»LUCAS [1]
1 Visto que muitos têm
empreendido fazer uma narração coordenada dos fatos que entre nós se
realizaram,
2 segundo no-los transmitiram
os que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra,
3 também a mim, depois de haver
investido tudo cuidadosamente desde o começo, pareceu-me bem, ó excelentíssimo
Teófilo, escrever-te uma narração em ordem.
4 para que conheças
plenamente a verdade das coisas em que foste instruído.
5 Houve nos dias do Rei
Herodes, rei da Judéia, um sacerdote chamado Zacarias, da turma de Abias; e sua
mulher era descendente de Arão, e chamava-se Isabel.
6 Ambos eram justos diante de
Deus, andando irrepreensíveis em todos os mandamentos e preceitos do Senhor.
7 Mas não tinham filhos,
porque Isabel era estéril, e ambos avançados em idade.
8 Ora, estando ele a exercer
as funções sacerdotais perante Deus, na ordem da sua turma,
9 segundo o costume do
sacerdócio, coube-lhe por sorte entrar no santuário do Senhor, para oferecer o
incenso;
10 e toda a multidão do povo
orava da parte de fora, à hora do incenso.
11 Apareceu-lhe, então, um
anjo do Senhor, em pé à direita do altar do incenso.
12 E Zacarias, vendo-o, ficou
turbado, e o temor o assaltou.
13 Mas o anjo lhe disse: Não
temais, Zacarias; porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, te dará
à luz um filho, e lhe porás o nome de João;
14 e terás alegria e
regozijo, e muitos se alegrarão com o seu nascimento;
15 porque ele será grande
diante do Senhor; não beberá vinho, nem bebida forte; e será cheio do Espírito
Santo já desde o ventre de sua mãe;
16 converterá muitos dos
filhos de Israel ao Senhor seu Deus;
17 irá adiante dele no
espírito e poder de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os
rebeldes à prudência dos justos, a fim de preparar para o Senhor um povo
apercebido.
18 Disse então Zacarias ao
anjo: Como terei certeza disso? pois eu sou velho, e minha mulher também está
avançada em idade.
19 Ao que lhe respondeu o
anjo: Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para te falar e
te dar estas boas novas;
20 e eis que ficarás mudo, e
não poderás falar até o dia em que estas coisas aconteçam; porquanto não creste
nas minhas palavras, que a seu tempo hão de cumprir-se.
21 O povo estava esperando
Zacarias, e se admirava da sua demora no santuário.
22 Quando saiu, porém, não
lhes podia falar, e perceberam que tivera uma visão no santuário. E falava-lhes
por acenos, mas permanecia mudo.
23 E, terminados os dias do
seu ministério, voltou para casa.
24 Depois desses dias Isabel,
sua mulher, concebeu, e por cinco meses se ocultou, dizendo:
25 Assim me fez o Senhor nos
dias em que atentou para mim, a fim de acabar com o meu opróbrio diante dos
homens.
26 Ora, no sexto mês, foi o
anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré,
27 a uma virgem desposada com
um varão cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria.
28 E, entrando o anjo onde
ela estava disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo.
29 Ela, porém, ao ouvir estas
palavras, turbou-se muito e pôs-se a pensar que saudação seria essa.
30 Disse-lhe então o anjo:
Não temas, Maria; pois achaste graça diante de Deus.
31 Eis que conceberás e darás
à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus.
32 Este será grande e será
chamado filho do Altíssimo; o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi seu pai;
33 e reinará eternamente
sobre a casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.
34 Então Maria perguntou ao
anjo: Como se fará isso, uma vez que não conheço varão?
35 Respondeu-lhe o anjo: Virá
sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra;
por isso o que há de nascer será chamado santo, Filho de Deus.
36 Eis que também Isabel, tua
parenta concebeu um filho em sua velhice; e é este o sexto mês para aquela que
era chamada estéril;
37 porque para Deus nada será
impossível.
38 Disse então Maria. Eis
aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo
ausentou-se dela.
39 Naqueles dias levantou-se
Maria, foi apressadamente à região montanhosa, a uma cidade de Judá,
40 entrou em casa de Zacarias
e saudou a Isabel.
41 Ao ouvir Isabel a saudação
de Maria, saltou a criancinha no seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito
Santo,
42 e exclamou em alta voz:
Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre!
43 E donde me provém isto,
que venha visitar-me a mãe do meu Senhor?
44 Pois logo que me soou aos
ouvidos a voz da tua saudação, a criancinha saltou de alegria dentro de mim.
45 Bem-aventurada aquela que
creu que se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor lhe foram ditas.
46 Disse então Maria: A minha
alma engrandece ao Senhor,
47 e o meu espírito exulta em
Deus meu Salvador;
48 porque atentou na condição
humilde de sua serva. Desde agora, pois, todas as gerações me chamarão bem-aventurada,
49 porque o Poderoso me fez
grandes coisas; e santo é o seu nome.
50 E a sua misericórdia vai
de geração em geração sobre os que o temem.
51 Com o seu braço manifestou
poder; dissipou os que eram soberbos nos pensamentos de seus corações;
52 depôs dos tronos os
poderosos, e elevou os humildes.
53 Aos famintos encheu de
bens, e vazios despediu os ricos.
54 Auxiliou a Isabel, seu
servo, lembrando-se de misericórdia
55 (como falou a nossos pais)
para com Abraão e a sua descendência para sempre.
56 E Maria ficou com ela
cerca de três meses; e depois voltou para sua casa.
57 Ora, completou-se para
Isabel o tempo de dar à luz, e teve um filho.
58 Ouviram seus vizinhos e
parentes que o Senhor lhe multiplicara a sua misericórdia, e se alegravam com
ela.
59 Sucedeu, pois, no oitavo
dia, que vieram circuncidar o menino; e queriam dar-lhe o nome de seu pai,
Zacarias.
60 Respondeu, porém, sua mãe:
De modo nenhum, mas será chamado João.
61 Ao que lhe disseram:
Ninguém há na tua parentela que se chame por este nome.
62 E perguntaram por acenos
ao pai como queria que se chamasse.
63 E pedindo ele uma
tabuinha, escreveu: Seu nome é João. E todos se admiraram.
64 Imediatamente a boca se
lhe abriu, e a língua se lhe soltou; louvando a Deus.
65 Então veio temor sobre
todos os seus vizinhos; e em toda a região montanhosa da Judéia foram
divulgadas todas estas coisas.
66 E todos os que delas
souberam as guardavam no coração, dizendo: Que virá a ser, então, este menino?
Pois a mão do Senhor estava com ele.
67 Zacarias, seu pai, ficou
cheio do Espírito Santo e profetizou, dizendo:
68 Bendito, seja o Senhor
Deus de Israel, porque visitou e remiu o seu povo,
69 e para nós fez surgir uma
salvação poderosa na casa de Davi, seu servo;
70 assim como desde os tempos
antigos tem anunciado pela boca dos seus santos profetas;
71 para nos livrar dos nossos
inimigos e da mão de todos os que nos odeiam;
72 para usar de misericórdia
com nossos pais, e lembrar-se do seu santo pacto
73 e do juramento que fez a
Abrão, nosso pai,
74 de conceder-nos que,
libertados da mão de nossos inimigos, o servíssemos sem temor,
75 em santidade e justiça
perante ele, todos os dias da nossa vida.
76 E tu, menino, serás
chamado profeta do Altíssimo, porque irás ante a face do Senhor, a preparar os
seus caminhos;
77 para dar ao seu povo
conhecimento da salvação, na remissão dos seus pecados,
78 graças à entrenhável
misericórdia do nosso Deus, pela qual nos há de visitar a aurora lá do alto,
79 para alumiar aos que jazem
nas trevas e na sombra da morte, a fim de dirigir os nossos pés no caminho da
paz.
80 Ora, o menino crescia, e
se robustecia em espírito; e habitava nos desertos até o dia da sua
manifestação a Israel.
»LUCAS [2]
1 Naqueles dias saiu um
decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo fosse recenseado.
2 Este primeiro recenseamento
foi feito quando Quirínio era governador da Síria.
3 E todos iam alistar-se,
cada um à sua própria cidade.
4 Subiu também José, da
Galiléia, da cidade de Nazaré, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da
casa e família de Davi,
5 a fim de alistar-se com
Maria, sua esposa, que estava grávida.
6 Enquanto estavam ali,
chegou o tempo em que ela havia de dar à luz,
7 e teve a seu filho
primogênito; envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, porque não
havia lugar para eles na estalagem.
8 Ora, havia naquela mesma
região pastores que estavam no campo, e guardavam durante as vigílias da noite
o seu rebanho.
9 E um anjo do Senhor
apareceu-lhes, e a glória do Senhor os cercou de resplendor; pelo que se
encheram de grande temor.
10 O anjo, porém, lhes disse:
Não temais, porquanto vos trago novas de grande alegria que o será para todo o
povo:
11 É que vos nasceu hoje, na
cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
12 E isto vos será por sinal:
Achareis um menino envolto em faixas, e deitado em uma manjedoura.
13 Então, de repente,
apareceu junto ao anjo grande multidão da milícia celestial, louvando a Deus e
dizendo:
14 Glória a Deus nas maiores
alturas, e paz na terra entre os homens de boa vontade.
15 E logo que os anjos se
retiraram deles para o céu, diziam os pastores uns aos outros: Vamos já até
Belém, e vejamos isso que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer.
16 Foram, pois, a toda a
pressa, e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura;
17 e, vendo-o, divulgaram a
palavra que acerca do menino lhes fora dita;
18 e todos os que a ouviram
se admiravam do que os pastores lhes diziam.
19 Maria, porém, guardava
todas estas coisas, meditando-as em seu coração.
20 E voltaram os pastores,
glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes
fora dito.
21 Quando se completaram os
oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que
pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido.
22 Terminados os dias da
purificação, segundo a lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém, para apresentá-lo
ao Senhor
23 (conforme está escrito na
lei do Senhor: Todo primogênito será consagrado ao Senhor),
24 e para oferecerem um
sacrifício segundo o disposto na lei do Senhor: um par de rolas, ou dois
pombinhos.
25 Ora, havia em Jerusalém um
homem cujo nome era Simeão; e este homem, justo e temente a Deus, esperava a
consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele.
26 E lhe fora revelado pelo
Espírito Santo que ele não morreria antes de ver o Cristo do Senhor.
27 Assim pelo Espírito foi ao
templo; e quando os pais trouxeram o menino Jesus, para fazerem por ele segundo
o costume da lei,
28 Simeão o tomou em seus
braços, e louvou a Deus, e disse:
29 Agora, Senhor, despedes em
paz o teu servo, segundo a tua palavra;
30 pois os meus olhos já
viram a tua salvação,
31 a qual tu preparaste ante
a face de todos os povos;
32 luz para revelação aos
gentios, e para glória do teu povo Israel.
33 Enquanto isso, seu pai e
sua mãe se admiravam das coisas que deles se diziam.
34 E Simeão os abençoou, e
disse a Maria, mãe do menino: Eis que este é posto para queda e para
levantamento de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição,
35 sim, e uma espada
traspassará a tua própria alma, para que se manifestem os pensamentos de muitos
corações.
36 Havia também uma
profetisa, Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era já avançada em idade,
tendo vivido com o marido sete anos desde a sua virgindade;
37 e era viúva, de quase
oitenta e quatro anos. Não se afastava do templo, servindo a Deus noite e dia
em jejuns e orações.
38 Chegando ela na mesma
hora, deu graças a Deus, e falou a respeito do menino a todos os que esperavam
a redenção de Jerusalém.
39 Assim que cumpriram tudo
segundo a lei do Senhor, voltaram à Galiléia, para sua cidade de Nazaré.
40 E o menino ia crescendo e
fortalecendo-se, ficando cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre
ele.
41 Ora, seus pais iam todos
os anos a Jerusalém, à festa da páscoa.
42 Quando Jesus completou
doze anos, subiram eles segundo o costume da festa;
43 e, terminados aqueles
dias, ao regressarem, ficou o menino Jesus em Jerusalém sem o saberem seus
pais;
44 julgando, porém, que
estivesse entre os companheiros de viagem, andaram caminho de um dia, e o
procuravam entre os parentes e conhecidos;
45 e não o achando, voltaram
a Jerusalém em busca dele.
46 E aconteceu que, passados
três dias, o acharam no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os, e
interrogando-os.
47 E todos os que o ouviam se
admiravam da sua inteligência e das suas respostas.
48 Quando o viram, ficaram
maravilhados, e disse-lhe sua mãe: Filho, por que procedeste assim para
conosco? Eis que teu pai e eu ansiosos te procurávamos.
49 Respondeu-lhes ele: Por
que me procuráveis? Não sabíeis que eu devia estar na casa de meu Pai?
50 Eles, porém, não
entenderam as palavras que lhes dissera.
51 Então, descendo com eles,
foi para Nazaré, e era-lhes sujeito. E sua mãe guardava todas estas coisas em
seu coração.
52 E crescia Jesus em
sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens.
»LUCAS [3]
1 No décimo quinto ano do
reinado de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judéia, Herodes
tetrarca da Galiléia, seu irmão Filipe tetrarca da região da Ituréia e de
Traconites, e Lisânias tetrarca de Abilene,
2 sendo Anás e Caifás sumos
sacerdotes, veio a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto.
3 E ele percorreu toda a
circunvizinhança do Jordão, pregando o batismo de arrependimento para remissão
de pecados;
4 como está escrito no livro
das palavras do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho
do Senhor; endireitai as suas veredas.
5 Todo vale se encherá, e se
abaixará todo monte e outeiro; o que é tortuoso se endireitará, e os caminhos
escabrosos se aplanarão;
6 e toda a carne verá a
salvação de Deus.
7 João dizia, pois, às
multidões que saíam para ser batizadas por ele: Raça de víboras, quem vos
ensina a fugir da ira vindoura?
8 Produzi, pois, frutos
dignos de arrependimento; e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos por pai a
Abrão; porque eu vos digo que até destas pedras Deus pode suscitar filhos a
Abrão.
9 Também já está posto o
machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada
e lançada no fogo.
10 Ao que lhe perguntavam as
multidões: Que faremos, pois?
11 Respondia-lhes então:
Aquele que tem duas túnicas, reparta com o que não tem nenhuma, e aquele que
tem alimentos, faça o mesmo.
12 Chegaram também uns
publicanos para serem batizados, e perguntaram-lhe: Mestre, que havemos nós de
fazer?
13 Respondeu-lhes ele: Não
cobreis além daquilo que vos foi prescrito.
14 Interrogaram-no também uns
soldados: E nós, que faremos? Disse-lhes: A ninguém queirais extorquir coisa
alguma; nem deis denúncia falsa; e contentai-vos com o vosso soldo.
15 Ora, estando o povo em
expectativa e arrazoando todos em seus corações a respeito de João, se
porventura seria ele o Cristo,
16 respondeu João a todos,
dizendo: Eu, na verdade, vos batizo em água, mas vem aquele que é mais poderoso
do que eu, de quem não sou digno de desatar a correia das alparcas; ele vos
batizará no Espírito Santo e em fogo.
17 A sua pá ele tem na mão
para limpar bem a sua eira, e recolher o trigo ao seu celeiro; mas queimará a palha
em fogo inextinguível.
18 Assim pois, com muitas
outras exortações ainda, anunciava o evangelho ao povo.
19 Mas o tetrarca Herodes,
sendo repreendido por ele por causa de Herodias, mulher de seu irmão, e por
todas as maldades que havia feito,
20 acrescentou a todas elas
ainda esta, a de encerrar João no cárcere.
21 Quando todo o povo fora
batizado, tendo sido Jesus também batizado, e estando ele a orar, o céu se
abriu;
22 e o Espírito Santo desceu
sobre ele em forma corpórea, como uma pomba; e ouviu-se do céu esta voz: Tu és
o meu Filho amado; em ti me comprazo.
23 Ora, Jesus, ao começar o
seu ministério, tinha cerca de trinta anos; sendo (como se cuidava) filho de
José, filho de Eli;
24 Eli de Matate, Matate de
Levi, Levi de Melqui, Melqui de Janai, Janai de José,
25 José de Matatias, Matatias
de Amós, Amós de Naum, Naum de Esli, Esli de Nagai,
26 Nagai de Maate, Maate de
Matatias, Matatias de Semei, Semei de Joseque, Joseque de Jodá,
27 Jodá de Joanã, Joanã de
Resa, Resa de Zorobabel, Zorobabel de Salatiel, Salatiel de Neri,
28 Neri de Melqui, Melqui de
Adi, Adi de Cosão, Cosão de Elmodã, Elmodão de Er,
29 Er de Josué, Josué de
Eliézer, Eliézer de Jorim, Jorim de Matate, Matate de Levi,
30 Levi de Simeão, Simeão de
Judá, Judá de José, José de Jonã, Jonã de Eliaquim,
31 Eliaquim de Meleá, Meleá
de Mená, Mená de Matatá, Matatá de Natã, Natã de Davi,
32 Davi de Jessé, Jessé de
Obede, Obede de Boaz, Boaz de Salá, Salá de Nasom,
33 Nasom de Aminadabe,
Aminadabe de Admim, Admim de Arni, Arni de Esrom, Esrom de Farés, Farés de
Judá,
34 Judá de Jacó, Jacó de
Isaque, Isaque de Abraão, Abraão de Tará, Tará de Naor,
35 Naor de Seruque, Seruque
de Ragaú, Ragaú de Faleque, Faleque de Eber, Eber de Salá,
36 Salá de Cainã, Cainã de
Arfaxade, Arfaxade de Sem, Sem de Noé, Noé de Lameque,
37 Lameque de Matusalém,
Matusalém de Enoque, Enoque de Jarede, Jarede de Maleleel, Maleleel de Cainã,
38 Cainã de Enos, Enos de
Sete, Sete de Adão, e Adão de Deus.
»LUCAS [4]
1 Jesus, pois, cheio do
Espírito Santo, voltou do Jordão; e era levado pelo Espírito no deserto,
2 durante quarenta dias,
sendo tentado pelo Diabo. E naqueles dias não comeu coisa alguma; e terminados
eles, teve fome.
3 Disse-lhe então o Diabo: Se
tu és Filho de Deus, manda a esta pedra que se torne em pão.
4 Jesus, porém, lhe
respondeu: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem.
5 Então o Diabo, levando-o a
um lugar elevado, mostrou-lhe num relance todos os reinos do mundo.
6 E disse-lhe: Dar-te-ei toda
a autoridade e glória destes reinos, porque me foi entregue, e a dou a quem eu
quiser;
7 se tu, me adorares, será
toda tua.
8 Respondeu-lhe Jesus: Está
escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás.
9 Então o levou a Jerusalém e
o colocou sobre o pináculo do templo e lhe disse: Se tu és Filho de Deus, lança-te
daqui abaixo;
10 porque está escrito: Aos
seus anjos ordenará a teu respeito, que te guardem;
11 e: eles te susterão nas
mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra.
12 Respondeu-lhe Jesus: Dito
está: Não tentarás o Senhor teu Deus.
13 Assim, tendo o Diabo
acabado toda sorte de tentação, retirou-se dele até ocasião oportuna.
14 Então voltou Jesus para a
Galiléia no poder do Espírito; e a sua fama correu por toda a circunvizinhança.
15 Ensinava nas sinagogas
deles, e por todos era louvado.
16 Chegando a Nazaré, onde
fora criado; entrou na sinagoga no dia de sábado, segundo o seu costume, e
levantou-se para ler.
17 Foi-lhe entregue o livro
do profeta Isaías; e abrindo-o, achou o lugar em que estava escrito:
18 O Espírito do Senhor está
sobre mim, porquanto me ungiu para anunciar boas novas aos pobres; enviou-me
para proclamar libertação aos cativos, e restauração da vista aos cegos, para
pôr em liberdade os oprimidos,
19 e para proclamar o ano
aceitável do Senhor.
20 E fechando o livro,
devolveu-o ao assistente e sentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam
fitos nele.
21 Então começou a
dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta escritura aos vossos ouvidos.
22 E todos lhe davam
testemunho, e se admiravam das palavras de graça que saíam da sua boca; e
diziam: Este não é filho de José?
23 Disse-lhes Jesus: Sem
dúvida me direis este provérbio: Médico, cura-te a ti mesmo; Tudo o que ouvimos
teres feito em Cafarnaum, faze-o também aqui na tua terra.
24 E prosseguiu: Em verdade
vos digo que nenhum profeta é aceito na sua terra.
25 Em verdade vos digo que
muitas viúvas havia em Israel nos dias de Elias, quando céu se fechou por três
anos e seis meses, de sorte que houve grande fome por toda a terra;
26 e a nenhuma delas foi
enviado Elias, senão a uma viúva em Serepta de Sidom.
27 Também muitos leprosos
havia em Israel no tempo do profeta Elizeu, mas nenhum deles foi purificado
senão Naamã, o sírio.
28 Todos os que estavam na
sinagoga, ao ouvirem estas coisas, ficaram cheios de ira.
29 e, levantando-se,
expulsaram-no da cidade e o levaram até o despenhadeiro do monte em que a sua
cidade estava edificada, para dali o precipitarem.
30 Ele, porém, passando pelo
meio deles, seguiu o seu caminho.
31 Então desceu a Cafarnaum,
cidade da Galiléia, e os ensinava no sábado.
32 e maravilharam-se da sua
doutrina, porque a sua palavra era com autoridade.
33 Havia na sinagoga um homem
que tinha o espírito de um demônio imundo; e gritou em alta voz:
34 Ah! que temos nós contigo,
Jesus, nazareno? vieste destruir-nos? Bem sei quem é: o Santo de Deus.
35 Mas Jesus o repreendeu,
dizendo: Cala-te, e sai dele. E o demônio, tendo-o lançado por terra no meio do
povo, saiu dele sem lhe fazer mal algum.
36 E veio espanto sobre
todos, e falavam entre si, perguntando uns aos outros: Que palavra é esta, pois
com autoridade e poder ordena aos espíritos imundos, e eles saem?
37 E se divulgava a sua fama
por todos os lugares da circunvizinhança.
38 Ora, levantando-se Jesus,
saiu da sinagoga e entrou em casa de Simão; e estando a sogra de Simão enferma com
muita febre, rogaram-lhe por ela.
39 E ele, inclinando-se para
ela, repreendeu a febre, e esta a deixou. Imediatamente ela se levantou e os
servia.
40 Ao pôr do sol, todos os
que tinham enfermos de várias doenças lhos traziam; e ele punha as mãos sobre
cada um deles e os curava.
41 Também de muitos saíam
demônios, gritando e dizendo: Tu és o Filho de Deus. Ele, porém, os repreendia,
e não os deixava falar; pois sabiam que ele era o Cristo.
42 Ao romper do dia saiu, e
foi a um lugar deserto; e as multidões procuravam-no e, vindo a ele, queriam
detê-lo, para que não se ausentasse delas.
43 Ele, porém, lhes disse: É
necessário que também às outras cidades eu anuncie o evangelho do reino de
Deus; porque para isso é que fui enviado.
44 E pregava nas sinagogas da
Judéia.
»LUCAS [5]
1 Certa vez, quando a
multidão apertava Jesus para ouvir a palavra de Deus, ele estava junto ao lago
de Genezaré;
2 e viu dois barcos junto à
praia do lago; mas os pescadores haviam descido deles, e estavam lavando as
redes.
3 Entrando ele num dos
barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra; e,
sentando-se, ensinava do barco as multidões.
4 Quando acabou de falar,
disse a Simão: Faze-te ao largo e lançai as vossas redes para a pesca.
5 Ao que disse Simão: Mestre,
trabalhamos a noite toda, e nada apanhamos; mas, sobre tua palavra, lançarei as
redes.
6 Feito isto, apanharam uma
grande quantidade de peixes, de modo que as redes se rompiam.
7 Acenaram então aos
companheiros que estavam no outro barco, para virem ajudá-los. Eles, pois,
vieram, e encheram ambos os barcos, de maneira tal que quase iam a pique.
8 Vendo isso Simão Pedro,
prostrou-se aos pés de Jesus, dizendo: Retira-te de mim, Senhor, porque sou um
homem pecador.
9 Pois, à vista da pesca que
haviam feito, o espanto se apoderara dele e de todos os que com ele estavam,
10 bem como de Tiago e João,
filhos de Zebedeu, que eram sócios de Simão. Disse Jesus a Simão: Não temas; de
agora em diante serás pescador de homens.
11 E, levando eles os barcos
para a terra, deixaram tudo e o seguiram.
12 Estando ele numa das
cidades, apareceu um homem cheio de lepra que, vendo a Jesus, prostrou-se com o
rosto em terra e suplicou-lhe: Senhor, se quiseres, bem podes tornar-me limpo.
13 Jesus, pois, estendendo a
mão, tocou-lhe, dizendo: Quero; sê limpo. No mesmo instante desapareceu dele a
lepra.
14 Ordenou-lhe, então, que a
ninguém contasse isto. Mas vai, disse ele, mostra-te ao sacerdote e faze a
oferta pela tua purificação, conforme Moisés determinou, para lhes servir de
testemunho.
15 A sua fama, porém, se
divulgava cada vez mais, e grandes multidões se ajuntavam para ouvi-lo e serem
curadas das suas enfermidades.
16 Mas ele se retirava para
os desertos, e ali orava.
17 Um dia, quando ele estava
ensinando, achavam-se ali sentados fariseus e doutores da lei, que tinham vindo
de todas as aldeias da Galiléia e da Judéia, e de Jerusalém; e o poder do
Senhor estava com ele para curar.
18 E eis que uns homens,
trazendo num leito um paralítico, procuravam introduzi-lo e pô-lo diante dele.
19 Mas, não achando por onde
o pudessem introduzir por causa da multidão, subiram ao eirado e, por entre as
telhas, o baixaram com o leito, para o meio de todos, diante de Jesus.
20 E vendo-lhes a fé, disse
ele: Homem, são-te perdoados os teus pecados.
21 Então os escribas e os
fariseus começaram a arrazoar, dizendo: Quem é este que profere blasfêmias?
Quem é este que profere blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão só Deus?
22 Jesus, porém, percebendo
os seus pensamentos, respondeu, e disse-lhes: Por que arrazoais em vossos
corações?
23 Qual é mais fácil? dizer:
São-te perdoados os teus pecados; ou dizer: Levanta-te, e anda?
24 Ora, para que saibais que
o Filho do homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados (disse ao
paralítico), a ti te digo: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa.
25 Imediatamente se levantou
diante deles, tomou o leito em que estivera deitado e foi para sua casa,
glorificando a Deus.
26 E, tomados de pasmo, todos
glorificavam a Deus; e diziam, cheios de temor: Hoje vimos coisas
extraordinárias.
27 Depois disso saiu e, vendo
um publicano chamado Levi, sentado na coletoria, disse-lhe: Segue-me.
28 Este, deixando tudo,
levantou-se e o seguiu.
29 Deu-lhe então Levi um
lauto banquete em sua casa; havia ali grande número de publicanos e outros que
estavam com eles à mesa.
30 Murmuravam, pois, os
fariseus e seus escribas contra os discípulos, perguntando: Por que comeis e
bebeis com publicanos e pecadores?
31 Respondeu-lhes Jesus: Não
necessitam de médico os sãos, mas sim os enfermos;
32 eu não vim chamar justos,
mas pecadores, ao arrependimento.
33 Disseram-lhe eles: Os
discípulos de João jejuam freqüentemente e fazem orações, como também os dos
fariseus, mas os teus comem e bebem.
34 Respondeu-lhes Jesus: Podeis,
porventura, fazer jejuar os convidados às núpcias enquanto o noivo está com
eles?
35 Dias virão, porém, em que
lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim hão de jejuar.
36 Propôs-lhes também uma
parábola: Ninguém tira um pedaço de um vestido novo para o coser em vestido
velho; do contrário, não somente rasgará o novo, mas também o pedaço do novo
não condirá com o velho.
37 E ninguém deita vinho novo
em odres velhos; do contrário, o vinho novo romperá os odres e se derramará, e
os odres se perderão;
38 mas vinho novo deve ser
deitado em odres novos.
39 E ninguém, tendo bebido o
velho, quer o novo; porque diz: O velho é bom.
»LUCAS [6]
1 E sucedeu que, num dia de
sábado, passava Jesus pelas searas; e seus discípulos iam colhendo espigas e,
debulhando-as com as mãos, as comiam.
2 Alguns dos fariseus, porém,
perguntaram; Por que estais fazendo o que não é lícito fazer nos sábados?
3 E Jesus, respondendo-lhes,
disse: Nem ao menos tendes lido o que fez Davi quando teve fome, ele e seus
companheiros?
4 Como entrou na casa de
Deus, tomou os pães da proposição, dos quais não era lícito comer senão só aos
sacerdotes, e deles comeu e deu também aos companheiros?
5 Também lhes disse: O Filho
do homem é Senhor do sábado.
6 Ainda em outro sábado
entrou na sinagoga, e pôs-se a ensinar. Estava ali um homem que tinha a mão
direita atrofiada.
7 E os escribas e os fariseus
observavam-no, para ver se curaria em dia de sábado, para acharem de que o
acusar.
8 Mas ele, conhecendo-lhes os
pensamentos, disse ao homem que tinha a mão atrofiada: Levanta-te, e fica em pé
aqui no maio. E ele, levantando-se, ficou em pé.
9 Disse-lhes, então, Jesus:
Eu vos pergunto: É lícito no sábado fazer bem, ou fazer mal? salvar a vida, ou
tirá-la?
10 E olhando para todos em
redor, disse ao homem: Estende a tua mão. Ele assim o fez, e a mão lhe foi
restabelecida.
11 Mas eles se encheram de
furor; e uns com os outros conferenciam sobre o que fariam a Jesus.
12 Naqueles dias retirou-se
para o monte a fim de orar; e passou a noite toda em oração a Deus.
13 Depois do amanhecer,
chamou seus discípulos, e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o
nome de apóstolos:
14 Simão, ao qual também
chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu;
15 Mateus e Tomé; Tiago,
filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote;
16 Judas, filho de Tiago; e
Judas Iscariotes, que veio a ser o traidor.
17 E Jesus, descendo com
eles, parou num lugar plano, onde havia não só grande número de seus
discípulos, mas também grande multidão do povo, de toda a Judéia e Jerusalém, e
do litoral de Tiro e de Sidom, que tinham vindo para ouvi-lo e serem curados
das suas doenças;
18 e os que eram atormentados
por espíritos imundos ficavam curados.
19 E toda a multidão
procurava tocar-lhe; porque saía dele poder que curava a todos.
20 Então, levantando ele os
olhos para os seus discípulos, dizia: Bem-aventurados vós, os pobres, porque
vosso é o reino de Deus.
21 Bem-aventurados vós, que
agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora
chorais, porque haveis de rir.
22 Bem-aventurados sereis
quando os homens vos odiarem, e quando vos expulsarem da sua companhia, e vos
injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como indigno, por causa do Filho do
homem.
23 Regozijai-vos nesse dia e
exultai, porque eis que é grande o vosso galardão no céu; pois assim faziam os
seus pais aos profetas.
24 Mas ai de vós que sois
ricos! porque já recebestes a vossa consolação.
25 Ai de vós, os que agora
estais fartos! porque tereis fome. Ai de vós, os que agora rides! porque vos lamentareis
e chorareis.
26 Ai de vós, quando todos os
homens vos louvarem! porque assim faziam os seus pais aos falsos profetas.
27 Mas a vós que ouvis, digo:
Amai a vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam,
28 bendizei aos que vos
maldizem, e orai pelos que vos caluniam.
29 Ao que te ferir numa face,
oferece-lhe também a outra; e ao que te houver tirado a capa, não lhe negues
também a túnica.
30 Dá a todo o que te pedir;
e ao que tomar o que é teu, não lho reclames.
31 Assim como quereis que os
homens vos façam, do mesmo modo lhes fazei vós também.
32 Se amardes aos que vos
amam, que mérito há nisso? Pois também os pecadores amam aos que os amam.
33 E se fizerdes bem aos que
vos fazem bem, que mérito há nisso? Também os pecadores fazem o mesmo.
34 E se emprestardes àqueles
de quem esperais receber, que mérito há nisso? Também os pecadores emprestam
aos pecadores, para receberem outro tanto.
35 Amai, porém a vossos
inimigos, fazei bem e emprestai, nunca desanimado; e grande será a vossa
recompensa, e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os
integrantes e maus.
36 Sede misericordiosos, como
também vosso Pai é misericordioso.
37 Não julgueis, e não sereis
julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados.
38 Dai, e ser-vos-á dado; boa
medida, recalcada, sacudida e transbordando vos deitarão no regaço; porque com
a mesma medida com que medis, vos medirão a vós.
39 E propôs-lhes também uma
parábola: Pode porventura um cego guiar outro cego? não cairão ambos no
barranco?
40 Não é o discípulo mais do
que o seu mestre; mas todo o que for bem instruído será como o seu mestre.
41 Por que vês o argueiro no
olho de teu irmão, e não reparas na trave que está no teu próprio olho?
42 Ou como podes dizer a teu
irmão: Irmão, deixa-me tirar o argueiro que está no teu olho, não vendo tu
mesmo a trave que está no teu? Hipócrita! tira primeiro a trave do teu olho; e
então verás bem para tirar o argueiro que está no olho de teu irmão.
43 Porque não há árvore boa
que dê mau fruto nem tampouco árvore má que dê bom fruto.
44 Porque cada árvore se
conhece pelo seu próprio fruto; pois dos espinheiros não se colhem figos, nem
dos abrolhos se vindimam uvas.
45 O homem bom, do bom
tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, do seu mau tesouro tira o
mal; pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca.
46 E por que me chamais:
Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu vos digo?
47 Todo aquele que vem a mim,
e ouve as minhas palavras, e as pratica, eu vos mostrarei a quem é semelhante:
48 É semelhante ao homem que,
edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala, e pôs os alicerces sobre a
rocha; e vindo a enchente, bateu com ímpeto a torrente naquela casa, e não a
pôde abalar, porque tinha sido bem edificada.
49 Mas o que ouve e não
pratica é semelhante a um homem que edificou uma casa sobre terra, sem
alicerces, na qual bateu com ímpeto a torrente, e logo caiu; e foi grande a
ruína daquela casa.
»LUCAS [7]
1 Quando acabou de proferir
todas estas palavras aos ouvidos do povo, entrou em Cafarnaum.
2 E um servo de certo
centurião, de quem era muito estimado, estava doente, quase à morte.
3 O centurião, pois, ouvindo
falar de Jesus, enviou-lhes uns anciãos dos judeus, a pedir-lhe que viesse
curar o seu servo.
4 E chegando eles junto de
Jesus, rogavam-lhe com instância, dizendo: É digno de que lhe concedas isto;
5 porque ama à nossa nação, e
ele mesmo nos edificou a sinagoga.
6 Ia, pois, Jesus com eles;
mas, quando já estava perto da casa, enviou o centurião uns amigos a dizer-lhe:
Senhor, não te incomodes; porque não sou digno de que entres debaixo do meu
telhado;
7 por isso nem ainda me
julguei digno de ir à tua presença; dize, porém, uma palavra, e seja o meu
servo curado.
8 Pois também eu sou homem
sujeito à autoridade, e tenho soldados às minhas ordens; e digo a este: Vai, e
ele vai; e a outro: Vem, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz.
9 Jesus, ouvindo isso,
admirou-se dele e, voltando-se para a multidão que o seguia, disse: Eu vos
afirmo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé.
10 E voltando para casa os
que haviam sido enviados, encontraram o servo com saúde.
11 Pouco depois seguiu ele
viagem para uma cidade chamada Naim; e iam com ele seus discípulos e uma grande
multidão.
12 Quando chegou perto da
porta da cidade, eis que levavam para fora um defunto, filho único de sua mãe,
que era viúva; e com ela ia uma grande multidão da cidade.
13 Logo que o Senhor a viu,
encheu-se de compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores.
14 Então, chegando-se, tocou
no esquife e, quando pararam os que o levavam, disse: Moço, a ti te digo:
Levanta-te.
15 O que estivera morto
sentou-se e começou a falar. Então Jesus o entregou à sua mãe.
16 O medo se apoderou de
todos, e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre nós;
e: Deus visitou o seu povo.
17 E correu a notícia disto
por toda a Judéia e por toda a região circunvizinha.
18 Ora, os discípulos de João
anunciaram-lhe todas estas coisas.
19 E João, chamando a dois
deles, enviou-os ao Senhor para perguntar-lhe: És tu aquele que havia de vir,
ou havemos de esperar outro?
20 Quando aqueles homens
chegaram junto dele, disseram: João, o Batista, enviou-nos a perguntar-te: És
tu aquele que havia de vir, ou havemos de esperar outro?
21 Naquela mesma hora, curou
a muitos de doenças, de moléstias e de espíritos malignos; e deu vista a muitos
cegos.
22 Então lhes respondeu: Ide,
e contai a João o que tens visto e ouvido: os cegos vêem, os coxos andam, os
leprosos são purificados, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos
pobres é anunciado o evangelho.
23 E bem-aventurado aquele
que não se escandalizar de mim.
24 E, tendo-se retirado os
mensageiros de João, Jesus começou a dizer às multidões a respeito de João: Que
saístes a ver no deserto? um caniço agitado pelo vento?
25 Mas que saístes a ver? um
homem trajado de vestes luxuosas? Eis que aqueles que trajam roupas preciosas,
e vivem em delícias, estão nos paços reais.
26 Mas que saístes a ver? um
profeta? Sim, vos digo, e muito mais do que profeta.
27 Este é aquele de quem está
escrito: Eis aí envio ante a tua face o meu mensageiro, que há de preparar
adiante de ti o teu caminho.
28 Pois eu vos digo que,
entre os nascidos de mulher, não há nenhum maior do que João; mas aquele que é
o menor no reino de Deus é maior do que ele.
29 E todo o povo que o ouviu,
e até os publicanos, reconheceram a justiça de Deus, recebendo o batismo de
João.
30 Mas os fariseus e os
doutores da lei rejeitaram o conselho de Deus quando a si mesmos, não sendo
batizados por ele.
31 A que, pois, compararei os
homens desta geração, e a que são semelhantes?
32 São semelhantes aos
meninos que, sentados nas praças, gritam uns para os outros: Tocamo-vos flauta,
e não dançastes; cantamos lamentações, e não chorastes.
33 Porquanto veio João, o Batista,
não comendo pão nem bebendo vinho, e dizeis: Tem demônio;
34 veio o Filho do homem,
comendo e bebendo, e dizeis: Eis aí um comilão e bebedor de vinho, amigo de
publicanos e pecadores.
35 Mas a sabedoria é
justificada por todos os seus filhos.
36 Um dos fariseus convidou-o
para comer com ele; e entrando em casa do fariseu, reclinou-se à mesa.
37 E eis que uma mulher
pecadora que havia na cidade, quando soube que ele estava à mesa em casa do
fariseu, trouxe um vaso de alabastro com bálsamo;
38 e estando por detrás, aos
seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas e os enxugava com
os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés e ungia-os com o bálsamo.
39 Mas, ao ver isso, o
fariseu que o convidara falava consigo, dizendo: Se este homem fosse profeta,
saberia quem e de que qualidade é essa mulher que o toca, pois é uma pecadora.
40 E respondendo Jesus,
disse-lhe: Simão, tenho uma coisa a dizer-te. Respondeu ele: Dize-a, Mestre.
41 Certo credor tinha dois
devedores; um lhe devia quinhentos denários, e outro cinqüenta.
42 Não tendo eles com que
pagar, perdoou a ambos. Qual deles, pois, o amará mais?
43 Respondeu Simão: Suponho
que é aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe Jesus: Julgaste bem.
44 E, voltando-se para a
mulher, disse a Simão: Vês tu esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste
água para os pés; mas esta com suas lágrimas os regou e com seus cabelos os
enxugou.
45 Não me deste ósculo; ela,
porém, desde que entrei, não tem cessado de beijar-me os pés.
46 Não me ungiste a cabeça
com óleo; mas esta com bálsamo ungiu-me os pés.
47 Por isso te digo:
Perdoados lhe são os pecados, que são muitos; porque ela muito amou; mas aquele
a quem pouco se perdoa, pouco ama.
48 E disse a ela: Perdoados
são os teus pecados.
49 Mas os que estavam com ele
à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este que até perdoa pecados?
50 Jesus, porém, disse à
mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz.
»LUCAS [8]
1 Logo depois disso, andava
Jesus de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o
evangelho do reino de Deus; e iam com ele os doze,
2 bem como algumas mulheres
que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada
Madalena, da qual tinham saído sete demônios.
3 Joana, mulher de Cuza,
procurador de Herodes, Susana, e muitas outras que os serviam com os seus bens.
4 Ora, ajuntando-se uma
grande multidão, e vindo ter com ele gente de todas as cidades, disse Jesus por
parábola:
5 Saiu o semeador a semear a
sua semente. E quando semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho; e
foi pisada, e as aves do céu a comeram.
6 Outra caiu sobre pedra; e,
nascida, secou-se porque não havia umidade.
7 E outra caiu no meio dos
espinhos; e crescendo com ela os espinhos, sufocaram-na.
8 Mas outra caiu em boa
terra; e, nascida, produziu fruto, cem por um. Dizendo ele estas coisas,
clamava: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
9 Perguntaram-lhe então seus
discípulos o que significava essa parábola.
10 Respondeu ele: A vós é
dado conhecer os mistérios do reino de Deus; mas aos outros se fala por
parábolas; para que vendo, não vejam, e ouvindo, não entendam.
11 É, pois, esta a parábola:
A semente é a palavra de Deus.
12 Os que estão à beira do
caminho são os que ouvem; mas logo vem o Diabo e tira-lhe do coração a palavra,
para que não suceda que, crendo, sejam salvos.
13 Os que estão sobre a pedra
são os que, ouvindo a palavra, a recebem com alegria; mas estes não têm raiz,
apenas crêem por algum tempo, mas na hora da provação se desviam.
14 A parte que caiu entre os
espinhos são os que ouviram e, indo seu caminho, são sufocados pelos cuidados,
riquezas, e deleites desta vida e não dão fruto com perfeição.
15 Mas a que caiu em boa
terra são os que, ouvindo a palavra com coração reto e bom, a retêm e dão fruto
com perseverança.
16 Ninguém, pois, acende uma
candeia e a cobre com algum vaso, ou a põe debaixo da cama; mas põe-na no
velador, para que os que entram vejam a luz.
17 Porque não há coisa
encoberta que não haja de manifestar-se, nem coisa secreta que não haja de
saber-se e vir à luz.
18 Vede, pois, como ouvis;
porque a qualquer que tiver lhe será dado, e a qualquer que não tiver, até o
que parece ter lhe será tirado.
19 Vieram, então, ter com ele
sua mãe e seus irmãos, e não podiam aproximar-se dele por causa da multidão.
20 Foi-lhe dito: Tua mãe e
teus irmãos estão lá fora, e querem ver-te.
21 Ele, porém, lhes
respondeu: Minha mãe e meus irmãos são estes que ouvem a palavra de Deus e a
observam.
22 Ora, aconteceu certo dia
que entrou num barco com seus discípulos, e disse-lhes: Passemos à outra margem
do lago. E partiram.
23 Enquanto navegavam, ele
adormeceu; e desceu uma tempestade de vento sobre o lago; e o barco se enchia
de água, de sorte que perigavam.
24 Chegando-se a ele, o
despertaram, dizendo: Mestre, Mestre, estamos perecendo. E ele, levantando-se,
repreendeu o vento e a fúria da água; e cessaram, e fez-se bonança.
25 Então lhes perguntou: Onde
está a vossa fé? Eles, atemorizados, admiraram-se, dizendo uns aos outros:
Quem, pois, é este, que até aos ventos e à água manda, e lhe obedecem?
26 Apontaram à terra dos
gerasenos, que está defronte da Galiléia.
27 Logo que saltou em terra,
saiu-lhe ao encontro um homem da cidade, possesso de demônios, que havia muito
tempo não vestia roupa, nem morava em casa, mas nos sepulcros.
28 Quando ele viu a Jesus,
gritou, prostrou-se diante dele, e com grande voz exclamou: Que tenho eu
contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te que não me atormentes.
29 Porque Jesus ordenara ao
espírito imundo que saísse do homem. Pois já havia muito tempo que se apoderara
dele; e guardavam-no preso com grilhões e cadeias; mas ele, quebrando as
prisões, era impelido pelo demônio para os desertos.
30 Perguntou-lhe Jesus: Qual
é o teu nome? Respondeu ele: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios.
31 E rogavam-lhe que não os
mandasse para o abismo.
32 Ora, andava ali pastando
no monte uma grande manada de porcos; rogaram-lhe, pois que lhes permitisse
entrar neles, e lho permitiu.
33 E tendo os demônios saído
do homem, entraram nos porcos; e a manada precipitou-se pelo despenhadeiro no
lago, e afogou-se.
34 Quando os pastores viram o
que acontecera, fugiram, e foram anunciá-lo na cidade e nos campos.
35 Saíram, pois, a ver o que
tinha acontecido, e foram ter com Jesus, a cujos pés acharam sentado, vestido e
em perfeito juízo, o homem de quem havia saído os demônios; e se atemorizaram.
36 Os que tinham visto aquilo
contaram-lhes como fora curado o endemoninhado.
37 Então todo o povo da
região dos gerasenos rogou-lhe que se retirasse deles; porque estavam possuídos
de grande medo. Pelo que ele entrou no barco, e voltou.
38 Pedia-lhe, porém, o homem
de quem haviam saído os demônios que o deixasse estar com ele; mas Jesus o
despediu, dizendo:
39 Volta para tua casa, e
conta tudo quanto Deus te fez. E ele se retirou, publicando por toda a cidade
tudo quanto Jesus lhe fizera.
40 Quando Jesus voltou, a
multidão o recebeu; porque todos o estavam esperando.
41 E eis que veio um homem
chamado Jairo, que era chefe da sinagoga; e prostrando-se aos pés de Jesus,
rogava-lhe que fosse a sua casa;
42 porque tinha uma filha
única, de cerca de doze anos, que estava à morte. Enquanto, pois, ele ia,
apertavam-no as multidões.
43 E certa mulher, que tinha
uma hemorragia havia doze anos [e gastara com os médicos todos os seus haveres]
e por ninguém pudera ser curada,
44 chegando-se por detrás,
tocou-lhe a orla do manto, e imediatamente cessou a sua hemorragia.
45 Perguntou Jesus: Quem é
que me tocou? Como todos negassem, disse-lhe Pedro: Mestre, as multidões te
apertam e te oprimem.
46 Mas disse Jesus: Alguém me
tocou; pois percebi que de mim saiu poder.
47 Então, vendo a mulher que
não passara despercebida, aproximou-se tremendo e, prostrando-se diante dele,
declarou-lhe perante todo o povo a causa por que lhe havia tocado, e como fora
imediatamente curada.
48 Disse-lhe ele: Filha, a
tua fé te salvou; vai-te em paz.
49 Enquanto ainda falava,
veio alguém da casa do chefe da sinagoga dizendo: A tua filha já está morta;
não incomodes mais o Mestre.
50 Jesus, porém, ouvindo-o,
respondeu-lhe: Não temas: crê somente, e será salva.
51 Tendo chegado à casa, a
ninguém deixou entrar com ele, senão a Pedro, João, Tiago, e o pai e a mãe da
menina.
52 E todos choravam e
pranteavam; ele, porém, disse: Não choreis; ela não está morta, mas dorme.
53 E riam-se dele, sabendo
que ela estava morta.
54 Então ele, tomando-lhe a
mão, exclamou: Menina, levanta-te.
55 E o seu espírito voltou, e
ela se levantou imediatamente; e Jesus mandou que lhe desse de comer.
56 E seus pais ficaram maravilhados;
e ele mandou-lhes que a ninguém contassem o que havia sucedido.
»LUCAS [9]
1 Reunindo os doze, deu-lhes
poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curarem doenças;
2 e enviou-os a pregar o
reino de Deus, e fazer curas,
3 dizendo-lhes: Nada leveis
para o caminho, nem bordão, nem alforje, nem pão, nem dinheiro; nem tenhais
duas túnicas.
4 Em qualquer casa em que
entrardes, nela ficai, e dali partireis.
5 Mas, onde quer que não vos
receberem, saindo daquela cidade, sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho
contra eles.
6 Saindo, pois, os discípulos
percorreram as aldeias, anunciando o evangelho e fazendo curas por toda parte.
7 Ora, o tetrarca Herodes
soube de tudo o que se passava, e ficou muito perplexo, porque diziam uns: João
ressuscitou dos mortos;
8 outros: Elias apareceu; e
outros: Um dos antigos profetas se levantou.
9 Herodes, porém, disse: A
João eu mandei degolar; quem é, pois, este a respeito de quem ouço tais coisas?
E procurava vê-lo.
10 Quando os apóstolos
voltaram, contaram-lhe tudo o que havia feito. E ele, levando-os consigo,
retirou-se à parte para uma cidade chamada Betsaida.
11 Mas as multidões,
percebendo isto, seguiram-no; e ele as recebeu, e falava-lhes do reino de Deus,
e sarava os que necessitavam de cura.
12 Ora, quando o dia começava
a declinar, aproximando-se os doze, disseram-lhe: Despede a multidão, para que,
indo às aldeias e aos sítios em redor, se hospedem, e achem o que comer; porque
aqui estamos em lugar deserto.
13 Mas ele lhes disse:
Dai-lhes vós de comer. Responderam eles: Não temos senão cinco pães e dois
peixes; salvo se nós formos comprar comida para todo este povo.
14 Pois eram cerca de cinco
mil homens. Então disse a seus discípulos: Fazei-os reclinar-se em grupos de
cerca de cinqüenta cada um.
15 Assim o fizeram, mandando
que todos se reclinassem.
16 E tomando Jesus os cinco
pães e os dois peixes, e olhando para o céu, os abençoou e partiu, e os
entregava aos seus discípulos para os porem diante da multidão.
17 Todos, pois, comeram e se
fartaram; e foram levantados, do que lhes sobejou, doze cestos de pedaços.
18 Enquanto ele estava orando
à parte achavam-se com ele somente seus discípulos; e perguntou-lhes: Quem
dizem as multidões que eu sou?
19 Responderam eles: Uns
dizem: João, o Batista; outros: Elias; e ainda outros, que um dos antigos
profetas se levantou.
20 Então lhes perguntou: Mas
vós, quem dizeis que eu sou? Respondendo Pedro, disse: O Cristo de Deus.
21 Jesus, porém,
advertindo-os, mandou que não contassem isso a ninguém;
22 e disse-lhes: É necessário
que o Filho do homem padeça muitas coisas, que seja rejeitado pelos anciãos,
pelos principais sacerdotes e escribas, que seja morto, e que ao terceiro dia
ressuscite.
23 Em seguida dizia a todos:
Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e
siga-me.
24 Pois quem quiser salvar a
sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim, esse a
salvará.
25 Pois, que aproveita ao
homem ganhar o mundo inteiro, e perder-se, ou prejudicar-se a si mesmo?
26 Porque, quem se
envergonhar de mim e das minhas palavras, dele se envergonhará o Filho do
homem, quando vier na sua glória, e na do Pai e dos santos anjos.
27 Mas em verdade vos digo:
Alguns há, dos que estão aqui, que de modo nenhum provarão a morte até que vejam
o reino de Deus.
28 Cerca de oito dias depois
de ter proferido essas palavras, tomou Jesus consigo a Pedro, a João e a Tiago,
e subiu ao monte para orar.
29 Enquanto ele orava,
mudou-se a aparência do seu rosto, e a sua roupa tornou-se branca e resplandecente.
30 E eis que estavam falando
com ele dois varões, que eram Moisés e Elias,
31 os quais apareceram com
glória, e falavam da sua partida que estava para cumprir-se em Jerusalém.
32 Ora, Pedro e os que
estavam com ele se haviam deixado vencer pelo sono; despertando, porém, viram a
sua glória e os dois varões que estavam com ele.
33 E, quando estes se
apartavam dele, disse Pedro a Jesus: Mestre, bom é estarmos nós aqui: façamos,
pois, três cabanas, uma para ti, uma para Moisés, e uma para Elias, não sabendo
o que dizia.
34 Enquanto ele ainda falava,
veio uma nuvem que os cobriu; e se atemorizaram ao entrarem na nuvem.
35 E da nuvem saiu uma voz
que dizia: Este é o meu Filho, o meu eleito; a ele ouvi.
36 Ao soar esta voz, Jesus
foi achado sozinho; e eles calaram-se, e por aqueles dias não contaram a
ninguém nada do que tinham visto.
37 No dia seguinte, quando
desceram do monte, veio-lhe ao encontro uma grande multidão.
38 E eis que um homem dentre
a multidão clamou, dizendo: Mestre, peço-te que olhes para meu filho, porque é
o único que tenho;
39 pois um espírito se
apodera dele, fazendo-o gritar subitamente, convulsiona-o até escumar e, mesmo
depois de o ter quebrantado, dificilmente o larga.
40 E roguei aos teus
discípulos que o expulsassem, mas não puderam.
41 Respondeu Jesus: ó geração
incrédula e perversa! até quando estarei convosco e vos sofrerei? Traze-me cá o
teu filho.
42 Ainda quando ele vinha
chegando, o demônio o derribou e o convulsionou; mas Jesus repreendeu o
espírito imundo, curou o menino e o entregou a seu pai.
43 E todos se maravilhavam da
majestade de Deus. E admirando-se todos de tudo o que Jesus fazia, disse ele a
seus discípulos:
44 Ponde vós estas palavras
em vossos ouvidos; pois o Filho do homem está para ser entregue nas mãos dos homens.
45 Eles, porém, não entendiam
essa palavra, cujo sentido lhes era encoberto para que não o compreendessem; e
temiam interrogá-lo a esse respeito.
46 E suscitou-se entre eles
uma discussão sobre qual deles seria o maior.
47 Mas Jesus, percebendo o pensamento
de seus corações, tomou uma criança, pô-la junto de si,
48 e disse-lhes: Qualquer que
receber esta criança em meu nome, a mim me recebe; e qualquer que me receber a
mim, recebe aquele que me enviou; pois aquele que entre vós todos é o menor, esse
é grande.
49 Disse-lhe João: Mestre,
vimos um homem que em teu nome expulsava demônios; e lho proibimos, porque não
segue conosco.
50 Respondeu-lhe Jesus: Não
lho proibais; porque quem não é contra vós é por vós.
51 Ora, quando se completavam
os dias para a sua assunção, manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém.
52 Enviou, pois, mensageiros
adiante de si. Indo eles, entraram numa aldeia de samaritanos para lhe
prepararem pousada.
53 Mas não o receberam,
porque viajava em direção a Jerusalém.
54 Vendo isto os discípulos
Tiago e João, disseram: Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os
consumir (como Elias também fez?)
55 Ele porém, voltando-se,
repreendeu-os, (e disse: Vós não sabeis de que espírito sois.)
56 (Pois o Filho do Homem não
veio para destruir as vidas dos homens, mas para salvá-las.) E foram para outra
aldeia.
57 Quando iam pelo caminho,
disse-lhe um homem: Seguir-te-ei para onde quer que fores.
58 Respondeu-lhe Jesus: As
raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos; mas o Filho do homem não tem
onde reclinar a cabeça.
59 E a outro disse: Segue-me.
Ao que este respondeu: Permite-me ir primeiro sepultar meu pai.
60 Replicou-lhe Jesus: Deixa
os mortos sepultar os seus próprios mortos; tu, porém, vai e anuncia o reino de
Deus.
61 Jesus, porém, lhe
respondeu: Ninguém que lança mão do arado e olha para trás é apto para o reino
de Deus.
»LUCAS [10]
1 Depois disso designou o
Senhor outros setenta, e os enviou adiante de si, de dois em dois, a todas as
cidades e lugares aonde ele havia de ir.
2 E dizia-lhes: Na verdade, a
seara é grande, mas os trabalhadores são poucos; rogai, pois, ao Senhor da
seara que mande trabalhadores para a sua seara.
3 Ide; eis que vos envio como
cordeiros ao meio de lobos.
4 Não leveis bolsa, nem
alforge, nem alparcas; e a ninguém saudeis pelo caminho.
5 Em qualquer casa em que
entrardes, dizei primeiro: Paz seja com esta casa.
6 E se ali houver um filho da
paz, repousará sobre ele a vossa paz; e se não, voltará para vós.
7 Ficai nessa casa, comendo e
bebendo do que eles tiverem; pois digno é o trabalhador do seu salário. Não
andeis de casa em casa.
8 Também, em qualquer cidade
em que entrardes, e vos receberem, comei do que puserem diante de vós.
9 Curai os enfermos que nela
houver, e dizer-lhes: É chegado a vós o reino de Deus.
10 Mas em qualquer cidade em
que entrardes, e vos não receberem, saindo pelas ruas, dizei:
11 Até o pó da vossa cidade,
que se nos pegou aos pés, sacudimos contra vós. Contudo, sabei isto: que o
reino de Deus é chegado.
12 Digo-vos que naquele dia
haverá menos rigor para Sodoma, do que para aquela cidade.
13 Ai de ti, Corazim! ai de
ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que
em vós se operaram, há muito, sentadas em cilício e cinza, elas se teriam arrependido.
14 Contudo, para Tiro e Sidom
haverá menos rigor no juízo do que para vós.
15 E tu, Cafarnaum,
porventura serás elevada até o céu? até o inferno descerás.
16 Quem vos ouve, a mim me
ouve; e quem vos rejeita, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita
aquele que me enviou.
17 Voltaram depois os setenta
com alegria, dizendo: Senhor, em teu nome, até os demônios se nos submetem.
18 Respondeu-lhes ele: Eu via
Satanás, como raio, cair do céu.
19 Eis que vos dei autoridade
para pisar serpentes e escorpiões, e sobre todo o poder do inimigo; e nada vos
fará dano algum.
20 Contudo, não vos alegreis
porque se vos submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos
nomes escritos nos céus.
21 Naquela mesma hora exultou
Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da
terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste
aos pequeninos; sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.
22 Todas as coisas me foram
entregues por meu Pai; e ninguém conhece quem é o Filho senão o Pai, nem quem é
o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.
23 E voltando-se para os
discípulos, disse-lhes em particular: Bem-aventurados os olhos que vêem o que
vós vedes.
24 Pois vos digo que muitos
profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que
ouvis, e não o ouviram.
25 E eis que se levantou
certo doutor da lei e, para o experimentar, disse: Mestre, que farei para
herdar a vida eterna?
26 Perguntou-lhe Jesus: Que
está escrito na lei? Como lês tu?
27 Respondeu-lhe ele: Amarás
ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas
forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo.
28 Tornou-lhe Jesus:
Respondeste bem; faze isso, e viverás.
29 Ele, porém, querendo
justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo?
30 Jesus, prosseguindo,
disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de salteadores,
os quais o despojaram e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto.
31 Casualmente, descia pelo
mesmo caminho certo sacerdote; e vendo-o, passou de largo.
32 De igual modo também um
levita chegou àquele lugar, viu-o, e passou de largo.
33 Mas um samaritano, que ia
de viagem, chegou perto dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão;
34 e aproximando-se, atou-lhe
as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e pondo-o sobre a sua cavalgadura,
levou-o para uma estalagem e cuidou dele.
35 No dia seguinte tirou dois
denários, deu-os ao hospedeiro e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que gastares a
mais, eu to pagarei quando voltar.
36 Qual, pois, destes três te
parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?
37 Respondeu o doutor da lei:
Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe, pois, Jesus: Vai, e
faze tu o mesmo.
38 Ora, quando iam de
caminho, entrou Jesus numa aldeia; e certa mulher, por nome Marta, o recebeu em
sua casa.
39 Tinha esta uma irmã
chamada Maria, a qual, sentando-se aos pés do Senhor, ouvia a sua palavra.
40 Marta, porém, andava
preocupada com muito serviço; e aproximando-se, disse: Senhor, não se te dá que
minha irmã me tenha deixado a servir sozinha? Dize-lhe, pois, que me ajude.
41 Respondeu-lhe o Senhor:
Marta, Marta, estás ansiosa e perturbada com muitas coisas;
42 entretanto poucas são
necessárias, ou mesmo uma só; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será
tirada.
»LUCAS [11]
1 Estava Jesus em certo lugar
orando e, quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a
orar, como também João ensinou aos seus discípulos.
2 Ao que ele lhes disse:
Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu reino;
3 dá-nos cada dia o nosso pão
cotidiano;
4 e perdoa-nos os nossos
pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos deixes
entrar em tentação, (mas livra-nos do mal.)
5 Disse-lhes também: Se um de
vós tiver um amigo, e se for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: Amigo,
empresta-me três pães,
6 pois que um amigo meu,
estando em viagem, chegou a minha casa, e não tenho o que lhe oferecer;
7 e se ele, de dentro,
responder: Não me incomodes; já está a porta fechada, e os meus filhos estão
comigo na cama; não posso levantar-me para te atender;
8 digo-vos que, ainda que se
levante para lhos dar por ser seu amigo, todavia, por causa da sua
importunação, se levantará e lhe dará quantos pães ele precisar.
9 Pelo que eu vos digo: Pedi,
e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á;
10 pois todo o que pede,
recebe; e quem busca acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á.
11 E qual o pai dentre vós
que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe
dará por peixe uma serpente?
12 Ou, se pedir um ovo, lhe
dará um escorpião?
13 Se vós, pois, sendo maus,
sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o
Espírito Santo àqueles que lho pedirem?
14 Estava Jesus expulsando um
demônio, que era mudo; e aconteceu que, saindo o demônio, o mudo falou; e as
multidões se admiraram.
15 Mas alguns deles disseram:
É por Belzebu, o príncipe dos demônios, que ele expulsa os demônios.
16 E outros,
experimentando-o, lhe pediam um sinal do céu.
17 Ele, porém,
conhecendo-lhes os pensamentos, disse-lhes: Todo reino dividido contra si mesmo
será assolado, e casa sobre casa cairá.
18 Ora, pois, se Satanás está
dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que eu
expulso dos demônios por Belzebu.
19 E, se eu expulso os
demônios por Belzebu, por quem os expulsam os vossos filhos? Por isso eles
mesmos serão os vossos juizes.
20 Mas, se é pelo dedo de
Deus que eu expulso os demônios, logo é chegado a vós o reino de Deus.
21 Quando o valente guarda,
armado, a sua casa, em segurança estão os seus bens;
22 mas, sobrevindo outro mais
valente do que ele, e vencendo-o, tira-lhe toda a armadura em que confiava, e
reparte os seus despojos.
23 Quem não é comigo, é
contra mim; e quem comigo não ajunta, espalha.
24 Ora, havendo o espírito
imundo saindo do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso; e não o
encontrando, diz: Voltarei para minha casa, donde saí.
25 E chegando, acha-a varrida
e adornada.
26 Então vai, e leva consigo
outros sete espíritos piores do que ele e, entrando, habitam ali; e o último
estado desse homem vem a ser pior do que o primeiro.
27 Ora, enquanto ele dizia
estas coisas, certa mulher dentre a multidão levantou a voz e lhe disse:
Bem-aventurado o ventre que te trouxe e os peitos em que te amamentaste.
28 Mas ele respondeu: Antes
bem-aventurados os que ouvem a palavra de Deus, e a observam.
29 Como afluíssem as multidões,
começou ele a dizer: Geração perversa é esta; ela pede um sinal; e nenhum sinal
se lhe dará, senão o de Jonas;
30 porquanto, assim como
Jonas foi sinal para os ninivitas, também o Filho do homem o será para esta
geração.
31 A rainha do sul se levantará
no juízo com os homens desta geração, e os condenará; porque veio dos confins
da terra para ouvir a sabedoria de Salomão; e eis, aqui quem é maior do que
Salomão.
32 Os homens de Nínive se
levantarão no juízo com esta geração, e a condenarão; porque se arrependeram
com a pregação de Jonas; e eis aqui quem é maior do que Jonas.
33 Ninguém, depois de acender
uma candeia, a põe em lugar oculto, nem debaixo do alqueire, mas no velador,
para que os que entram vejam a luz.
34 A candeia do corpo são os
olhos. Quando, pois, os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso;
mas, quando forem maus, o teu corpo será tenebroso.
35 Vê, então, que a luz que
há em ti não sejam trevas.
36 Se, pois, todo o teu corpo
estiver iluminado, sem ter parte alguma em trevas, será inteiramente luminoso,
como quando a candeia te alumia com o seu resplendor.
37 Acabando Jesus de falar,
um fariseu o convidou para almoçar com ele; e havendo Jesus entrado,
reclinou-se à mesa.
38 O fariseu admirou-se,
vendo que ele não se lavara antes de almoçar.
39 Ao que o Senhor lhe disse:
Ora vós, os fariseus, limpais o exterior do corpo e do prato; mas o vosso
interior do copo e do prato; mas o vosso interior está cheio de rapina e
maldade.
40 Loucos! quem fez o
exterior, não fez também o inferior?
41 Dai, porém, de esmola o
que está dentro do copo e do prato, e eis que todas as coisas vos serão limpas.
42 Mas ai de vós, fariseus!
porque dais o dízimo da hortelã, e da arruda, e de toda hortaliça, e desprezais
a justiça e o amor de Deus. Ora, estas coisas importava fazer, sem deixar
aquelas.
43 Ai de vós, fariseus!
porque gostais dos primeiros assentos nas sinagogas, e das saudações nas
praças.
44 Ai de vós! porque sois
como as sepulturas que não aparecem, sobre as quais andam os homens sem o
saberem.
45 Disse-lhe, então, um dos
doutores da lei: Mestre, quando dizes isso, também nos afrontas a nós.
46 Ele, porém, respondeu: Ai
de vós também, doutores da lei! porque carregais os homens com fardos difíceis
de suportar, e vós mesmos nem ainda com um dos vossos dedos tocais nesses
fardos.
47 Ai de vós! porque
edificais os túmulos dos profetas, e vossos pais os mataram.
48 Assim sois testemunhas e
aprovais as obras de vossos pais; porquanto eles os mataram, e vós lhes
edificais os túmulos.
49 Por isso diz também a
sabedoria de Deus: Profetas e apóstolos lhes mandarei; e eles matarão uns, e
perseguirão outros;
50 para que a esta geração se
peçam contas do sangue de todos os profetas que, desde a fundação do mundo, foi
derramado;
51 desde o sangue de Abel,
até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o santuário; sim, eu
vos digo, a esta geração se pedirão contas.
52 Ai de vós, doutores da
lei! porque tirastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes
aos que entravam.
53 Ao sair ele dali,
começaram os escribas e os fariseus a apertá-lo fortemente, e a interrogá-lo
acerca de muitas coisas,
54 armando-lhe ciladas, a fim
de o apanharem em alguma coisa que dissesse.
»LUCAS [12]
1 Ajuntando-se entretanto
muitos milhares de pessoas, de sorte que se atropelavam uns aos outros, começou
Jesus a dizer primeiro aos seus discípulos: Acautelai-vos do fermento dos
fariseus, que é a hipocrisia.
2 Mas nada há encoberto, que
não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser conhecido.
3 Porquanto tudo o que em
trevas dissestes, à luz será ouvido; e o que falaste ao ouvido no gabinete, dos
eirados será apregoado.
4 Digo-vos, amigos meus: Não
temais os que matam o corpo, e depois disso nada mais podem fazer.
5 Mas eu vos mostrarei a quem
é que deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no
inferno; sim, digo, a esse temei.
6 Não se vendem cinco
passarinhos por dois asses? E nenhum deles está esquecido diante de Deus.
7 Mas até os cabelos da vossa
cabeça estão todos contados. Não temais, pois mais valeis vós do que muitos
passarinhos.
8 E digo-vos que todo aquele
que me confessar diante dos homens, também o Filho do homem o confessará diante
dos anjos de Deus;
9 mas quem me negar diante
dos homens, será negado diante dos anjos de Deus.
10 E a todo aquele que
proferir uma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado; mas ao
que blasfemar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado.
11 Quando, pois, vos levarem
às sinagogas, aos magistrados e às autoridades, não estejais solícitos de como
ou do que haveis de responder, nem do que haveis de dizer.
12 Porque o Espírito Santo
vos ensinará na mesma hora o que deveis dizer.
13 Disse-lhe alguém dentre a
multidão: Mestre, dize a meu irmão que reparte comigo a herança.
14 Mas ele lhe respondeu:
Homem, quem me constituiu a mim juiz ou repartidor entre vós?
15 E disse ao povo:
Acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do homem
não consiste na abundância das coisas que possui.
16 Propôs-lhes então uma
parábola, dizendo: O campo de um homem rico produzira com abundância;
17 e ele arrazoava consigo,
dizendo: Que farei? Pois não tenho onde recolher os meus frutos.
18 Disse então: Farei isto:
derribarei os meus celeiros e edificarei outros maiores, e ali recolherei todos
os meus cereais e os meus bens;
19 e direi à minha alma:
Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe,
regala-te.
20 Mas Deus lhe disse:
Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem
será?
21 Assim é aquele que para si
ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.
22 E disse aos seus
discípulos: Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo
que haveis de comer, nem quanto ao corpo, pelo que haveis de vestir.
23 Pois a vida é mais do que
o alimento, e o corpo mais do que o vestuário.
24 Considerai os corvos, que
não semeiam nem ceifam; não têm despensa nem celeiro; contudo, Deus os
alimenta. Quanto mais não valeis vós do que as aves!
25 Ora, qual de vós, por mais
ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura?
26 Porquanto, se não podeis
fazer nem as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras?
27 Considerai os lírios, como
crescem; não trabalham, nem fiam; contudo vos digo que nem mesmo Salomão, em
toda a sua glória, se vestiu como um deles.
28 Se, pois, Deus assim veste
a erva que hoje está no campo e amanhã é lançada no forno, quanto mais vós,
homens de pouca fé?
29 Não procureis, pois, o que
haveis de comer, ou o que haveis de beber, e não andeis preocupados.
30 Porque a todas estas
coisas os povos do mundo procuram; mas vosso Pai sabe que precisais delas.
31 Buscai antes o seu reino,
e estas coisas vos serão acrescentadas.
32 Não temas, ó pequeno
rebanho! porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino.
33 Vendei o que possuís, e
dai esmolas. Fazei para vós bolsas que não envelheçam; tesouro nos céus que
jamais acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói.
34 Porque, onde estiver o
vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
35 Estejam cingidos os vossos
lombos e acesas as vossas candeias;
36 e sede semelhantes a
homens que esperam o seu senhor, quando houver de voltar das bodas, para que,
quando vier e bater, logo possam abrir-lhe.
37 Bem-aventurados aqueles
servos, aos quais o senhor, quando vier, achar vigiando! Em verdade vos digo
que se cingirá, e os fará reclinar-se à mesa e, chegando-se, os servirá.
38 Quer venha na segunda
vigília, quer na terceira, bem-aventurados serão eles, se assim os achar.
39 Sabei, porém, isto: se o
dono da casa soubesse a que hora havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria
minar a sua casa.
40 Estai vós também
apercebidos; porque, numa hora em que não penseis, virá o Filho do homem.
41 Então Pedro perguntou:
Senhor, dizes essa parábola a nós, ou também a todos?
42 Respondeu o Senhor: Qual
é, pois, o mordomo fiel e prudente, que o Senhor porá sobre os seus servos,
para lhes dar a tempo a ração?
43 Bem-aventurado aquele
servo a quem o seu senhor, quando vier, achar fazendo assim.
44 Em verdade vos digo que o
porá sobre todos os seus bens.
45 Mas, se aquele servo
disser em teu coração: O meu senhor tarda em vir; e começar a espancar os
criados e as criadas, e a comer, a beber e a embriagar-se,
46 virá o senhor desse servo
num dia em que não o espera, e numa hora de que não sabe, e cortá-lo-á pelo
meio, e lhe dará a sua parte com os infiéis.
47 O servo que soube a
vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será
castigado com muitos açoites;
48 mas o que não a soube, e
fez coisas que mereciam castigo, com poucos açoites será castigado. Daquele a
quem muito é dado, muito se lhe requererá; e a quem muito é confiado, mais
ainda se lhe pedirá.
49 Vim lançar fogo à terra; e
que mais quero, se já está aceso?
50 Há um batismo em que hei
de ser batizado; e como me angustio até que venha a cumprir-se!
51 Cuidais vós que vim trazer
paz à terra? Não, eu vos digo, mas antes dissensão:
52 pois daqui em diante
estarão cinco pessoas numa casa divididas, três contra duas, e duas contra
três;
53 estarão divididos: pai
contra filho, e filho contra pai; mãe contra filha, e filha contra mãe; sogra
contra nora, e nora contra sogra.
54 Dizia também às multidões:
Quando vedes subir uma nuvem do ocidente, logo dizeis: Lá vem chuva; e assim
sucede;
55 e quando vedes soprar o
vento sul dizeis; Haverá calor; e assim sucede.
56 Hipócritas, sabeis
discernir a face da terra e do céu; como não sabeis então discernir este tempo?
57 E por que não julgais
também por vós mesmos o que é justo?
58 Quando, pois, vais com o
teu adversário ao magistrado, procura fazer as pazes com ele no caminho; para
que não suceda que ele te arraste ao juiz, e o juiz te entregue ao meirinho, e
o meirinho te lance na prisão
59 Digo-te que não sairás
dali enquanto não pagares o derradeiro lepto.
»LUCAS [13]
1 Ora, naquele mesmo tempo
estavam presentes alguns que lhe falavam dos galileus cujo sangue Pilatos
misturara com os sacrifícios deles.
2 Respondeu-lhes Jesus:
Pensais vós que esses foram maiores pecadores do que todos os galileus, por
terem padecido tais coisas?
3 Não, eu vos digo; antes, se
não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.
4 Ou pensais que aqueles
dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados
do que todos os outros habitantes de Jerusalém?
5 Não, eu vos digo; antes, se
não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.
6 E passou a narrar esta
parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha; e indo procurar
fruto nela, e não o achou.
7 Disse então ao viticultor:
Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho;
corta-a; para que ocupa ela ainda a terra inutilmente?
8 Respondeu-lhe ele: Senhor,
deixa-a este ano ainda, até que eu cave em derredor, e lhe deite estrume;
9 e se no futuro der fruto,
bem; mas, se não, cortá-la-ás.
10 Jesus estava ensinando
numa das sinagogas no sábado.
11 E estava ali uma mulher
que tinha um espírito de enfermidade havia já dezoito anos; e andava encurvada,
e não podia de modo algum endireitar-se.
12 Vendo-a Jesus, chamou-a, e
disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade;
13 e impôs-lhe as mãos e
imediatamente ela se endireitou, e glorificava a Deus.
14 Então o chefe da sinagoga,
indignado porque Jesus curara no sábado, tomando a palavra disse à multidão:
Seis dias há em que se deve trabalhar; vinde, pois, neles para serdes curados,
e não no dia de sábado.
15 Respondeu-lhe, porém, o
Senhor: Hipócritas, no sábado não desprende da manjedoura cada um de vós o seu
boi, ou jumento, para o levar a beber?
16 E não devia ser solta
desta prisão, no dia de sábado, esta que é filha de Abraão, a qual há dezoito
anos Satanás tinha presa?
17 E dizendo ele essas
coisas, todos os seus adversário ficavam envergonhados; e todo o povo se
alegrava por todas as coisas gloriosas que eram feitas por ele.
18 Ele, pois, dizia: A que é
semelhante o reino de Deus, e a que o compararei?
19 É semelhante a um grão de
mostarda que um homem tomou e lançou na sua horta; cresceu, e fez-se árvore, e
em seus ramos se aninharam as aves do céu.
20 E disse outra vez: A que
compararei o reino de Deus?
21 É semelhante ao fermento
que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar toda ela
levedada.
22 Assim percorria Jesus as
cidades e as aldeias, ensinando, e caminhando para Jerusalém.
23 E alguém lhe perguntou:
Senhor, são poucos os que se salvam? Ao que ele lhes respondeu:
24 Porfiai por entrar pela
porta estreita; porque eu vos digo que muitos procurarão entrar, e não poderão.
25 Quando o dono da casa se
tiver levantado e cerrado a porta, e vós começardes, de fora, a bater à porta,
dizendo: Senhor, abre-nos; e ele vos responder: Não sei donde vós sois;
26 então começareis a dizer:
Comemos e bebemos na tua presença, e tu ensinaste nas nossas ruas;
27 e ele vos responderá: Não
sei donde sois; apartai-vos de mim, vós todos os que praticais a iniqüidade.
28 Ali haverá choro e ranger
de dentes quando virdes Abraão, Isaque, Jacó e todos os profetas no reino de
Deus, e vós lançados fora.
29 Muitos virão do oriente e
do ocidente, do norte e do sul, e reclinar-se-ão à mesa no reino de Deus.
30 Pois há últimos que serão
primeiros, e primeiros que serão últimos.
31 Naquela mesma hora
chegaram alguns fariseus que lhe disseram: Sai, e retira-te daqui, porque
Herodes quer matar-te.
32 Respondeu-lhes Jesus: Ide
e dizei a essa raposa: Eis que vou expulsando demônios e fazendo curas, hoje e
amanhã, e no terceiro dia serei consumado.
33 Importa, contudo, caminhar
hoje, amanhã, e no dia seguinte; porque não convém que morra um profeta fora de
Jerusalém.
34 Jerusalém, Jerusalém, que
matas os profetas, e apedrejas os que a ti são enviados! Quantas vezes quis eu
ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta a sua ninhada debaixo das asas, e
não quiseste!
35 Eis aí, abandonada vos é a
vossa casa. E eu vos digo que não me vereis até que venha o tempo em que
digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.
»LUCAS [14]
1 Tendo Jesus entrado, num
sábado, em casa de um dos chefes dos fariseus para comer pão, eles o estavam
observando.
2 Achava-se ali diante dele
certo homem hidrópico.
3 E Jesus, tomando a palavra,
falou aos doutores da lei e aos fariseus, e perguntou: É lícito curar no
sábado, ou não?
4 Eles, porém, ficaram
calados. E Jesus, pegando no homem, o curou, e o despediu.
5 Então lhes perguntou: Qual
de vós, se lhe cair num poço um filho, ou um boi, não o tirará logo, mesmo em
dia de sábado?
6 A isto nada puderam
responder.
7 Ao notar como os convidados
escolhiam os primeiros lugares, propôs-lhes esta parábola:
8 Quando por alguém fores
convidado às bodas, não te reclines no primeiro lugar; não aconteça que esteja
convidado outro mais digno do que tu;
9 e vindo o que te convidou a
ti e a ele, te diga: Dá o lugar a este; e então, com vergonha, tenhas de tomar
o último lugar.
10 Mas, quando fores
convidado, vai e reclina-te no último lugar, para que, quando vier o que te
convidou, te diga: Amigo, sobe mais para cima. Então terás honra diante de
todos os que estiverem contigo à mesa.
11 Porque todo o que a si
mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será
exaltado.
12 Disse também ao que o
havia convidado: Quando deres um jantar, ou uma ceia, não convides teus amigos,
nem teus irmãos, nem teus parentes, nem os vizinhos ricos, para que não suceda
que também eles te tornem a convidar, e te seja isso retribuído.
13 Mas quando deres um
banquete, convida os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos;
14 e serás bem-aventurado;
porque eles não têm com que te retribuir; pois retribuído te será na
ressurreição dos justos.
15 Ao ouvir isso um dos que
estavam com ele à mesa, disse-lhe: Bem-aventurado aquele que comer pão no reino
de Deus.
16 Jesus, porém, lhe disse:
Certo homem dava uma grande ceia, e convidou a muitos.
17 E à hora da ceia mandou o
seu servo dizer aos convidados: vinde, porque tudo já está preparado.
18 Mas todos à uma começaram
a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo, e preciso ir vê-lo;
rogo-te que me dês por escusado.
19 Outro disse: Comprei cinco
juntas de bois, e vou experimentá-los; rogo-te que me dês por escusado.
20 Ainda outro disse:
Casei-me e portanto não posso ir.
21 Voltou o servo e contou
tudo isto a seu senhor: Então o dono da casa, indignado, disse a seu servo: Sai
depressa para as ruas e becos da cidade e traze aqui os pobres, os aleijados,
os cegos e os coxos.
22 Depois disse o servo:
Senhor, feito está como o ordenaste, e ainda há lugar.
23 Respondeu o senhor ao
servo: Sai pelos caminhos e valados, e obriga-os a entrar, para que a minha
casa se encha.
24 Pois eu vos digo que
nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia.
25 Ora, iam com ele grandes
multidões; e, voltando-se, disse-lhes:
26 Se alguém vier a mim, e
não aborrecer a pai e mãe, a mulher e filhos, a irmãos e irmãs, e ainda também
à própria vida, não pode ser meu discípulo.
27 Quem não leva a sua cruz e
não me segue, não pode ser meu discípulo.
28 Pois qual de vós, querendo
edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular as despesas, para ver se
tem com que a acabar?
29 Para não acontecer que,
depois de haver posto os alicerces, e não a podendo acabar, todos os que a
virem comecem a zombar dele,
30 dizendo: Este homem
começou a edificar e não pode acabar.
31 Ou qual é o rei que, indo
entrar em guerra contra outro rei, não se senta primeiro a consultar se com dez
mil pode sair ao encontro do que vem contra ele com vinte mil?
32 No caso contrário,
enquanto o outro ainda está longe, manda embaixadores, e pede condições de paz.
33 Assim, pois, todo aquele
dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo.
34 Bom é o sal; mas se o sal
se tornar insípido, com que se há de restaurar-lhe o sabor?
35 Não presta nem para terra,
nem para adubo; lançam-no fora. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
»LUCAS [15]
1 Ora, chegavam-se a ele
todos os publicanos e pecadores para o ouvir.
2 E os fariseus e os escribas
murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles.
3 Então ele lhes propôs esta
parábola:
4 Qual de vós é o homem que,
possuindo cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no
deserto, e não vai após a perdida até que a encontre?
5 E achando-a, põe-na sobre
os ombros, cheio de júbilo;
6 e chegando a casa, reúne os
amigos e vizinhos e lhes diz: Alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha
que se havia perdido.
7 Digo-vos que assim haverá
maior alegria no céu por um pecador que se arrepende, do que por noventa e nove
justos que não necessitam de arrependimento.
8 Ou qual é a mulher que,
tendo dez dracmas e perdendo uma dracma, não acende a candeia, e não varre a
casa, buscando com diligência até encontrá-la?
9 E achando-a, reúne as
amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que eu
havia perdido.
10 Assim, digo-vos, há
alegria na presença dos anjos de Deus por um só pecador que se arrepende.
11 Disse-lhe mais: Certo
homem tinha dois filhos.
12 O mais moço deles disse ao
pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me toca. Repartiu-lhes, pois, os seus
haveres.
13 Poucos dias depois, o
filho mais moço ajuntando tudo, partiu para um país distante, e ali desperdiçou
os seus bens, vivendo dissolutamente.
14 E, havendo ele dissipado
tudo, houve naquela terra uma grande fome, e começou a passar necessidades.
15 Então foi encontrar-se a
um dos cidadãos daquele país, o qual o mandou para os seus campos a apascentar
porcos.
16 E desejava encher o
estômago com as alfarrobas que os porcos comiam; e ninguém lhe dava nada.
17 Caindo, porém, em si,
disse: Quantos empregados de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de
fome!
18 Levantar-me-ei, irei ter
com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e diante de ti;
19 já não sou digno de ser
chamado teu filho; trata-me como um dos teus empregados.
20 Levantou-se, pois, e foi
para seu pai. Estando ele ainda longe, seu pai o viu, encheu-se de compaixão e,
correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou.
21 Disse-lhe o filho: Pai,
pequei conta o céu e diante de ti; já não sou digno de ser chamado teu filho.
22 Mas o pai disse aos seus
servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no
dedo e alparcas nos pés;
23 trazei também o bezerro,
cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos,
24 porque este meu filho
estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a
regozijar-se.
25 Ora, o seu filho mais
velho estava no campo; e quando voltava, ao aproximar-se de casa, ouviu a
música e as danças;
26 e chegando um dos servos,
perguntou-lhe que era aquilo.
27 Respondeu-lhe este: Chegou
teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo.
28 Mas ele se indignou e não
queria entrar. Saiu então o pai e instava com ele.
29 Ele, porém, respondeu ao
pai: Eis que há tantos anos te sirvo, e nunca transgredi um mandamento teu;
contudo nunca me deste um cabrito para eu me regozijar com meus amigos;
30 vindo, porém, este teu
filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro
cevado.
31 Replicou-lhe o pai: Filho,
tu sempre estás comigo, e tudo o que é meu é teu;
32 era justo, porém,
regozijarmo-nos e alegramo-nos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu;
tinha-se perdido, e foi achado.
»LUCAS [16]
1 Dizia Jesus também aos seus
discípulos: Havia certo homem rico, que tinha um mordomo; e este foi acusado
perante ele de estar dissipando os seus bens.
2 Chamou-o, então, e lhe
disse: Que é isso que ouço dizer de ti? Presta contas da tua mordomia; porque
já não podes mais ser meu mordomo.
3 Disse, pois, o mordomo
consigo: Que hei de fazer, já que o meu senhor me tira a mordomia? Para cavar,
não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha.
4 Agora sei o que vou fazer,
para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas.
5 E chamando a si cada um dos
devedores do seu senhor, perguntou ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor?
6 Respondeu ele: Cem cados de
azeite. Disse-lhe então: Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve
cinqüenta.
7 Perguntou depois a outro: E
tu, quanto deves? Respondeu ele: Cem coros de trigo. E disse-lhe: Toma a tua
conta e escreve oitenta.
8 E louvou aquele senhor ao
injusto mordomo por haver procedido com sagacidade; porque os filhos deste
mundo são mais sagazes para com a sua geração do que os filhos da luz.
9 Eu vos digo ainda: Granjeai
amigos por meio das riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem,
vos recebam eles nos tabernáculos eternos.
10 Quem é fiel no pouco,
também é fiel no muito; quem é injusto no pouco, também é injusto no muito.
11 Se, pois, nas riquezas
injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras?
12 E se no alheio não fostes
fiéis, quem vos dará o que é vosso?
13 Nenhum servo pode servir
dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar ao outro, o há de odiar a um e
amar ao outro, o há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a
Deus e às riquezas.
14 Os fariseus, que eram
gananciosos, ouviam todas essas coisas e zombavam dele.
15 E ele lhes disse: Vós sois
os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os
vossos corações; porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é
abominação.
16 A lei e os profetas vigoraram
até João; desde então é anunciado o evangelho do reino de Deus, e todo homem
forceja por entrar nele.
17 É, porém, mais fácil
passar o céu e a terra do que cair um til da lei.
18 Todo aquele que repudia
sua mulher e casa com outra, comete adultério; e quem casa com a que foi
repudiada pelo marido, também comete adultério.
19 Ora, havia um homem rico
que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e todos os dias se regalava
esplendidamente.
20 Ao seu portão fora deitado
um mendigo, chamado Lázaro, todo coberto de úlceras;
21 o qual desejava
alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães
vinham lamber-lhe as úlceras.
22 Veio a morrer o mendigo, e
foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico, e foi sepultado.
23 No inferno, ergueu os
olhos, estando em tormentos, e viu ao longe a Abraão, e a Lázaro no seu seio.
24 E, clamando, disse: Pai
Abraão, tem misericórdia de mim, e envia-me Lázaro, para que molhe na água a
ponta do dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.
25 Disse, porém, Abraão:
Filho, lembra-te de que em tua vida recebeste os teus bens, e Lázaro de igual
modo os males; agora, porém, ele aqui é consolado, e tu atormentado.
26 E além disso, entre nós e
vós está posto um grande abismo, de sorte que os que quisessem passar daqui
para vós não poderiam, nem os de lá passar para nós.
27 Disse ele então: Rogo-te,
pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai,
28 porque tenho cinco irmãos;
para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham eles também para este
lugar de tormento.
29 Disse-lhe Abraão: Têm
Moisés e os profetas; ouçam-nos.
30 Respondeu ele: Não! pai
Abraão; mas, se alguém dentre os mortos for ter com eles, hão de se arrepender.
31 Abraão, porém, lhe disse:
Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que
ressuscite alguém dentre os mortos.
»LUCAS [17]
1 Disse Jesus a seus
discípulos: É impossível que não venham tropeços, mas ai daquele por quem
vierem!
2 Melhor lhe fora que se lhe
pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho e fosse lançado ao mar, do que fazer
tropeçar um destes pequeninos.
3 Tende cuidado de vós
mesmos; se teu irmão pecar, repreende-o; e se ele se arrepender, perdoa-lhe.
4 Mesmo se pecar contra ti
sete vezes no dia, e sete vezes vier ter contigo, dizendo: Arrependo-me; tu lhe
perdoarás.
5 Disseram então os apóstolos
ao Senhor: Aumenta-nos a fé.
6 Respondeu o Senhor: Se
tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: Desarraiga-te,
e planta-te no mar; e ela vos obedeceria.
7 Qual de vós, tendo um servo
a lavrar ou a apascentar gado, lhe dirá, ao voltar ele do campo: chega-te já, e
reclina-te à mesa?
8 Não lhe dirá antes:
Prepara-me a ceia, e cinge-te, e serve-me, até que eu tenha comido e bebido, e
depois comerás tu e beberás?
9 Porventura agradecerá ao
servo, porque este fez o que lhe foi mandado?
10 Assim também vós, quando
fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis; fizemos
somente o que devíamos fazer.
11 E aconteceu que, indo ele
a Jerusalém, passava pela divisa entre a Samária e a Galiléia.
12 Ao entrar em certa aldeia,
saíram-lhe ao encontro dez leprosos, os quais pararam de longe,
13 e levantaram a voz,
dizendo: Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!
14 Ele, logo que os viu,
disse-lhes: Ide, e mostrai-vos aos sacerdotes. E aconteceu que, enquanto iam,
ficaram limpos.
15 Um deles, vendo que fora
curado, voltou glorificando a Deus em alta voz;
16 e prostrou-se com o rosto
em terra aos pés de Jesus, dando-lhe graças; e este era samaritano.
17 Perguntou, pois, Jesus:
Não foram limpos os dez? E os nove, onde estão?
18 Não se achou quem voltasse
para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?
19 E disse-lhe: Levanta-te, e
vai; a tua fé te salvou.
20 Sendo Jesus interrogado
pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, respondeu-lhes: O reino de
Deus não vem com aparência exterior;
21 nem dirão: Ei-lo aqui! ou:
Ei-lo ali! pois o reino de Deus está dentro de vós.
22 Então disse aos
discípulos: Dias virão em que desejareis ver um dos dias do Filho do homem, e
não o vereis.
23 Dir-vos-ão: Ei-lo ali! ou:
Ei-lo aqui! não vades, nem os sigais;
24 pois, assim como o
relâmpago, fuzilando em uma extremidade do céu, ilumina até a outra
extremidade, assim será também o Filho do homem no seu dia.
25 Mas primeiro é necessário
que ele padeça muitas coisas, e que seja rejeitado por esta geração.
26 Como aconteceu nos dias de
Noé, assim também será nos dias do Filho do homem.
27 Comiam, bebiam, casavam e
davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e
os destruiu a todos.
28 Como também da mesma forma
aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e
edificavam;
29 mas no dia em que Ló saiu
de Sodoma choveu do céu fogo e enxofre, e os destruiu a todos;
30 assim será no dia em que o
Filho do homem se há de manifestar.
31 Naquele dia, quem estiver
no eirado, tendo os seus bens em casa, não desça para tirá-los; e, da mesma
sorte, o que estiver no campo, não volte para trás.
32 Lembrai-vos da mulher de
Ló.
33 Qualquer que procurar
preservar a sua vida, perdê-la-á, e qualquer que a perder, conservá-la-á.
34 Digo-vos: Naquela noite
estarão dois numa cama; um será tomado, e o outro será deixado.
35 Duas mulheres estarão
juntas moendo; uma será tomada, e a outra será deixada.
36 [Dois homens estarão no
campo; um será tomado, e o outro será deixado.]
37 Perguntaram-lhe: Onde,
Senhor? E respondeu-lhes: Onde estiver o corpo, aí se ajuntarão também os
abutres.
»LUCAS [18]
1 Contou-lhes também uma
parábola sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer.
2 dizendo: Havia em certa
cidade um juiz que não temia a Deus, nem respeitava os homens.
3 Havia também naquela mesma
cidade uma viúva que ia ter com ele, dizendo: Faze-me justiça contra o meu
adversário.
4 E por algum tempo não quis
atendê-la; mas depois disse consigo: Ainda que não temo a Deus, nem respeito os
homens,
5 todavia, como esta viúva me
incomoda, hei de fazer-lhe justiça, para que ela não continue a vir
molestar-me.
6 Prosseguiu o Senhor: Ouvi o
que diz esse juiz injusto.
7 E não fará Deus justiça aos
seus escolhidos, que dia e noite clamam a ele, já que é longânimo para com
eles?
8 Digo-vos que depressa lhes
fará justiça. Contudo quando vier o Filho do homem, porventura achará fé na
terra?
9 Propôs também esta parábola
a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os
outros:
10 Dois homens subiram ao
templo para orar; um fariseu, e o outro publicano.
11 O fariseu, de pé, assim
orava consigo mesmo: ó Deus, graças te dou que não sou como os demais homens,
roubadores, injustos, adúlteros, nem ainda com este publicano.
12 Jejuo duas vezes na
semana, e dou o dízimo de tudo quanto ganho.
13 Mas o publicano, estando
em pé de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito,
dizendo: ó Deus, sê propício a mim, o pecador!
14 Digo-vos que este desceu
justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que a si mesmo se
exaltar será humilhado; mas o que a si mesmo se humilhar será exaltado.
15 Traziam-lhe também as
crianças, para que as tocasse; mas os discípulos, vendo isso, os repreendiam.
16 Jesus, porém, chamando-as
para si, disse: Deixai vir a mim as crianças, e não as impeçais, porque de tais
é o reino de Deus.
17 Em verdade vos digo que,
qualquer que não receber o reino de Deus como criança, de modo algum entrará
nele.
18 E perguntou-lhe um dos
principais: Bom Mestre, que hei de fazer para herdar a vida eterna?
19 Respondeu-lhe Jesus: Por
que me chamas bom? Ninguém é bom, senão um, que é Deus.
20 Sabes os mandamentos: Não
adulterarás; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; honra a teu
pai e a tua mãe.
21 Replicou o homem: Tudo
isso tenho guardado desde a minha juventude.
22 Quando Jesus ouviu isso,
disse-lhe: Ainda te falta uma coisa; vende tudo quanto tens e reparte-o pelos
pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me.
23 Mas, ouvindo ele isso,
encheu-se de tristeza; porque era muito rico.
24 E Jesus, vendo-o assim,
disse: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!
25 Pois é mais fácil um
camelo passar pelo fundo duma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus.
26 Então os que ouviram isso
disseram: Quem pode, então, ser salvo?
27 Respondeu-lhes: As coisas
que são impossíveis aos homens são possíveis a Deus.
28 Disse-lhe Pedro: Eis que
nós deixamos tudo, e te seguimos.
29 Respondeu-lhes Jesus: Em
verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou mulher, ou irmãos,
ou pais, ou filhos, por amor do reino de Deus,
30 que não haja de receber no
presente muito mais, e no mundo vindouro a vida eterna.
31 Tomando Jesus consigo os
doze, disse-lhes: Eis que subimos a Jerusalém e se cumprirá no filho do homem
tudo o que pelos profetas foi escrito;
32 pois será entregue aos
gentios, e escarnecido, injuriado e cuspido;
33 e depois de o açoitarem, o
matarão; e ao terceiro dia ressurgirá.
34 Mas eles não entenderam
nada disso; essas palavras lhes eram obscuras, e não percebiam o que lhes
dizia.
35 Ora, quando ele ia
chegando a Jericó, estava um cego sentado junto do caminho, mendigando.
36 Este, pois, ouvindo passar
a multidão, perguntou que era aquilo.
37 Disseram-lhe que Jesus, o
nazareno, ia passando.
38 Então ele se pôs a clamar,
dizendo: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!
39 E os que iam à frente
repreendiam-no, para que se calasse; ele, porém, clamava ainda mais: Filho de
Davi, tem compaixão de mim!
40 Parou, pois, Jesus, e
mandou que lho trouxessem. Tendo ele chegado, perguntou-lhe:
41 Que queres que te faça?
Respondeu ele: Senhor, que eu veja.
42 Disse-lhe Jesus: Vê; a tua
fé te salvou.
43 Imediatamente recuperou a
vista, e o foi seguindo, gloficando a Deus. E todo o povo, vendo isso, dava
louvores a Deus.
»LUCAS [19]
1 Tendo Jesus entrado em
Jericó, ia atravessando a cidade.
2 Havia ali um homem chamado
Zaqueu, o qual era chefe de publicanos e era rico.
3 Este procurava ver quem era
Jesus, e não podia, por causa da multidão, porque era de pequena estatura.
4 E correndo adiante, subiu a
um sicômoro a fim de vê-lo, porque havia de passar por ali.
5 Quando Jesus chegou àquele
lugar, olhou para cima e disse-lhe: Zaqueu, desce depressa; porque importa que
eu fique hoje em tua casa.
6 Desceu, pois, a toda a
pressa, e o recebeu com alegria.
7 Ao verem isso, todos
murmuravam, dizendo: Entrou para ser hóspede de um homem pecador.
8 Zaqueu, porém,
levantando-se, disse ao Senhor: Eis aqui, Senhor, dou aos pobres metade dos
meus bens; e se em alguma coisa tenho defraudado alguém, eu lho restituo
quadruplicado.
9 Disse-lhe Jesus: Hoje veio
a salvação a esta casa, porquanto também este é filho de Abraão.
10 Porque o Filho do homem
veio buscar e salvar o que se havia perdido.
11 Ouvindo eles isso,
prosseguiu Jesus, e contou uma parábola, visto estar ele perto de Jerusalém, e
pensarem eles que o reino de Deus se havia de manifestar imediatamente.
12 Disse pois: Certo homem
nobre partiu para uma terra longínqua, a fim de tomar posse de um reino e
depois voltar.
13 E chamando dez servos
seus, deu-lhes dez minas, e disse-lhes: Negociai até que eu venha.
14 Mas os seus concidadãos
odiavam-no, e enviaram após ele uma embaixada, dizendo: Não queremos que este
homem reine sobre nós.
15 E sucedeu que, ao voltar
ele, depois de ter tomado posse do reino, mandou chamar aqueles servos a quem
entregara o dinheiro, a fim de saber como cada um havia negociado.
16 Apresentou-se, pois, o
primeiro, e disse: Senhor, a tua mina rendeu dez minas.
17 Respondeu-lhe o senhor:
Bem está, servo bom! porque no mínimo foste fiel, sobre dez cidades terás
autoridade.
18 Veio o segundo, dizendo:
Senhor, a tua mina rendeu cinco minas.
19 A este também respondeu:
Sê tu também sobre cinco cidades.
20 E veio outro, dizendo:
Senhor, eis aqui a tua mina, que guardei num lenço;
21 pois tinha medo de ti,
porque és homem severo; tomas o que não puseste, e ceifas o que não semeaste.
22 Disse-lhe o Senhor: Servo
mau! pela tua boca te julgarei; sabias que eu sou homem severo, que tomo o que
não pus, e ceifo o que não semeei;
23 por que, pois, não puseste
o meu dinheiro no barco? então vindo eu, o teria retirado com os juros.
24 E disse aos que estavam
ali: Tirai-lhe a mina, e dai-a ao que tem as dez minas.
25 Responderam-lhe eles:
Senhor, ele tem dez minas.
26 Pois eu vos digo que a
todo o que tem, dar-se-lhe-á; mas ao que não tem, até aquilo que tem ser-lhe-á
tirado.
27 Quanto, porém, àqueles
meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui, e
matai-os diante de mim.
28 Tendo Jesus assim falado,
ia caminhando adiante deles, subindo para Jerusalém.
29 Ao aproximar-se de Betfagé
e de Betânia, junto do monte que se chama das Oliveiras, enviou dois dos
discípulos,
30 dizendo-lhes: Ide à aldeia
que está defronte, e aí, ao entrar, achareis preso um jumentinho em que ninguém
jamais montou; desprendei-o e trazei-o.
31 Se alguém vos perguntar:
Por que o desprendeis? respondereis assim: O Senhor precisa dele.
32 Partiram, pois, os que
tinham sido enviados, e acharam conforme lhes dissera.
33 Enquanto desprendiam o
jumentinho, os seus donos lhes perguntaram: Por que desprendeis o jumentinho?
34 Responderam eles: O Senhor
precisa dele.
35 Trouxeram-no, pois, a
Jesus e, lançando os seus mantos sobre o jumentinho, fizeram que Jesus
montasse.
36 E, enquanto ele ia
passando, outros estendiam no caminho os seus mantos.
37 Quando já ia chegando à
descida do Monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos, regozijando-se,
começou a louvar a Deus em alta voz, por todos os milagres que tinha visto,
38 dizendo: Bendito o Rei que
vem em nome do Senhor; paz no céu, e glória nas alturas.
39 Nisso, disseram-lhe alguns
dos fariseus dentre a multidão: Mestre, repreende os teus discípulos.
40 Ao que ele respondeu:
Digo-vos que, se estes se calarem, as pedras clamarão.
41 E quando chegou perto e
viu a cidade, chorou sobre ela,
42 dizendo: Ah! se tu
conhecesses, ao menos neste dia, o que te poderia trazer a paz! mas agora isso
está encoberto aos teus olhos.
43 Porque dias virão sobre ti
em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e te
apertarão de todos os lados,
44 e te derribarão, a ti e
aos teus filhos que dentro de ti estiverem; e não deixarão em ti pedra sobre
pedra, porque não conheceste o tempo da tua visitação.
45 Então, entrando ele no
templo, começou a expulsar os que ali vendiam,
46 dizendo-lhes: Está
escrito: A minha casa será casa de oração; vós, porém, a fizestes covil de
salteadores.
47 E todos os dias ensinava
no templo; mas os principais sacerdotes, os escribas, e os principais do povo
procuravam matá-lo;
48 mas não achavam meio de o
fazer; porque todo o povo ficava enlevado ao ouvi-lo.
»LUCAS [20]
1 Num desses dias, quando
Jesus ensinava o povo no templo, e anunciava o evangelho, sobrevieram os
principais sacerdotes e os escribas, com os anciãos.
2 e falaram-lhe deste modo:
Dize-nos, com que autoridade fazes tu estas coisas? Ou, quem é o que te deu
esta autoridade?
3 Respondeu-lhes ele: Eu
também vos farei uma pergunta; dizei-me, pois:
4 O batismo de João era do
céu ou dos homens?
5 Ao que eles arrazoavam
entre si: Se dissermos: do céu, ele dirá: Por que não crestes?
6 Mas, se dissermos: Dos
homens, todo o povo nos apedrejará; pois está convencido de que João era
profeta.
7 Responderam, pois, que não
sabiam donde era.
8 Replicou-lhes Jesus: Nem eu
vos digo com que autoridade faço estas coisas.
9 Começou então a dizer ao
povo esta parábola: Um homem plantou uma vinha, arrendou-a a uns lavradores, e
ausentou-se do país por muito tempo.
10 No tempo próprio mandou um
servo aos lavradores, para que lhe dessem dos frutos da vinha; mas os
lavradores, espancando-o, mandaram-no embora de mãos vazias.
11 Tornou a mandar outro
servo; mas eles espancaram também a este e, afrontando-o, mandaram-no embora de
mãos vazias.
12 E mandou ainda um
terceiro; mas feriram também a este e lançaram-no fora.
13 Disse então o senhor da
vinha: Que farei? Mandarei o meu filho amado; a ele talvez respeitarão.
14 Mas quando os lavradores o
viram, arrazoaram entre si, dizendo: Este é o herdeiro; matemo-lo, para que a
herança seja nossa.
15 E lançando-o fora da
vinha, o mataram. Que lhes fará, pois, o senhor da vinha?
16 Virá e destruirá esses
lavradores, e dará a vinha a outros. Ouvindo eles isso, disseram: Tal não
aconteça!
17 Mas Jesus, olhando para
eles, disse: Pois, que quer dizer isto que está escrito: A pedra que os
edificadores rejeitaram, essa foi posta como pedra angular?
18 Todo o que cair sobre esta
pedra será despedaçado; mas aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó.
19 Ainda na mesma hora os
escribas e os principais sacerdotes, percebendo que contra eles proferira essa
parábola, procuraram deitar-lhe as mãos, mas temeram o povo.
20 E, aguardando
oportunidade, mandaram espias, os quais se fingiam justos, para o apanharem em
alguma palavra, e o entregarem à jurisdição e à autoridade do governador.
21 Estes, pois, o
interrogaram, dizendo: Mestre, sabemos que falas e ensinas retamente, e que não
consideras a aparência da pessoa, mas ensinas segundo a verdade o caminho de
Deus;
22 é-nos lícito dar tributo a
César, ou não?
23 Mas Jesus, percebendo a
astúcia deles, disse-lhes:
24 Mostrai-me um denário. De
quem é a imagem e a inscrição que ele tem? Responderam: De César.
25 Disse-lhes então: Dai,
pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
26 E não puderam apanhá-lo em
palavra alguma diante do povo; e admirados da sua resposta, calaram-se.
27 Chegaram então alguns dos
saduceus, que dizem não haver ressurreição, e perguntaram-lhe:
28 Mestre, Moisés nos deixou
escrito que se morrer alguém, tendo mulher mas não tendo filhos, o irmão dele
case com a viúva, e suscite descendência ao irmão.
29 Havia, pois, sete irmãos.
O primeiro casou-se e morreu sem filhos;
30 então o segundo, e depois
o terceiro, casaram com a viúva;
31 e assim todos os sete, e
morreram, sem deixar filhos.
32 Depois morreu também a
mulher.
33 Portanto, na ressurreição,
de qual deles será ela esposa, pois os sete por esposa a tiveram?
34 Respondeu-lhes Jesus: Os
filhos deste mundo casaram-se e dão-se em casamento;
35 mas os que são julgados
dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dentre os mortos, nem se
casam nem se dão em casamento;
36 porque já não podem mais
morrer; pois são iguais aos anjos, e são filhos de Deus, sendo filhos da
ressurreição.
37 Mas que os mortos hão de
ressurgir, o próprio Moisés o mostrou, na passagem a respeito da sarça, quando
chama ao Senhor; Deus de Abraão, e Deus de Isaque, e Deus de Jacó.
38 Ora, ele não é Deus de
mortos, mas de vivos; porque para ele todos vivem.
39 Responderam alguns dos
escribas: Mestre, disseste bem.
40 Não ousavam, pois,
perguntar-lhe mais coisa alguma.
41 Jesus, porém, lhes
perguntou: Como dizem que o Cristo é filho de Davi?
42 Pois o próprio Davi diz no
livro dos Salmos: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita,
43 até que eu ponha os teus
inimigos por escabelo dos teus pés.
44 Logo Davi lhe chama Senhor
como, pois, é ele seu filho?
45 Enquanto todo o povo o
ouvia, disse Jesus aos seus discípulos:
46 Guardai-vos dos escribas,
que querem andar com vestes compridas, e gostam das saudações nas praças, dos
primeiros assentos nas sinagogas, e dos primeiros lugares nos banquetes;
47 que devoram as casas das
viúvas, fazendo, por pretexto, longas orações; estes hão de receber maior
condenação.
»LUCAS [21]
1 Jesus, levantando os olhos,
viu os ricos deitarem as suas ofertas no cofre;
2 viu também uma pobre viúva
lançar ali dois leptos;
3 e disse: Em verdade vos
digo que esta pobre viúva deu mais do que todos;
4 porque todos aqueles deram
daquilo que lhes sobrava; mas esta, da sua pobreza, deu tudo o que tinha para o
seu sustento.
5 E falando-lhe alguns a
respeito do templo, como estava ornado de formosas pedras e dádivas, disse ele:
6 Quanto a isto que vedes,
dias virão em que não se deixará aqui pedra sobre pedra, que não seja
derribada.
7 Perguntaram-lhe então:
Mestre, quando, pois, sucederão estas coisas? E que sinal haverá, quando elas
estiverem para se cumprir?
8 Respondeu então ele:
Acautelai-vos; não sejais enganados; porque virão muitos em meu nome, dizendo:
Sou eu; e: O tempo é chegado; não vades após eles.
9 Quando ouvirdes de guerras
e tumultos, não vos assusteis; pois é necessário que primeiro aconteçam essas
coisas; mas o fim não será logo.
10 Então lhes disse:
Levantar-se-á nação contra nação, e reino contra reino;
11 e haverá em vários lugares
grandes terremotos, e pestes e fomes; haverá também coisas espantosas, e
grandes sinais do céu.
12 Mas antes de todas essas
coisas vos hão de prender e perseguir, entregando-vos às sinagogas e aos
cárceres, e conduzindo-vos à presença de reis e governadores, por causa do meu
nome.
13 Isso vos acontecerá para
que deis testemunho.
14 Proponde, pois, em vossos
corações não premeditar como haveis de fazer a vossa defesa;
15 porque eu vos darei boca e
sabedoria, a que nenhum dos vossos adversário poderá resistir nem contradizer.
16 E até pelos pais, e
irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues; e matarão alguns de vós;
17 e sereis odiados de todos
por causa do meu nome.
18 Mas não se perderá um
único cabelo da vossa cabeça.
19 Pela vossa perseverança
ganhareis as vossas almas.
20 Mas, quando virdes
Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação.
21 Então, os que estiverem na
Judéia fujam para os montes; os que estiverem dentro da cidade, saiam; e os que
estiverem nos campos não entrem nela.
22 Porque dias de vingança
são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas.
23 Ai das que estiverem
grávidas, e das que amamentarem naqueles dias! porque haverá grande angústia
sobre a terra, e ira contra este povo.
24 E cairão ao fio da espada,
e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos
gentios, até que os tempos destes se completem.
25 E haverá sinais no sol, na
lua e nas estrelas; e sobre a terra haverá angústia das nações em perplexidade
pelo bramido do mar e das ondas.
26 os homens desfalecerão de
terror, e pela expectação das coisas que sobrevirão ao mundo; porquanto os
poderes do céu serão abalados.
27 Então verão vir o Filho do
homem em uma nuvem, com poder e grande glória.
28 Ora, quando essas coisas
começarem a acontecer, exultai e levantai as vossas cabeças, porque a vossa
redenção se aproxima.
29 Propôs-lhes então uma
parábola: Olhai para a figueira, e para todas as árvores;
30 quando começam a brotar,
sabeis por vós mesmos, ao vê-las, que já está próximo o verão.
31 Assim também vós, quando
virdes acontecerem estas coisas, sabei que o reino de Deus está próximo.
32 Em verdade vos digo que
não passará esta geração até que tudo isso se cumpra.
33 Passará o céu e a terra,
mas as minhas palavras jamais passarão.
34 Olhai por vós mesmos; não
aconteça que os vossos corações se carreguem de glutonaria, de embriaguez, e
dos cuidados da vida, e aquele dia vos sobrevenha de improviso como um laço.
35 Porque há de vir sobre
todos os que habitam na face da terra.
36 Vigiai, pois, em todo o
tempo, orando, para que possais escapar de todas estas coisas que hão de
acontecer, e estar em pé na presença do Filho do homem.
37 Ora, de dia ensinava no
templo, e à noite, saindo, pousava no monte chamado das Oliveiras.
38 E todo o povo ia ter com
ele no templo, de manhã cedo, para o ouvir.
»LUCAS [22]
1 Aproximava-se a festa dos
pães ázimos, que se chama a páscoa.
2 E os principais sacerdotes
e os escribas andavam procurando um modo de o matar; pois temiam o povo.
3 Entrou então Satanás em
Judas, que tinha por sobrenome Iscariotes, que era um dos doze;
4 e foi ele tratar com os
principais sacerdotes e com os capitães de como lho entregaria.
5 Eles se alegraram com isso,
e convieram em lhe dar dinheiro.
6 E ele concordou, e buscava
ocasião para lho entregar sem alvoroço.
7 Ora, chegou o dia dos pães
ázimos, em que se devia imolar a páscoa;
8 e Jesus enviou a Pedro e a
João, dizendo: Ide, preparai-nos a páscoa, para que a comamos.
9 Perguntaram-lhe eles: Onde
queres que a preparemos?
10 Respondeu-lhes: Quando
entrardes na cidade, sair-vos-á ao encontro um homem, levando um cântaro de
água; segui-o até a casa em que ele entrar.
11 E direis ao dono da casa:
O Mestre manda perguntar-te: Onde está o aposento em que hei de comer a páscoa
com os meus discípulos?
12 Então ele vos mostrará um
grande cenáculo mobiliado; aí fazei os preparativos.
13 Foram, pois, e acharam
tudo como lhes dissera e prepararam a páscoa.
14 E, chegada a hora, pôs-se
Jesus à mesa, e com ele os apóstolos.
15 E disse-lhes: Tenho
desejado ardentemente comer convosco esta páscoa, antes da minha paixão;
16 pois vos digo que não a
comerei mais até que ela se cumpra no reino de Deus.
17 Então havendo recebido um
cálice, e tendo dado graças, disse: Tomai-o, e reparti-o entre vós;
18 porque vos digo que desde
agora não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus.
19 E tomando pão, e havendo
dado graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por
vós; fazei isto em memória de mim.
20 Semelhantemente, depois da
ceia, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo pacto em meu sangue, que é
derramado por vós.
21 Mas eis que a mão do que
me trai está comigo à mesa.
22 Porque, na verdade, o
Filho do homem vai segundo o que está determinado; mas ai daquele homem por
quem é traído!
23 Então eles começaram a perguntar
entre si qual deles o que ia fazer isso.
24 Levantou-se também entre
eles contenda, sobre qual deles parecia ser o maior.
25 Ao que Jesus lhes disse:
Os reis dos gentios dominam sobre eles, e os que sobre eles exercem autoridade
são chamados benfeitores.
26 Mas vós não sereis assim;
antes o maior entre vós seja como o mais novo; e quem governa como quem serve.
27 Pois qual é maior, quem
está à mesa, ou quem serve? porventura não é quem está à mesa? Eu, porém, estou
entre vós como quem serve.
28 Mas vós sois os que tendes
permanecido comigo nas minhas provações;
29 e assim como meu Pai me
conferiu domínio, eu vo-lo confiro a vós;
30 para que comais e bebais à
minha mesa no meu reino, e vos senteis sobre tronos, julgando as doze tribos de
Israel.
31 Simão, Simão, eis que
Satanás vos pediu para vos cirandar como trigo;
32 mas eu roguei por ti, para
que a tua fé não desfaleça; e tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos.
33 Respondeu-lhe Pedro:
Senhor, estou pronto a ir contigo tanto para a prisão como para a morte.
34 Tornou-lhe Jesus: Digo-te,
Pedro, que não cantará hoje o galo antes que três vezes tenhas negado que me
conheces.
35 E perguntou-lhes: Quando
vos mandei sem bolsa, alforje, ou alparcas, faltou-vos porventura alguma coisa?
Eles responderam: Nada.
36 Disse-lhes pois: Mas
agora, quem tiver bolsa, tome-a, como também o alforje; e quem não tiver
espada, venda o seu manto e compre-a.
37 Porquanto vos digo que
importa que se cumpra em mim isto que está escrito: E com os malfeitores foi
contado. Pois o que me diz respeito tem seu cumprimento.
38 Disseram eles: Senhor, eis
aqui duas espadas. Respondeu-lhes: Basta.
39 Então saiu e, segundo o
seu costume, foi para o Monte das Oliveiras; e os discípulos o seguiam.
40 Quando chegou àquele
lugar, disse-lhes: Orai, para que não entreis em tentação.
41 E apartou-se deles cerca
de um tiro de pedra; e pondo-se de joelhos, orava,
42 dizendo: Pai, se queres
afasta de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.
43 Então lhe apareceu um anjo
do céu, que o confortava.
44 E, posto em agonia, orava
mais intensamente; e o seu suor tornou-se como grandes gotas de sangue, que
caíam sobre o chão.
45 Depois, levantando-se da
oração, veio para os seus discípulos, e achou-os dormindo de tristeza;
46 e disse-lhes: Por que
estais dormindo? Lenvantai-vos, e orai, para que não entreis em tentação.
47 E estando ele ainda a
falar, eis que surgiu uma multidão; e aquele que se chamava Judas, um dos doze,
ia adiante dela, e chegou-se a Jesus para o beijar.
48 Jesus, porém, lhe disse:
Judas, com um beijo trais o Filho do homem?
49 Quando os que estavam com
ele viram o que ia suceder, disseram: Senhor, feri-los-emos a espada?
50 Então um deles feriu o
servo do sumo sacerdote, e cortou-lhe a orelha direita.
51 Mas Jesus disse:
Deixei-os; basta. E tocando-lhe a orelha, o curou.
52 Então disse Jesus aos
principais sacerdotes, oficiais do templo e anciãos, que tinham ido contra ele:
Saístes, como a um salteador, com espadas e varapaus?
53 Todos os dias estava eu convosco
no templo, e não estendestes as mãos contra mim; mas esta é a vossa hora e o
poder das trevas.
54 Então, prendendo-o, o
levaram e o introduziram na casa do sumo sacerdote; e Pedro seguia-o de longe.
56 E tendo eles acendido fogo
no meio do pátio e havendo-se sentado à roda, sentou-se Pedro entre eles.
57 Mas Pedro o negou,
dizendo: Mulher, não o conheço.
58 Daí a pouco, outro o viu,
e disse: Tu também és um deles. Mas Pedro disse: Homem, não sou.
59 E, tendo passado quase uma
hora, outro afirmava, dizendo: Certamente este também estava com ele, pois é
galileu.
60 Mas Pedro respondeu:
Homem, não sei o que dizes. E imediatamente estando ele ainda a falar, cantou o
galo.
61 Virando-se o Senhor, olhou
para Pedro; e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Hoje,
antes que o galo cante, três vezes me negarás.
62 E, havendo saído, chorou
amargamente.
63 Os homens que detinham
Jesus zombavam dele, e feriam-no;
64 e, vendando-lhe os olhos,
perguntavam, dizendo: Profetiza, quem foi que te bateu?
65 E, blasfemando, diziam
muitas outras coisas contra ele.
66 Logo que amanheceu
reuniu-se a assembléia dos anciãos do povo, tanto os principais sacerdotes como
os escribas, e o conduziam ao sinédrio deles, onde lhe disseram:
67 Se tu és o Cristo, dize-no-lo.
Replicou-lhes ele: Se eu vo-lo disser, não o crereis;
68 e se eu vos interrogar, de
modo algum me respondereis.
69 Mas desde agora estará
assentado o Filho do homem à mão direita do poder de Deus.
70 Ao que perguntaram todos:
Logo, tu és o Filho de Deus? Respondeu-lhes: Vós dizeis que eu sou.
71 Então disseram: Por que
ainda temos necessidade de testemunho? pois nós mesmos o ouvimos da sua própria
boca.
»LUCAS [23]
1 E levantando-se toda a
multidão deles, conduziram Jesus a Pilatos.
2 E começaram a acusá-lo,
dizendo: Achamos este homem pervertendo a nossa nação, proibindo dar o tributo
a César, e dizendo ser ele mesmo Cristo, rei.
3 Pilatos, pois,
perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus? Respondeu-lhe Jesus: É como dizes.
4 Então disse Pilatos aos
principais sacerdotes, e às multidões: Não acho culpa alguma neste homem.
5 Eles, porém, insistiam
ainda mais, dizendo: Alvoroça o povo ensinando por toda a Judéia, começando
desde a Galiléia até aqui.
6 Então Pilatos, ouvindo
isso, perguntou se o homem era galileu;
7 e, quando soube que era da
jurisdição de Herodes, remeteu-o a Herodes, que também naqueles dias estava em
Jerusalém.
8 Ora, quando Herodes viu a
Jesus, alegrou-se muito; pois de longo tempo desejava vê-lo, por ter ouvido
falar a seu respeito; e esperava ver algum sinal feito por ele;
9 e fazia-lhe muitas
perguntas; mas ele nada lhe respondeu.
10 Estavam ali os principais
sacerdotes, e os escribas, acusando-o com grande veemência.
11 Herodes, porém, com os
seus soldados, desprezou-o e, escarnecendo dele, vestiu-o com uma roupa
resplandecente e tornou a enviá-lo a Pilatos.
12 Nesse mesmo dia Pilatos e
Herodes tornaram-se amigos; pois antes andavam em inimizade um com o outro.
13 Então Pilatos convocou os
principais sacerdotes, as autoridades e o povo,
14 e disse-lhes:
Apresentastes-me este homem como pervertedor do povo; e eis que, interrogando-o
diante de vós, não achei nele nenhuma culpa, das de que o acusais;
15 nem tampouco Herodes, pois
no-lo tornou a enviar; e eis que não tem feito ele coisa alguma digna de morte.
16 Castigá-lo-ei, pois, e o
soltarei.
17 [E era-lhe necessário
soltar-lhes um pela festa.]
18 Mas todos clamaram à uma,
dizendo: Fora com este, e solta-nos Barrabás!
19 Ora, Barrabás fora lançado
na prisão por causa de uma sedição feita na cidade, e de um homicídio.
20 Mais uma vez, pois,
falou-lhes Pilatos, querendo soltar a Jesus.
21 Eles, porém, bradavam,
dizendo: Crucifica-o! crucifica-o!
22 Falou-lhes, então, pela
terceira vez: Pois, que mal fez ele? Não achei nele nenhuma culpa digna de
morte. Castigá-lo-ei, pois, e o soltarei.
23 Mas eles instavam com
grandes brados, pedindo que fosse crucificado. E prevaleceram os seus clamores.
24 Então Pilatos resolveu
atender-lhes o pedido;
25 e soltou-lhes o que fora
lançado na prisão por causa de sedição e de homicídio, que era o que eles
pediam; mas entregou Jesus à vontade deles.
26 Quando o levaram dali
tomaram um certo Simão, cireneu, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às
costas, para que a levasse após Jesus.
27 Seguia-o grande multidão
de povo e de mulheres, as quais o pranteavam e lamentavam.
28 Jesus, porém, voltando-se
para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por
vós mesmas, e por vossos filhos.
29 Porque dias hão de vir em
que se dirá: Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que não geraram, e os
peitos que não amamentaram!
30 Então começarão a dizer
aos montes: Caí sobre nós; e aos outeiros: Cobri-nos.
31 Porque, se isto se faz no
lenho verde, que se fará no seco?
32 E levavam também com ele
outros dois, que eram malfeitores, para serem mortos.
33 Quando chegaram ao lugar
chamado Caveira, ali o crucificaram, a ele e também aos malfeitores, um à
direita e outro à esquerda.
34 Jesus, porém, dizia: Pai,
perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem. Então repartiram as vestes dele,
deitando sortes sobre elas.
35 E o povo estava ali a
olhar. E as próprias autoridades zombavam dele, dizendo: Aos outros salvou;
salve-se a si mesmo, se é o Cristo, o escolhido de Deus.
36 Os soldados também o escarneciam,
chegando-se a ele, oferecendo-lhe vinagre,
37 e dizendo: Se tu és o rei
dos judeus, salva-te a ti mesmo.
38 Por cima dele estava esta
inscrição [em letras gregas, romanas e hebraicas:] ESTE É O REI DOS JUDEUS.
39 Então um dos malfeitores
que estavam pendurados, blasfemava dele, dizendo: Não és tu o Cristo? salva-te
a ti mesmo e a nós.
40 Respondendo, porém, o
outro, repreendia-o, dizendo: Nem ao menos temes a Deus, estando na mesma
condenação?
41 E nós, na verdade, com
justiça; porque recebemos o que os nossos feitos merecem; mas este nenhum mal
fez.
42 Então disse: Jesus,
lembra-te de mim, quando entrares no teu reino.
43 Respondeu-lhe Jesus: Em
verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso.
44 Era já quase a hora sexta,
e houve trevas em toda a terra até a hora nona, pois o sol se escurecera;
45 e rasgou-se ao meio o véu
do santuário.
46 Jesus, clamando com grande
voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isso,
expirou.
47 Quando o centurião viu o
que acontecera, deu glória a Deus, dizendo: Na verdade, este homem era justo.
48 E todas as multidões que
presenciaram este espetáculo, vendo o que havia acontecido, voltaram batendo no
peito.
49 Entretanto, todos os
conhecidos de Jesus, e as mulheres que o haviam seguido desde a Galiléia,
estavam de longe vendo estas coisas.
50 Então um homem chamado
José, natural de Arimatéia, cidade dos judeus, membro do sinédrio, homem bom e
justo,
51 o qual não tinha
consentido no conselho e nos atos dos outros, e que esperava o reino de Deus,
52 chegando a Pilatos,
pediu-lhe o corpo de Jesus;
53 e tirando-o da cruz,
envolveu-o num pano de linho, e pô-lo num sepulcro escavado em rocha, onde
ninguém ainda havia sido posto.
54 Era o dia da preparação, e
ia começar o sábado.
55 E as mulheres que tinham
vindo com ele da Galiléia, seguindo a José, viram o sepulcro, e como o corpo
foi ali depositado.
56 Então voltaram e
prepararam especiarias e ungüentos. E no sábado repousaram, conforme o
mandamento.
»LUCAS [24]
1 Mas já no primeiro dia da
semana, bem de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que
tinham preparado.
2 E acharam a pedra revolvida
do sepulcro.
3 Entrando, porém, não
acharam o corpo do Senhor Jesus.
4 E, estando elas perplexas a
esse respeito, eis que lhes apareceram dois varões em vestes resplandecentes;
5 e ficando elas atemorizadas
e abaixando o rosto para o chão, eles lhes disseram: Por que buscais entre os
mortos aquele que vive?
6 Ele não está aqui, mas
ressurgiu. Lembrai-vos de como vos falou, estando ainda na Galiléia.
7 dizendo: Importa que o
Filho do homem seja entregue nas mãos de homens pecadores, e seja crucificado,
e ao terceiro dia ressurja.
8 Lembraram-se, então, das
suas palavras;
9 e, voltando do sepulcro,
anunciaram todas estas coisas aos onze e a todos os demais.
10 E eram Maria Madalena, e
Joana, e Maria, mãe de Tiago; também as outras que estavam com elas relataram
estas coisas aos apóstolos.
11 E pareceram-lhes como um
delírio as palavras das mulheres e não lhes deram crédito.
12 Mas Pedro, levantando-se,
correu ao sepulcro; e, abaixando-se, viu somente os panos de linho; e
retirou-se, admirando consigo o que havia acontecido.
13 Nesse mesmo dia, iam dois
deles para uma aldeia chamada Emaús, que distava de Jerusalém sessenta
estádios;
14 e iam comentando entre si
tudo aquilo que havia sucedido.
15 Enquanto assim comentavam
e discutiam, o próprio Jesus se aproximou, e ia com eles;
16 mas os olhos deles estavam
como que fechados, de sorte que não o reconheceram.
17 Então ele lhes perguntou: Que
palavras são essas que, caminhando, trocais entre vós? Eles então pararam
tristes.
18 E um deles, chamado
Cleopas, respondeu-lhe: És tu o único peregrino em Jerusalém que não soube das
coisas que nela têm sucedido nestes dias?
19 Ao que ele lhes perguntou:
Quais? Disseram-lhe: As que dizem respeito a Jesus, o nazareno, que foi
profeta, poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo.
20 e como os principais
sacerdotes e as nossas autoridades e entregaram para ser condenado à morte, e o
crucificaram.
21 Ora, nós esperávamos que
fosse ele quem havia de remir Israel; e, além de tudo isso, é já hoje o
terceiro dia desde que essas coisas aconteceram.
22 Verdade é, também, que
algumas mulheres do nosso meio nos encheram de espanto; pois foram de madrugada
ao sepulcro
23 e, não achando o corpo
dele voltaram, declarando que tinham tido uma visão de anjos que diziam estar
ele vivo.
24 Além disso, alguns dos que
estavam conosco foram ao sepulcro, e acharam ser assim como as mulheres haviam
dito; a ele, porém, não o viram.
25 Então ele lhes disse: ó
néscios, e tardos de coração para crerdes tudo o que os profetas disseram!
26 Porventura não importa que
o Cristo padecesse essas coisas e entrasse na sua glória?
27 E, começando por Moisés, e
por todos os profetas, explicou-lhes o que dele se achava em todas as
Escrituras.
28 Quando se aproximaram da
aldeia para onde iam, ele fez como quem ia para mais longe.
29 Eles, porém, o
constrangeram, dizendo: Fica conosco; porque é tarde, e já declinou o dia. E
entrou para ficar com eles.
30 Estando com eles à mesa,
tomou o pão e o abençoou; e, partindo-o, lho dava.
31 Abriram-se-lhes então os
olhos, e o reconheceram; nisto ele desapareceu de diante deles.
32 E disseram um para o
outro: Porventura não se nos abrasava o coração, quando pelo caminho nos
falava, e quando nos abria as Escrituras?
33 E na mesma hora
levantaram-se e voltaram para Jerusalém, e encontraram reunidos os onze e os
que estavam com eles,
34 os quais diziam: Realmente
o Senhor ressurgiu, e apareceu a Simão.
35 Então os dois contaram o
que acontecera no caminho, e como se lhes fizera conhecer no partir do pão.
36 Enquanto ainda falavam
nisso, o próprio Jesus se apresentou no meio deles, e disse-lhes: Paz seja
convosco.
37 Mas eles, espantados e
atemorizados, pensavam que viam algum espírito.
38 Ele, porém, lhes disse:
Por que estais perturbados? e por que surgem dúvidas em vossos corações?
39 Olhai as minhas mãos e os
meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e vede; porque um espírito não tem carne
nem ossos, como percebeis que eu tenho.
40 E, dizendo isso,
mostrou-lhes as mãos e os pés.
41 Não acreditando eles ainda
por causa da alegria, e estando admirados, perguntou-lhes Jesus: Tendes aqui
alguma coisa que comer?
42 Então lhe deram um pedaço
de peixe assado,
43 o qual ele tomou e comeu
diante deles.
44 Depois lhe disse: São
estas as palavras que vos falei, estando ainda convosco, que importava que se
cumprisse tudo o que de mim estava escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos
Salmos.
45 Então lhes abriu o
entendimento para compreenderem as Escrituras;
46 e disse-lhes: Assim está
escrito que o Cristo padecesse, e ao terceiro dia ressurgisse dentre os mortos;
47 e que em seu nome se
pregasse o arrependimento para remissão dos pecados, a todas as nações,
começando por Jerusalém.
48 Vós sois testemunhas
destas coisas.
49 E eis que sobre vós envio
a promessa de meu Pai; ficai porém, na cidade, até que do alto sejais
revestidos de poder.
50 Então os levou fora, até
Betânia; e levantando as mãos, os abençoou.
51 E aconteceu que, enquanto
os abençoava, apartou-se deles; e foi elevado ao céu.
52 E, depois de o adorarem,
voltaram com grande júbilo para Jerusalém;
53 e estavam continuamente no
templo, bendizendo a Deus.
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