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domingo, 21 de abril de 2013

Teologia Apofática, Catafática e do Processo


teologia APOFATICA
Tudo que nega Deus como o único ser onipotente, onipresente e onisciente é considerada teologia da negatividade. Por essa razão, sua definição exata seria "teologia apofática". Para Lossky, no entanto, chama-a "teologia mística". Não estaríamos aqui diante de uma incongruência? À primeira vista, parece que sim. Com efeito, o aspecto místico não consiste na "apofaticidade" (o que lhe permitiria dar à sua teologia o título de "mística", em virtude da identidade entre "mística" e "apofaticidade"),mas sim na experiência vivida. "O dogma, que exprime uma verdade revelada e nos aparece como um mistério insondável", e deve ser vivido por nós num processo no curso do qual ocorre que, ao invés de assimilarmos o mistério ao nosso modo de entender, nós atendemos a uma profunda mudança, uma transformação interior do nosso espírito, para nos tornarmos aptos para a experiência mística. Longe de se oporem, teologia e mística se apoiam e completam mutuamente. Uma é impossível sem a outra: se a experiência mística significa valorizar pessoalmente o conteúdo da fé comum, a teologia é a expressão, em proveito comum, daquilo que pode ser experimentado por cada um.
Se formos nos basear nesse texto, parece que a mística não tem nada a ver com a "apofaticidade": esta é definida como experiência, como assimilação pessoal dos mistérios da fé, como união com Deus, como incidência prática do conhecimento teológico. De fato, porém, a "apofaticidade" está incluída nessas definições, porque é exatamente a fé vivida dos mistérios que impede sua transformação em fórmulas abstratas, em simples teoremas, em artífices da razão, em idéias claras e distintas; é a experiência vivida que proclama sua inefabilidade.
Assim, a "apofaticidade" está implícita na mística e, portanto, dizer" teologia mística" e dizer" teologia apofática" é a mesma coisa, pois, ambas não passam de argumentos voltados para confundir pensamentos convictos de que existem um Deus e que Ele tem todo governo físico e celestial sob seu poder.
Na cristologia, o caráter apofático pode ser facilmente observado examinando-se a fórmula do Concílio de Calcedônia: "Com efeito, a união das duas naturezas é expressa por quatro definições negativas: asunkútos, atréptos, adiairétos, akorístos (sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem distinção). Nós conhecemos o fato da união das duas naturezas numa só pessoa, mas o 'como' dessa união continua sendo para nós um mistério fundado na distinção-identidade incompreensível da natureza e da pessoa". A atitude apofática também pode ser notada na multiplicidade de imagens usada para ilustrar a obra realizada por Cristo, obra incompreensível para os homens, segundo são Paulo: imagens como redenção, mediação, etc.
O "apofatismo" que está na origem de toda a teologia trinitária, encontra-se especialmente na base da teologia do Espírito Santo, ou seja, da pneumatologia. Com efeito, no caso da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, o ensinamento bíblico" já tem o caráter de uma tradição mais secreta, menos revelada, em lugar da manifestação refulgente do Filho, proclamada pela Igreja até os confins do universo". "O Espírito Santo permanece não-manifestado enquanto pessoa, permanece escondido, dissimulando-se no seu próprio aparecimento".
Concluindo, "o 'apofatismo' é expressão de uma atitude de fundo que faz da teologia em geral uma contemplação dos mistérios da Revelação e não um ramo da teologia, um capítulo, uma introdução inevitável sobre a incognoscibilidade de Deus, depois da qual passa-se tranquilamente à razão humana, à filo comum. O 'apofatismo' nos ensina a ver nos dogmas da Igreja antes de mais nada um sentido negativo, um veto a que nosso pensamento siga os seus caminhos naturais e forme conceitos que substituiriam as realidades espirituais. O cristianismo não é uma escola filosófica que especula com conceitos abstratos, mas é antes de mais nada uma comunhão com Deus vivo. Foi por essa razão que os fiéis ao princípio apofático da teologia, apesar de toda a sua cultura filosófica e suas inclinações naturais para a especulação, souberam conter o seu pensamento no umbral do mistério, não substituindo Deus por ídolos de Deus". Por fim a teologia apofatica é tudo aquilo que afirma o que Deus não é. 

teologia catafatica
A teologia do pensamento positiva, podemos dizer que não passa de meros atos simbólicos, pois ela apenas se aplica aos atributos revelados, às manifestações de Deus no mundo. Esse conhecimento de Deus nos seus atos traduz as suas "fanias" através do modo inteligível, apresenta uma expressão calculada, simbólica, pois a realidade de Deus é absolutamente original, irredutível a qualquer sistema de pensamento. Assim Evagrio aconselha: "Aproximai-vos do Imaterial de uma maneira imaterial". Da mesma forma, por exemplo, para Crisóstomo, a expressão "à direita do Pai" nada tem de especial, mas exprime a identidade da glória do Cristo com a do Pai. A teologia positiva assim não é desvalorizada, mas determinada quanto à sua dimensão própria e aos seus limites.
Em compensação a teologia negativa habitua à intransponível e salvadora distância. "Os conceitos criam os ídolos de Deus", diz Gregório de Nissa, "só a admiração apreende qualquer coisa". Os mistérios simples revelam-se para além de qualquer conhecimento, para além mesmo de qualquer ignorância, nas trevas mais que luminosas do silêncio. É uma aproximação das trevas, franja da inacessível luz divina, mas que se encontra ao oposto do agnosticismo, pois graças a esta própria ignorância, através de uma "intuição primordial e simples", conhecemos para além de qualquer inteligência. A teologia negativa realiza um ultrapassar, mas que nunca se desliga da sua base, a teologia positiva da Revelação bíblica. Quanto mais alta é construída a vertical celeste, tanto mais ela se encontra enraizada na horizontal terrestre da história.
Não se trata apenas da simples impotência natural do homem, mas da profundidade indizível, radicalmente transcendente da essência divina. Deus é misterioso, incognoscível pela sua própria natureza. Ela constitui o único remédio para a insuficiência obrigando a transcender-se. Eis por que ela não é um simples corretivo nem um apelo à prudência, mas uma teologia autônoma. Os seus termos "hiper-bom" ou "hiper-existente" são negações-afirmações e levam uma certa descrição do Inconcebível situada na experiência geradora da unidade.
Quanto mais Deus é incognoscível na transcendência da sua sobre essência mais ele é experimentável na sua proximidade imanente enquanto Existente.
Quando o homem procura Deus, é ele que é encontrado por Deus; quando ele procura a verdade divina, é ela que o apreende e o transporta ao seu nível. "Encontrar Deus consiste em procurá-Lo sem cessar... é verdadeiramente ver Deus sem nunca estar saciado de o desejar". Ele é "o eternamente procurado" o zêtoumenos. Como método, a apofase ensina a atitude correta de todo teólogo: o homem não especula, mas transforma-se. É nesse estado de mudança contínua, de "deificação" progressiva que o homem contempla pelos olhos da Pomba a Mônada una e trina ao mesmo tempo e que "permanece escondida na sua própria epifania".

TEOLOGIA DO PROCESSO
             De origem norte-americana, essa nova escola teológica tem como seu maior expositor o professor Dr. Charles Hartshorne, da Universidade de Chicago. A teologia do processo (a teologia do deus finito) como escola teológica é uma tentativa de restabelecer a doutrina de Deus em um mundo extremamente cético. Assim como as outras teologias radicais surgidas no século vinte, a teologia do processo também toma por empréstimo alguns pressupostos de uma vertente filosófica contemporânea, a saber, a filosofia do processo, elaborada pelo famoso matemático e filósofo, Alfred North Whitehead (1861-1947), que por sua vez, elaborou sua filosofia em torno de algumas idéias de Charles Darwin.
            Os filósofos antigos desenvolveram seus sistemas em torno da idéia de que o mundo era algo fixo, em que o ser incluía o porvir. Whitehead desenvolveu seu sistema ao redor da idéia de que o mundo é dinâmico, estando sempre em constante processo de transformação. Segundo ele, até Deus está sujeito ao porvir (um conceito semelhante ao do teísmo aberto e da teologia da esperança). A religião, para ele, “é a visão de algo que está além, atrás e dentro do fluxo passageiro das coisas imediatas; algo que é real e ao mesmo tempo espera por realizar-se, algo que é uma possibilidade remota e mesmo assim é o maior de todos os atos presentes, possuí-la é o bem último, e mesmo assim, está além do nosso alcance”. O legado kantiano, como se pode observar, está bem latente na filosofia de Whitehead.
            Harthshorne desenvolveu ainda mais a filosofia de Whitehead e aplicou suas conclusões no cenário teológico.  Associado com teólogos radicais de língua inglesa como Norman Pittenger, Daniel Day Willlians, Schubert Ogden e John Coob Jr., o grupo está convencido que para responder à “Teologia da Morte de Deus”, devemos demonstrar a realidade objetiva de Deus através de uma metafísica racional. Nesse sentido, Whitehead lhes serve como ponto de partida. As idéias de Chardin também são muito parecidas com a dos teólogos do processo, isso porque tanto ele quanto Whitehead assimilam idéias evolucionistas.
            Deus, segundo a teologia do processo, “não é um ser, e sim uma força dinâmica por detrás da evolução, emergindo sempre em tudo, tanto na história como na natureza”. Com isso, a teologia do processo descaracteriza Deus, reduzindo-o a um mero conceito panteísta. Assim como na filosofia kantiana, na teologia do processo também há um grande apelo à autonomia e a liberdade humana. Os teólogos do processo também comprometem a soberania de Deus. Deus, segundo Whitehead, é “co-criador” do universo.
            A criação de Deus é um processo contínuo, uma coexistência de ordem e liberdade na qual o homem participa para criar o futuro. Essa tendência teológica torna injustificável a escatologia, pois uma vez que não há um Deus soberano e onisciente, não há certeza alguma quanto aos eventos futuros. Desse modo, o livro de apocalipse e as profecias bíblicas perdem todo o sentido.
            Assim como na teologia de Paul Tillich, a teologia do processo tende à dissipar a idéia de Deus como ser pessoal, reduzindo Deus à uma força que existe como o aspecto principal de todas as coisas, o que reduz o cristianismo bíblico a uma mera versão panteísta de religião. Nas palavras de Hartshorne, o teólogo do movimento, “Deus literalmente contém o universo”.
            Ainda que muitos teólogos do processo se neguem a admitir que descrevem Deus em termos panteístas, em sua teologia o mundo se torna necessário para que Deus exista. Além disso, o mundo também condiciona as atividades de Deus. Dessa forma, o Deus pessoal da Bíblia que se auto-revela, fala e atua por conta própria, e manifesta seus desígnios de forma inteligente, dentro da teologia do processo é “uma sequência de experiências pessoalmente ordenada”, um conceito mental tomado a partir de analogias da experiência humana.
            Mesmo que a teologia do processo tenta dar um “toque bíblico” em sua teologia, esse biblicismo é apenas aparente. Como disse Carl Henry: “apesar de todo esforço, [na teologia do processo] a criação se transforma em evolução, a redenção se transforma em relação e a ressurreição se transforma em renovação. Há um abandono do sobrenatural, os milagres desaparecem, e o Deus vivo da Bíblia fica submerso em termos imanentes”. Como podemos ver, também na teologia do processo há uma tendência em reinterpretar os milagres da Bíblia em termos existenciais.
            Sua cristologia também é bastante confusa. Cristo aparece mais como um “símbolo” da atividade divina na terra do que como uma intervenção divina no curso desse mundo. Ele é um homem em quem Deus atuou, mas suas conclusões o dissociam do Deus encarnado.
            A doutrina da ressurreição, segundo os teólogos do processo, também é insustentável porque tal ato seria uma coerção divina, uma intervenção direta no livre-arbítrio humano. Um evento tal como esse acabaria por forçar nossa vontade. Como se pode perceber, a teologia do processo está muito mais fundamentada em hipóteses filosóficas do que naquilo que a Bíblia realmente diz.
            Ao negar o conhecimento que Deus possa ter de fatos ainda não ocorridos, a teologia do processo põe em risco a credibilidade das Escrituras, pois se Deus não tem nenhum conhecimento dos fatos ainda não ocorridos, como pode fazer predições sobre o futuro? A consequência lógica do seu sistema é que não pode haver predição ‘cem por cento’ segura na Bíblia, pois parece altamente improvável que um ser que não tenha presciência plena dos contingentes futuros saiba o que acontecerá. A Bíblia na afirma categoricamente: “Deus não é homem para que minta”, mas se Deus é ignorante em relação a grandes períodos da história futura, de que maneira qualquer uma das profecias preditivas das Escrituras poderia ser qualquer coisa além de probabilidades?
            Em fim, a teologia do processo aniquila a fé que o crente tem em Deus, e não somente isso, mas também retira o próprio Deus Soberano do cenário e introduz em seu lugar uma divindade caricata, impotente, panteísta e consequentemente, finita.


Fontes: