períodos da história futura, de
que maneira qualquer uma das profecias preditivas das Escrituras poderia ser
qualquer coisa além de probabilidades?
Em
fim, a teologia do processo aniquila a fé que o crente tem em Deus, e não
somente isso, mas também retira o próprio Deus Soberano do cenário e introduz
em seu lugar uma divindade caricata, impotente, panteísta e consequentemente,
finita.
Fontes: