I SAMUEL [1]
1 Houve um homem de
Ramataim-Zofim, da região montanhosa de Efraim, cujo nome era Elcana, filho de
Jeroão, filho de Eliú, filho de Toú, filho de Zufe, efraimita.
2 Tinha ele duas mulheres:
uma se chamava Ana, e a outra Penina. Penina tinha filhos, porém Ana não os
tinha.
3 De ano em ano este homem
subia da sua cidade para adorar e sacrificar ao Senhor dos exércitos em Siló.
Assistiam ali os sacerdotes do Senhor, Hofni e Finéias, os dois filhos de Eli.
4 No dia em que Elcana
sacrificava, costumava dar quinhões a Penina, sua mulher, e a todos os seus
filhos e filhas;
5 porém a Ana, embora a amasse,
dava um só quinhão, porquanto o Senhor lhe havia cerrado a madre.
6 Ora, a sua rival muito a
provocava para irritá-la, porque o Senhor lhe havia cerrado a madre.
7 E assim sucedia de ano em
ano que, ao subirem à casa do Senhor, Penina provocava a Ana; pelo que esta
chorava e não comia.
8 Então Elcana, seu marido,
lhe perguntou: Ana, por que choras? e porque não comes? e por que está triste o
teu coração? Não te sou eu melhor de que dez filhos?
9 Então Ana se levantou,
depois que comeram e beberam em Siló; e Eli, sacerdote, estava sentado, numa
cadeira, junto a um pilar do templo do Senhor.
10 Ela, pois, com amargura de
alma, orou ao Senhor, e chorou muito,
11 e fez um voto, dizendo: ó
Senhor dos exércitos! se deveras atentares para a aflição da tua serva, e de
mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas lhe deres um filho
varão, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e pela sua cabeça não
passará navalha.
12 Continuando ela a orar
perante e Senhor, Eli observou a sua boca;
13 porquanto Ana falava no
seu coração; só se moviam os seus lábios, e não se ouvia a sua voz; pelo que
Eli a teve por embriagada,
14 e lhe disse: Até quando
estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho.
15 Mas Ana respondeu: Não,
Senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; não bebi vinho nem bebida
forte, porém derramei a minha alma perante o Senhor.
16 Não tenhas, pois, a tua
serva por filha de Belial; porque da multidão dos meus cuidados e do meu
desgosto tenho falado até agora.
17 Então lhe respondeu Eli:
Vai-te em paz; e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste.
18 Ao que disse ela: Ache a
tua serva graça aos teus olhos. Assim a mulher se foi o seu caminho, e comeu, e
já não era triste o seu semblante.
19 Depois, levantando-se de
madrugada, adoraram perante o Senhor e, voltando, foram a sua casa em Ramá.
Elcana conheceu a Ana, sua mulher, e o Senhor se lembrou dela.
20 De modo que Ana concebeu
e, no tempo devido, teve um filho, ao qual chamou Samuel; porque, dizia ela, o
tenho pedido ao Senhor.
21 Subiu, pois aquele homem,
Elcana, com toda a sua casa, para oferecer ao Senhor o sacrifício anual e
cumprir o seu voto.
22 Ana, porém, não subiu,
pois disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então e levarei, para
que apareça perante o Senhor, e lá fique para sempre.
23 E Elcana, seu marido, lhe
disse: faze o que bem te parecer; fica até que o desmames; tão-somente confirme
o Senhor a sua palavra. Assim ficou a mulher, e amamentou seu filho, até que o
desmamou.
24 Depois de o ter desmamado,
ela o tomou consigo, com um touro de três anos, uma efa de farinha e um odre de
vinho, e o levou à casa do Senhor, em Siló; e era o menino ainda muito criança.
25 Então degolaram o touro, e
trouxeram o menino a Eli;
26 e disse ela: Ah, meu
Senhor! tão certamente como vive a tua alma, meu Senhor, eu sou aquela mulher
que aqui esteve contigo, orando ao Senhor.
27 Por este menino orava eu,
e o Senhor atendeu a petição que eu lhe fiz.
28 Por isso eu também o
entreguei ao Senhor; por todos os dias que viver, ao Senhor está entregue. E
adoraram ali ao Senhor.
»I SAMUEL [2]
1 Então Ana orou, dizendo: O
meu coração exulta no Senhor; o meu poder está exaltado no Senhor; a minha boca
dilata-se contra os meus inimigos, porquanto me regozijo na tua salvação.
2 Ninguém há santo como o
Senhor; não há outro fora de ti; não há rocha como a nosso Deus.
3 Não faleis mais palavras
tão altivas, nem saia da vossa boca a arrogância; porque o Senhor é o Deus da
sabedoria, e por ele são pesadas as ações.
4 Os arcos dos fortes estão
quebrados, e os fracos são cingidos de força.
5 Os que eram fartos se
alugam por pão, e deixam de ter fome os que eram famintos; até a estéril teve
sete filhos, e a que tinha muitos filhos enfraquece.
6 O Senhor é o que tira a
vida e a dá; faz descer ao Seol e faz subir dali.
7 O Senhor empobrece e
enriquece; abate e também exalta.
8 Levanta do pó o pobre, do
monturo eleva o necessitado, para os fazer sentar entre os príncipes, para os
fazer herdar um trono de glória; porque do Senhor são as colunas da terra,
sobre elas pôs ele o mundo.
9 Ele guardará os pés dos
seus santos, porém os ímpios ficarão mudos nas trevas, porque o homem não
prevalecerá pela força.
10 Os que contendem com o
Senhor serão quebrantados; desde os céus trovejará contra eles. O Senhor
julgará as extremidades da terra; dará força ao seu rei, e exaltará o poder do
seu ungido.
11 Então Elcana se retirou a
Ramá, à sua casa. O menino, porém, ficou servindo ao Senhor perante e sacerdote
Eli.
12 Ora, os filhos de Eli eram
homens ímpios; não conheciam ao Senhor.
13 Porquanto o costume desses
sacerdotes para com o povo era que, oferecendo alguém um sacrifício, e
estando-se a cozer a carne, vinha o servo do sacerdote, tendo na mão um garfo
de três dentes,
14 e o metia na panela, ou no
tacho, ou no caldeirão, ou na marmita; e tudo quanto a garfo tirava, o
sacerdote tomava para si. Assim faziam a todos os de Israel que chegavam ali em
Siló.
15 Também, antes de queimarem
a gordura, vinha o servo do sacerdote e dizia ao homem que sacrificava: Dá carne
de assar para o sacerdote; porque não receberá de ti carne cozida, mas crua.
16 se lhe respondia o homem:
Sem dúvida, logo há de ser queimada a gordura e depois toma quanto desejar a
tua alma; então ele lhe dizia: Não hás de dá-la agora; se não, à força a
tomarei.
17 Era, pois, muito grande o
pecado destes mancebos perante o Senhor, porquanto os homens vieram a desprezar
a oferta do Senhor.
18 Samuel, porém, ministrava
perante o Senhor, sendo ainda menino, vestido de um éfode de linho.
19 E sua mãe lhe fazia de ano
em ano uma túnica pequena, e lha trazia quando com seu marido subia para
oferecer o sacrifício anual.
20 Então Eli abençoava a
Elcana e a sua mulher, e dizia: O Senhor te dê desta mulher descendência, pelo
empréstimo que fez ao Senhor. E voltavam para o seu lugar.
21 Visitou, pois, o Senhor a
Ana, que concebeu, e teve três filhos e duas filhas. Entrementes, o menino
Samuel crescia diante do Senhor.
22 Eli era já muito velho; e
ouvia tudo quanto seus filhos faziam a todo o Israel, e como se deitavam com as
mulheres que ministravam à porta da tenda da revelação.
23 E disse-lhes: Por que
fazeis tais coisas? pois ouço de todo este povo os vossos malefícios.
24 Não, filhos meus, não é
boa fama esta que ouço. Fazeis transgredir o povo do Senhor.
25 Se um homem pecar contra
outro, Deus o julgará; mas se um homem pecar contra o Senhor, quem intercederá
por ele? Todavia eles não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria
destruir.
26 E o menino Samuel ia
crescendo em estatura e em graça diante do Senhor, como também diante dos
homens.
27 Veio um homem de Deus a
Eli, e lhe disse: Assim diz o Senhor: Não me revelei, na verdade, à casa de teu
pai, estando eles ainda no Egito, sujeitos à casa de Faraó?
28 E eu o escolhi dentre
todas as tribos de Israel para ser o meu sacerdote, para subir ao meu altar,
para queimar o incenso, e para trazer o éfode perante mim; e dei à casa de teu
pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel.
29 Por que desprezais o meu
sacrifício e a minha oferta, que ordenei se fizessem na minha morada, e por que
honras a teus filhos mais de que a mim, de modo a vos engordardes do principal
de todas as ofertas do meu povo Israel?
30 Portanto, diz o Senhor
Deus de Israel: Na verdade eu tinha dito que a tua casa e a casa de teu pai
andariam diante de mim perpetuamente. Mas agora o Senhor diz: Longe de mim tal
coisa, porque honrarei aos que me honram, mas os que me desprezam serão
desprezados.
31 Eis que vêm dias em que
cortarei o teu braço e o braço da casa de teu pai, para que não haja mais
ancião algum em tua casa.
32 E tu, na angústia, olharás
com inveja toda a prosperidade que hei de trazer sobre Israel; e não haverá por
todos os dias ancião algum em tua casa.
33 O homem da tua linhagem a
quem eu não desarraigar do meu altar será para consumir-te os olhos e para
entristecer-te a alma; e todos es descendentes da tua casa morrerão pela espada
dos homens.
34 E te será por sinal o que
sobrevirá a teus dois filhos, a Hofni e a Finéias; ambos morrerão no mesmo dia.
35 E eu suscitarei para mim
um sacerdote fiel, que fará segundo o que está no meu coração e na minha mente.
Edificar-lhe-ei uma casa duradoura, e ele andará sempre diante de meu ungido.
36 Também todo aquele que
ficar de resto da tua casa virá a inclinar-se diante dele por uma moeda de
prata e por um pedaço de pão, e dirá: Rogo-te que me admitas a algum cargo
sacerdotal, para que possa comer um bocado de pão.
»I SAMUEL [3]
1 Entretanto, o menino Samuel
servia ao Senhor perante Eli. E a palavra de Senhor era muito rara naqueles
dias; as visões não eram freqüentes.
2 Sucedeu naquele tempo que,
estando Eli deitado no seu lugar (ora, os seus olhos começavam já a escurecer,
de modo que não podia ver),
3 e ainda não se havendo
apagado a lâmpada de Deus, e estando Samuel também deitado no templo do Senhor,
onde estava a arca de Deus,
4 o Senhor chamou: Samuel!
Samuel! Ele respondeu: Eis-me aqui.
5 E correndo a Eli,
disse-lhe: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Eu não te chamei;
torna a deitar-te. E ele foi e se deitou.
6 Tornou o Senhor a chamar:
Samuel! E Samuel se levantou, foi a Eli e disse: Eis-me aqui, porque tu me
chamaste. Mas ele disse: Eu não te chamei, filho meu; torna a deitar-te.
7 Ora, Samuel ainda não
conhecia ao Senhor, e a palavra de Senhor ainda não lhe tinha sido revelada.
8 O Senhor, pois, tornou a
chamar a Samuel pela terceira vez. E ele, levantando-se, foi a Eli e disse:
Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Então entendeu Eli que o Senhor chamava o
menino.
9 Pelo que Eli disse a
Samuel: Vai deitar-te, e há de ser que, se te chamar, dirás: Fala, Senhor,
porque o teu servo ouve. Foi, pois, Samuel e deitou-se no seu lugar.
10 Depois veio o Senhor,
parou e chamou como das outras vezes: Samuel! Samuel! Ao que respondeu Samuel:
Fala, porque o teu servo ouve.
11 Então disse o Senhor a
Samuel: Eis que vou fazer uma coisa em Israel, a qual fará tinir ambos os
ouvidos a todo o que a ouvir.
12 Naquele mesmo dia
cumprirei contra Eli, de princípio a fim, tudo quanto tenho falado a respeito
da sua casa.
13 Porque já lhe fiz: saber
que hei de julgar a sua casa para sempre, por causa da iniqüidade de que ele
bem sabia, pois os seus filhos blasfemavam a Deus, e ele não os repreendeu.
14 Portanto, jurei à casa de
Eli que nunca jamais será expiada a sua iniqüidade, nem com sacrifícios, nem
com ofertas.
15 Samuel ficou deitado até
pela manhã, e então abriu as portas da casa do Senhor; Samuel, porém, temia
relatar essa visão a Eli.
16 Mas chamou Eli a Samuel, e
disse: Samuel, meu filho! Ao que este respondeu: Eis-me aqui.
17 Eli perguntou-lhe: Que te
falou o Senhor? peço-te que não mo encubras; assim Deus te faça, e outro tanto,
se me encobrires alguma coisa de tudo o que te falou.
18 Samuel, pois, relatou-lhe
tudo, e nada lhe encobriu. Então disse Eli: Ele é o Senhor, faça o que bem
parecer aos seus olhos.
19 Samuel crescia, e o Senhor
era com ele e não deixou nenhuma de todas as suas palavras cair em terra.
20 E todo o Israel, desde Dã
até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado como profeta do Senhor.
21 E voltou o Senhor a
aparecer em Siló; porquanto o Senhor se manifestava a Samuel em Siló pela sua
palavra. E chegava a palavra de Samuel a todo o Israel.
»I SAMUEL [4]
1 Ora, saiu Israel à batalha
contra os filisteus, e acampou-se perto de Ebenézer; e os filisteus se acamparam
junto a Afeque.
2 E os filisteus se
dispuseram em ordem de batalha contra Israel; e, travada a peleja, Israel foi
ferido diante dos filisteus, que mataram no campo cerca de quatro mil homens do
exército.
3 Quando o povo voltou ao
arraial, disseram os anciãos de Israel: Por que nos feriu o Senhor hoje diante
dos filisteus? Tragamos para nós de Siló a arca do pacto do Senhor, para que
ela venha para o meio de nós, e nos livre da mão de nossos inimigos.
4 Enviou, pois, o povo a
Siló, e trouxeram de lá a arca do pacto do Senhor dos exércitos, que se assenta
sobre os querubins; e os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias, estavam ali com a
arca do pacto de Deus.
5 Quando a arca do pacto do
Senhor chegou ao arraial, prorrompeu todo o Israel em grandes gritos, de modo
que a terra vibrou.
6 E os filisteus, ouvindo o
som da gritaria, disseram: Que quer dizer esta grande vozearia no arraial dos
hebreus? Quando souberam que a arca do Senhor havia chegado ao arraial,
7 os filisteus se
atemorizaram; e diziam: Os deuses vieram ao arraial. Diziam mais: Ai de nós!
porque nunca antes sucedeu tal coisa.
8 Ai de nós! quem nos livrará
da mão destes deuses possantes? Estes são os deuses que feriram aos egípcios
com toda sorte de pragas no deserto.
9 Esforçai-vos, e portai-vos
varonilmente, ó filisteus, para que porventura não venhais a ser escravos dos
hebreus, como eles o foram vossos; portai-vos varonilmente e pelejai.
10 Então pelejaram os
filisteus, e Israel foi derrotado, fugindo cada um para a sua tenda; e houve
mui grande matança, pois caíram de Israel trinta mil homens de infantaria.
11 Também foi tomada a arca
de Deus, e os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias, foram mortos.
12 Então um homem de
Benjamim, correndo do campo de batalha chegou no mesmo dia a Siló, com as vestes
rasgadas e terra sobre a cabeça.
13 Ao chegar ele, estava Eli
sentado numa cadeira ao pé do caminho vigiando, porquanto o seu coração estava
tremendo pela arca de Deus. E quando aquele homem chegou e anunciou isto na
cidade, a cidade toda prorrompeu em lamentações.
14 E Eli, ouvindo a voz do
lamento, perguntou: Que quer dizer este alvoroço? Então o homem, apressando-se,
chegou e o anunciou a Eli.
15 Ora, Eli tinha noventa e
oito anos; e os seus olhos haviam cegado, de modo que já não podia ver.
16 E disse aquele homem a
Eli: Estou vindo do campo de batalha, donde fugi hoje mesmo. Perguntou Eli: Que
foi que sucedeu, meu filho?
17 Então respondeu o que
trazia as novas, e disse: Israel fugiu de diante dos filisteus, e houve grande
matança entre o povo; além disto, também teus dois filhos, Hofni e Finéias, são
mortos, e a arca de Deus é tomada.
18 Quando ele fez menção da
arca de Deus, Eli caiu da cadeira para trás, junto à porta, e quebrou-se-lhe o
pescoço, e morreu, porquanto era homem velho e pesado. Ele tinha julgado a
Israel quarenta anos.
19 E estando sua nora, a
mulher de Finéias, grávida e próxima ao parto, e ouvindo estas novas, de que a
arca de Deus era tomada, e de que seu sogro e seu marido eram mortos,
encurvou-se e deu à luz, porquanto as dores lhe sobrevieram.
20 E, na hora em que ia
morrendo, disseram as mulheres que estavam com ela: Não temas, pois tiveste um
filho. Ela, porém, não respondeu, nem deu atenção a isto.
21 E chamou ao menino de
Icabô, dizendo: De Israel se foi a glória! Porque fora tomada a arca de Deus, e
por causa de seu sogro e de seu marido.
22 E disse: De Israel se foi
a glória, pois é tomada a arca de Deus.
»I SAMUEL [5]
1 Os filisteus, pois, tomaram
a arca de Deus, e a levaram de Ebenézer a Asdode.
2 Então os filisteus tomaram
a arca de Deus e a introduziram na casa de Dagom, e a puseram junto a Dagom.
3 Levantando-se, porém, de
madrugada no dia seguinte os de Asdode, eis que Dagom estava caído com o rosto
em terra diante da arca do Senhor; e tomaram a Dagom, e tornaram a pô-lo no seu
lugar.
4 E, levantando-se eles de
madrugada no dia seguinte, eis que Dagom estava caído com o rosto em terra
diante da arca do Senhor; e a cabeça de Dagom e ambas as suas mãos estavam
cortadas sobre o limiar; somente o tronco ficou a Dagom.
5 Pelo que nem os sacerdotes
de Dagom, nem nenhum de todos os que entram na casa de Dagom, pisam o limiar de
Dagom em Asdode, até o dia de hoje.
6 Entretanto a mão do Senhor
se agravou sobre os de Asdode, e os assolou, e os feriu com tumores, a Asdode e
aos seus termos.
7 O que tendo visto os homens
de Asdode, disseram: Não fique conosco a arca do Deus de Israel, pois a sua mão
é dura sobre nós, e sobre Dagom, nosso deus.
8 Pelo que enviaram
mensageiros e congregaram a si todos os chefes dos filisteus, e disseram: Que
faremos nós da arca do Deus de Israel? Responderam: Seja levada para Gate.
Assim levaram para lá a arca do Deus de Israel.
9 E desde que a levaram para
lá, a mão do Senhor veio contra aquela cidade, causando grande pânico; pois
feriu aos homens daquela cidade, desde o pequeno até o grande, e nasceram-lhes
tumores.
10 Então enviaram a arca de
Deus a Ecrom. Sucedeu porém que, vindo a arca de Deus a Ecrom, os de Ecrom
exclamaram, dizendo: Transportaram para nós a arca de Deus de Israel, para nos
matar a nós e ao nosso povo.
11 Enviaram, pois,
mensageiros, e congregaram a todos os chefes dos filisteus, e disseram: Enviai
daqui a arca do Deus de Israel, e volte ela para o seu lugar, para que não nos
mate a nós e ao nosso povo. Porque havia pânico mortal em toda a cidade, e a
mão de Deus muito se agravara sobre ela.
12 Pois os homens que não
morriam eram feridos com tumores; de modo que o clamor da cidade subia até o
céu.
»I SAMUEL [6]
1 A arca do Senhor ficou na
terra dos filisteus sete meses.
2 Então os filisteus chamaram
os sacerdotes e os adivinhadores para dizer-lhes: Que faremos nós da arca do
Senhor? Fazei-nos saber como havemos de enviá-la para o seu lugar.
3 Responderam eles: Se
enviardes a arca do Deus de Israel, não a envieis vazia, porém sem falta
enviareis a ele uma oferta pela culpa; então sereis curados, e se vos fará
saber por que a sua mão não se retira de vós.
4 Então perguntaram: Qual é a
oferta pela culpa que lhe havemos de enviar? Eles responderam: Segundo o número
dos chefes dos filisteus, cinco tumores de ouro e cinco ratos de ouro, porque a
praga é uma e a mesma sobre todos os vossos príncipes.
5 Fazei, pois, imagens, dos
vossos tumores, e dos ratos que andam destruindo a terra, e dai glória ao Deus
de Israel; porventura aliviará o peso da sua mão de sobre vós, e de sobre vosso
deus, e de sobre vossa terra:
6 Por que, pois,
endureceríeis os vossos corações, como os egípcios e Faraó endureceram os seus
corações? Porventura depois de os haver Deus castigado, não deixaram ir o povo,
e este não se foi?
7 Agora, pois, fazei um carro
novo, tomai duas vacas que estejam criando, sobre as quais não tenha vindo o
jugo, atai-as ao carro e levai os seus bezerros de após elas para casa.
8 Tomai a arca de Senhor, e
ponde-a sobre o carro; também metei num cofre, ao seu lado, as jóias de ouro
que haveis de oferecer ao Senhor como ofertas pela culpa; e assim a enviareis,
para que se vá.
9 Reparai então: se ela subir
pelo caminho do seu termo a Bete-Semes, foi ele quem nos fez este grande mal;
mas, se não, saberemos que não foi a sua mão que nos feriu, e que isto nos
sucedeu por acaso.
10 Assim, pois, fizeram
aqueles homens: tomaram duas vacas que criavam, ataram-nas ao carro, e
encerraram os bezerros em casa;
11 também puseram a arca do
Senhor sobre o carro, bem como e cofre com os ratos de ouro e com as imagens
dos seus tumores.
12 Então as vacas foram
caminhando diretamente pelo caminho de Bete-Semes, seguindo a estrada, andando
e berrando, sem se desviarem nem para a direita nem para a esquerda; e os chefes
dos filisteus foram seguindo-as até o termo de Bete-Semes.
13 Ora, andavam os de
Bete-Semes fazendo a sega do trigo no vale; e, levantando os olhos, viram a
arca e, vendo-a, se alegraram.
14 Tendo chegado o carro ao
campo de Josué, o bete-semita, parou ali, onde havia uma grande pedra. Fenderam
a madeira do carro, e ofereceram as vacas ao Senhor em holocausto.
15 Nisso os levitas desceram
a arca do Senhor, como também o cofre que estava junto a ela, em que se achavam
as jóias de ouro, e puseram-nos sobre aquela grande pedra; e no mesmo dia os
homens de Bete-Semes ofereceram holocaustos e sacrifícios ao Senhor.
16 E os cinco chefes dos
filisteus, tendo visto aquilo, voltaram para Ecrom no mesmo dia.
17 Estes, pois, são os
tumores de ouro que os filisteus enviaram ao Senhor como oferta pela culpa: por
Asdode um, por Gaza outro, por Asquelom outro, por Gate outro, por Ecrom outro.
18 Como também os ratos de
ouro, segundo o número de todas as cidades dos filisteus, pertencentes aos
cinco chefes, desde as cidades fortificadas até as aldeias campestres. Disso é
testemunha a grande pedra sobre a qual puseram a arca do Senhor, pedra que
ainda está até o dia de hoje no campo de Josué, o bete-semita.
19 Ora, o Senhor feriu os
homens de Bete-Semes, porquanto olharam para dentro da arca do Senhor; feriu do
povo cinqüenta mil e setenta homens; então o povo se entristeceu, porque o
Senhor o ferira com tão grande morticínio.
20 Disseram os homens de
Bete-Semes: Quem poderia subsistir perante o Senhor, este Deus santo? e para
quem subirá de nós?
21 Enviaram, pois,
mensageiros aos habitantes de Quiriate-Jearim, para lhes dizerem: Os filisteus
remeteram a arca do Senhor; descei, e fazei-a subir para vós.
»I SAMUEL [7]
1 Vieram, pois, os homens de
Quiriate-Jearim, tomaram a arca do Senhor e a levaram à casa de Abinadabe, no
outeiro; e consagraram a Eleazar, filho dele, para que guardasse a arca da
Senhor.
2 E desde e dia em que a arca
ficou em Queriate-Jearim passou-se muito tempo, chegando até vinte anos; então
toda a casa de Israel suspirou pelo Senhor.
3 Samuel, pois, falou a toda
a casa de Israel, dizendo: Se de todo o vosso coração voltais para o Senhor,
lançai do meio de vós os deuses estranhos e as astarotes, preparai o vosso
coração para com o Senhor, e servi a ele só; e ele vos livrará da mão dos
filisteus.
4 Os filhos de Israel, pois,
lançaram do meio deles os baalins e as astarotes, e serviram ao Senhor.
5 Disse mais Samuel:
Congregai a todo o Israel em Mizpá, e orarei por vós ao Senhor.
6 Congregaram-se, pois, em
Mizpá, tiraram água e a derramaram perante o Senhor; jejuaram aquele dia, e ali
disseram: Pecamos contra o Senhor. E Samuel julgava os filhos de Israel em
Mizpá.
7 Quando os filisteus ouviram
que os filhos de Israel estavam congregados em Mizpá, subiram os chefes dos
filisteus contra Israel. Ao saberem disto os filhos de Israel, temeram por
causa dos filisteus.
8 Pelo que disseram a Samuel:
Não cesses de clamar ao Senhor nosso Deus por nós, para que nos livre da mão
dos filisteus.
9 Então tomou Samuel um
cordeiro de mama, e o ofereceu inteiro em holocausto ao Senhor; e Samuel clamou
ao Senhor por Israel, e o Senhor o atendeu.
10 Enquanto Samuel oferecia o
holocausto, os filisteus chegaram para pelejar contra Israel; mas o Senhor
trovejou naquele dia com grande estrondo sobre os filisteus, e os aterrou; de
modo que foram derrotados diante dos filhos de Israel.
11 Os homens de Israel,
saindo de Mizpá, perseguiram os filisteus e os feriram até abaixo de Bete-Car.
12 Então Samuel tomou uma
pedra, e a pôs entre Mizpá e Sem, e lhe chamou Ebenézer; e disse: Até aqui nos
ajudou o Senhor.
13 Assim os filisteus foram
subjugados, e não mais vieram aos termos de Israel, porquanto a mão do Senhor
foi contra os filisteus todos os dias de Samuel.
14 E as cidades que os
filisteus tinham tomado a Israel lhe foram restituídas, desde Ecrom até Gate,
cujos termos também Israel arrebatou da mão dos filisteus. E havia paz entre
Israel e os amorreus.
15 Samuel julgou a Israel
todos os dias da sua vida.
16 De ano em ano rodeava por
Betel, Gilgal e Mizpá, julgando a Israel em todos esses lugares.
17 Depois voltava a Ramá,
onde estava a sua casa, e ali julgava a Israel; e edificou ali um altar ao
Senhor.
»I SAMUEL [8]
1 Ora, havendo Samuel
envelhecido, constituiu a seus filhos por juízes sobre Israel.
2 O seu filho primogênito
chamava-se Joel, e o segundo Abias; e julgavam em Berseba.
3 Seus filhos, porém, não
andaram nos caminhos dele, mas desviaram-se após o lucro e, recebendo peitas,
perverteram a justiça.
4 Então todos os anciãos de
Israel se congregaram, e vieram ter com Samuel, a Ramá,
5 e lhe disseram: Eis que já
estás velho, e teus filhos não andam nos teus caminhos. Constitui-nos, pois,
agora um rei para nos julgar, como o têm todas as nações.
6 Mas pareceu mal aos olhos
de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei para nos julgar. Então Samuel orou ao
Senhor.
7 Disse o Senhor a Samuel:
Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não é a ti que têm rejeitado,
porém a mim, para que eu não reine sobre eles.
8 Conforme todas as obras que
fizeram desde o dia em que os tirei do Egito até o dia de hoje, deixando-me a
mim e servindo a outros deuses, assim também fazem a ti.
9 Agora, pois, ouve a sua
voz, contudo lhes protestarás solenemente, e lhes declararás qual será o modo
de agir do rei que houver de reinar sobre eles.
10 Referiu, pois, Samuel
todas as palavras do Senhor ao povo, que lhe havia pedido um rei,
11 e disse: Este será o modo
de agir do rei que houver de reinar sobre vós: tomará os vossos filhos, e os
porá sobre os seus carros, e para serem seus cavaleiros, e para correrem
adiante dos seus carros;
12 e os porá por chefes de
mil e chefes de cinqüenta, para lavrarem os seus campos, fazerem as suas
colheitas e fabricarem as suas armas de guerra e os petrechos de seus carros.
13 Tomará as vossas filhas
para perfumistas, cozinheiras e padeiras.
14 Tomará o melhor das vossas
terras, das vossas vinhas e dos vossos elivais, e o dará aos seus servos.
15 Tomará e dízimo das vossas
sementes e das vossas vinhas, para dar aos seus oficiais e aos seus servos.
16 Também os vossos servos e
as vossas servas, e os vossos melhores mancebos, e os vossos jumentos tomará, e
os empregará no seu trabalho.
17 Tomará o dízimo do vosso
rebanho; e vós lhe servireis de escravos.
18 Então naquele dia
clamareis por causa de vosso rei, que vós mesmos houverdes escolhido; mas o
Senhor não vos ouvira.
19 O povo, porém, não quis
ouvir a voz de Samuel; e disseram: Não, mas haverá sobre nós um rei,
20 para que nós também
sejamos como todas as outras nações, e para que o nosso rei nos julgue, e saia
adiante de nós, e peleje as nossas batalhas.
21 Ouviu, pois, Samuel todas
as palavras do povo, e as repetiu aos ouvidos do Senhor.
22 Disse o Senhor a Samuel:
Dá ouvidos à sua voz, e constitui-lhes rei. Então Samuel disse aos homens de
Israel: Volte cada um para a sua cidade.
»I SAMUEL [9]
1 Ora, havia um homem de
Benjamim, cujo nome era Quis, filho de Abiel, filho de Zeror, filho de
Becorate, filho de Afias, filho dum benjamita; era varão forte e valoroso.
2 Tinha este um filho,
chamado Saul, jovem e tão belo que entre os filhos de Israel não havia outro
homem mais belo de que ele; desde os ombros para cima sobressaía em altura a
todo o povo.
3 Tinham-se perdido as
jumentas de Quis, pai de Saul; pelo que disse Quis a Saul, seu filho: Toma
agora contigo um dos moços, levanta-te e vai procurar as jumentas.
4 Passaram, pois, pela região
montanhosa de Efraim, como também pela terra e Salisa, mas não as acharam;
depois passaram pela terra de Saalim, porém tampouco estavam ali; passando
ainda pela terra de Benjamim, não as acharam.
5 Vindo eles, então, à terra
de Zufe, Saul disse para o moço que ia com ele: Vem! Voltemos, para que não
suceda que meu pai deixe de inquietar-se pelas jumentas e se aflija por causa
de nós.
6 Mas ele lhe disse: Eis que
há nesta cidade um homem de Deus, e ele é muito considerado; tudo quanto diz,
sucede infalivelmente. Vamos, pois, até lá; porventura nos mostrará o caminho
que devemos seguir.
7 Então Saul disse ao seu
moço: Porém se lá formos, que levaremos ao homem? Pois o pão de nossos alforjes
se acabou, e presente nenhum temos para levar ao homem de Deus; que temos?
8 O moço tornou a responder a
Saul, e disse: Eis que ainda tenho em mão um quarto dum siclo de prata, o qual
darei ao homem de Deus, para que nos mostre o caminho.
9 (Antigamente em Israel,
indo alguém consultar a Deus, dizia assim: Vinde, vamos ao vidente; porque ao
profeta de hoje, outrora se chamava vidente.)
10 Então disse Saul ao moço:
Dizes bem; vem, pois, vamos! E foram-se à cidade onde estava e homem de Deus.
11 Quando eles iam subindo à
cidade, encontraram umas moças que saíam para tirar água; e perguntaram-lhes:
Está aqui o vidente?
12 Ao que elas lhes
responderam: Sim, eis aí o tens diante de ti; apressa-te, porque hoje veio à
cidade, porquanto o povo tem hoje sacrifício no alto.
13 Entrando vós na cidade,
logo o achareis, antes que ele suba ao alto para comer; pois o povo não comerá
até que ele venha, porque ele é o que abençoa a sacrifício, e depois os
convidados comem. Subi agora, porque a esta hora o achareis.
14 Subiram, pois, à cidade;
e, ao entrarem, eis que Samuel os encontrou, quando saía para subir ao alto.
15 Ora, o Senhor revelara
isto aos ouvidos de Samuel, um dia antes de Saul chegar, dizendo:
16 Amanhã a estas horas te enviarei
um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por príncipe sobre o meu povo de
Israel; e ele livrará o meu povo da mão dos filisteus; pois olhei para o meu
povo, porque o seu clamor chegou a mim.
17 E quando Samuel viu a
Saul, o Senhor e disse: Eis aqui o homem de quem eu te falei. Este dominará
sobre o meu povo.
18 Então Saul se chegou a
Samuel na porta, e disse: Mostra-me, peço-te, onde é a casa do vidente.
19 Respondeu Samuel a Saul:
Eu sou o vidente; sobe diante de mim ao alto, porque comereis hoje comigo; pela
manhã te despedirei, e tudo quanto está no teu coração to declararei.
20 Também quanto às jumentas
que há três dias se te perderam, não te preocupes com elas, porque já foram
achadas. Mas para quem é tudo o que é desejável em Israel? porventura não é
para ti, e para toda a casa de teu pai?
21 Então respondeu Saul:
Acaso não sou eu benjamita, da menor das tribos de Israel? E não é a minha
família a menor de todas as famílias da tribo de Benjamim? Por que, pois, me
falas desta maneira?
22 Samuel, porém, tomando a
Saul e ao seu moço, levou-os à câmara, e deu-lhes o primeiro lugar entre os
convidados, que eram cerca de trinta homens.
23 Depois disse Samuel ao
cozinheiro: Traze a porção que te dei, da qual te disse: põe-na à parte
contigo.
24 Levantou, pois, o
cozinheiro a espádua, com o que havia nela, e pô-la diante de Saul. E disse
Samuel: Eis que o que foi reservado está diante de ti. Come; porque te foi
guardado para esta ocasião, para que o comesses com os convidados. Assim comeu
Saul naquele dia com Samuel.
25 Então desceram do alto
para a cidade, e falou Samuel com Saul, no eirado.
26 E se levantaram de
madrugada, quase ao subir da alva, pois Samuel chamou a Saul, que estava no
eirado, dizendo: Levanta-te para eu te despedir. Levantou-se, pois, Saul, e
sairam ambos, ele e Samuel.
27 Quando desciam para a
extremidade da cidade, Samuel disse a Saul: Dize ao moço que passe adiante de
nós (e ele passou); tu, porém, espera aqui, e te farei ouvir a palavra de Deus.
»I SAMUEL [10]
1 Então Samuel tomou um vaso
de azeite, e o derramou sobre a cabeça de Saul, e o beijou, e disse: Porventura
não te ungiu o Senhor para ser príncipe sobre a sua herança?
2 Quando te apartares hoje de
mim, encontrarás dois homens junto ao sepulcro de Raquel, no termo de Benjamim,
em Zelza, os quais te dirão: Acharam-se as jumentas que foste buscar, e eis que
já o teu pai deixou de pensar nas jumentas, e anda aflito por causa de ti,
dizendo: Que farei eu por meu filho?
3 Então dali passarás mais
adiante, e chegarás ao carvalho de Tabor; ali te encontrarão três homens, que
vão subindo a Deus, a Betel, levando um três cabritos, outro três formas de
pão, e o outro um odre de vinho.
4 Eles te saudarão, e te
darão dois pães, que receberás das mãos deles.
5 Depois chegarás ao outeiro
de Deus, onde está a guarnição dos filisteus; ao entrares ali na cidade,
encontrarás um grupo de profetas descendo do alto, precedido de saltérios,
tambores, flautas e harpas, e eles profetizando.
6 E o Espírito do Senhor se
apoderará de ti, e profetizarás com eles, e serás transformado em outro homem.
7 Quando estes sinais te
vierem, faze o que achar a tua mão para fazer, pois Deus é contigo.
8 Tu, porém, descerás adiante
de mim a Gilgal, e eis que eu descerei a ter contigo, para oferecer holocaustos
e sacrifícios de ofertas pacíficas. Esperarás sete dias, até que eu vá ter
contigo e te declare o que hás de fazer.
9 Ao virar Saul as costas
para se apartar de Samuel, Deus lhe mudou o coração em outro; e todos esses
sinais aconteceram naquele mesmo dia.
10 Quando eles iam chegando
ao outeiro, eis que um grupo de profetas lhes saiu ao encontro; e o Espírito de
Deus se apoderou de Saul, e ele profetizou no meio deles.
11 Todos os que o tinham
conhecido antes, ao verem que ele profetizava com os profetas, diziam uns aos
outros: Que é que sucedeu ao filho de Quis? Está também Saul entre os profetas?
12 Então um homem dali
respondeu, e disse: Pois quem é o pai deles? Pelo que se tornou em provérbio:
Está também Saul entre os profetas?
13 Tendo ele acabado de profetizar,
foi ao alto.
14 Depois o tio de Saul
perguntou-lhe, a ele e ao seu moço: Aonde fostes?: Respondeu ele: Procurar as
jumentas; e, não as tendo encontrado, fomos ter com Samuel.
15 Disse mais o tio de Saul:
Declara-me, peço-te, o que vos disse Samuel.
16 Ao que respondeu Saul a
seu tio: Declarou-nos, seguramente, que as jumentas tinham sido encontradas.
Mas quanto ao assunto do reino, de que Samuel falara, nada lhe declarou.
17 Então Samuel convocou o
povo ao Senhor em Mizpá;
18 e disse aos filhos de Israel:
Assim diz o Senhor Deus de Israel: Eu fiz subir a Israel do Egito, e vos livrei
da mão dos egípcios e da mão de todos os reinos que vos oprimiam.
19 Mas vós hoje rejeitastes a
vosso Deus, àquele que vos livrou de todos os vossos males e angústias, e lhe
dissestes: Põe um rei sobre nós. Agora, pois, ponde-vos perante o Senhor,
segundo as vossas tribos e segundo os vossos milhares.
20 Tendo, pois, Samuel feito
chegar todas as tribos de Israel, foi tomada por sorte a tribo de Benjamim.
21 E, quando fez chegar a
tribo de Benjamim segundo as suas famílias, foi tomada a família de Matri, e
dela foi tomado Saul, filho de Quis; e o procuraram, mas não foi encontrado.
22 Pelo que tornaram a
perguntar ao Senhor: Não veio o homem ainda para cá? E respondeu o Senhor: Eis
que se escondeu por entre a bagagem:
23 Correram, pois, e o
trouxeram dali; e estando ele no meio do povo, sobressaía em altura a todo o
povo desde os ombros para cima.
24 Então disse Samuel a todo
o povo: Vedes já a quem o Senhor escolheu: Não há entre o povo nenhum
semelhante a ele. Então todo o povo o aclamou, dizendo: Viva o rei;
25 Também declarou Samuel ao
povo a lei do reino, e a escreveu num livro, e pô-lo perante o Senhor. Então
Samuel despediu todo o povo, cada um para sua casa.
26 E foi também Saul para sua
casa em Gibeá; e foram com ele homens de valor, aqueles cujo coração Deus
tocara.
27 Mas alguns homens ímpios
disseram: Como pode este homem nos livrar? E o desprezaram, e não lhe trouxeram
presentes; porém ele se fez como surdo.
»I SAMUEL [11]
1 Então subiu Naás, o
amonita, e sitiou a Jabes-Gileade. E disseram todos os homens de Jabes a Naás:
Faze aliança conosco, e te serviremos.
2 Respondeu-lhes, porém,
Naás, o amonita: Com esta condição farei aliança convosco: que a todos vos
arranque o olho direito; assim porei opróbrio sobre todo o Israel.
3 Ao que os anciãos de Jabes
lhe disseram: Concede-nos sete dias, para que enviemos mensageiros por todo o
território de Israel; e, não havendo ninguém que nos livre, nos entregaremos a
ti.
4 Então, vindo os mensageiros
a Gibeá de Saul, falaram estas palavras aos ouvidos do povo. Pelo que todo o
povo levantou a voz e chorou.
5 E eis que Saul vinha do
campo, atrás dos bois; e disse Saul: Que tem o povo, que chega? E contaram-lhe
as palavras dos homens de Jabes.
6 Então o Espírito de Deus se
apoderou de Saul, ao ouvir ele estas palavras; e acendeu-se sobremaneira a sua
ira.
7 Tomou ele uma junta de
bois, cortou-os em pedaços, e os enviou por todo o território de Israel por
mãos de mensageiros, dizendo: Qualquer que não sair após Saul e após Samuel,
assim se fará aos seus bois. Então caiu o temor do Senhor sobre o povo, e
acudiram como um só homem.
8 Saul passou-lhes revista em
Bezeque; e havia dos homens de Israel trezentos mil, e dos homens de Judá trinta
mil.
9 Então disseram aos
mensageiros que tinham vindo: Assim direis aos homens de Jabes-Gileade: Amanhã,
em aquentando o sol, vos virá livramento. Vindo, pois, os mensageiros,
anunciaram-no aos homens de Jabes, os quais se alegraram.
10 E os homens de Jabes
disseram aos amonitas: Amanhã nos entregaremos a vós; então nos fareis conforme
tudo o que bem vos parecer.
11 Ao outro dia Saul dividiu
o povo em três companhias; e pela vigília da manhã vieram ao meio do arraial, e
feriram aos amonitas até que o dia aquentou; e sucedeu que os restantes se
espalharam de modo a não ficarem dois juntos.
12 Então disse o povo a
Samuel: Quais são os que diziam: Reinará porventura Saul sobre nós? Dai cá
esses homens, para que os matemos.
13 Saul, porém, disse: Hoje
não se há de matar ninguém, porque neste dia o senhor operou um livramento em
Israel:
14 Depois disse Samuel ao
povo: Vinde, vamos a Gilgal, e renovemos ali o reino.
15 Foram, pois, para Gilgal,
onde constituíram rei a Saul perante o Senhor, e imolaram sacrifícios de
ofertas pacíficas perante o Senhor; e ali Saul se alegrou muito com todos os
homens de Israel.
»I SAMUEL [12]
1 Então disse Samuel a todo o
Israel: Eis que vos dei ouvidos em tudo quanto me dissestes, e constituí sobre
vós um rei.
2 Agora, eis que o rei vai
adiante de vós; quanto a mim, já sou velho e encanecido, e meus filhos estão
convosco: eu tenho andado adiante de vós desde a minha mocidade até o dia de
hoje.
3 Eis-me aqui! testificai
contra mim perante o Senhor, e perante o seu ungido. De quem tomei o boi? ou de
quem tomei o jumento? ou a quem defraudei? ou a quem tenho oprimido? ou da mão
de quem tenho recebido peita para encobrir com ela os meus olhos? E eu vo-lo
restituirei.
4 Responderam eles: Em nada
nos defraudaste, nem nos oprimiste, nem tomaste coisa alguma da mão de ninguém.
5 Ele lhes disse: O Senhor é
testemunha contra vós, e o seu ungido é hoje testemunha de que nada tendes
achado na minha mão. Ao que respondeu o povo: Ele é testemunha.
6 Então disse Samuel ao povo:
O Senhor é o que escolheu a Moisés e a Arão, e tirou a vossos pais da terra do
Egito.
7 Agora ponde-vos aqui, para
que eu pleiteie convosco perante o Senhor, no tocante a todos os atos de
justiça do Senhor, que ele fez a vós e a vossos pais.
8 Quando Jacó entrou no
Egito, e vossos pais clamaram ao Senhor, então o Senhor enviou Moisés e Arão,
que tiraram vossos pais do Egito, e os fizeram habitar neste lugar.
9 Esqueceram-se, porém, do
Senhor seu Deus; e ele os entregou na mão de Sísera, chefe do exército de
Hazor, e na mão dos filisteus, e na mão do rei de Moabe, os quais pelejaram
contra eles.
10 Clamaram, pois, ao Senhor,
e disseram: Pecamos, porque deixamos ao Senhor, e servimos aos baalins e
astarotes; agora, porém, livra-nos da mão de nossos inimigos, e te serviremos:
11 Então o Senhor enviou
Jerubaal, e Baraque, e Jefté, e Samuel; e vos livrou da mão de vossos inimigos
em redor, e habitastes em segurança.
12 Quando vistes que Naás,
rei dos filhos de Amom, vinha contra vós, dissestes-me: Não, mas reinará sobre
nós um rei; entretanto, o Senhor vosso Deus era o vosso Rei.
13 Agora, eis o rei que
escolhestes e que pedistes; eis que o Senhor tem posto sobre vós um rei.
14 Se temerdes ao Senhor, e o
servirdes, e derdes ouvidos à sua voz, e não fordes rebeldes às suas ordens, e
se tanto vós como o rei que reina sobre vós seguirdes o Senhor vosso Deus, bem
está;
15 mas se não derdes ouvidos
à voz do Senhor, e fordes rebeldes às suas ordens, a mão do Senhor será contra
vós, como foi contra vossos pais:
16 Portanto ficai agora aqui,
e vede esta grande coisa que o Senhor vai fazer diante dos vossos olhos.
17 Não é hoje a sega do
trigo? clamarei, pois, ao Senhor, para que ele envie trovões e chuva; e
sabereis e vereis que é grande a vossa maldade, que fizestes perante o Senhor,
pedindo para vós um rei.
18 Então invocou Samuel ao
Senhor, e o Senhor enviou naquele dia trovões e chuva; pelo que todo o povo
temeu sobremaneira ao Senhor e a Samuel.
19 Disse todo o povo a
Samuel: Roga pelos teus servos ao Senhor teu Deus, para que não morramos;
porque a todos os nossos pecados temos acrescentado este mal, de pedirmos para
nós um rei.
20 Então disse Samuel ao
povo: Não temais; vós fizestes todo este mal; porém não vos desvieis de seguir
ao Senhor, mas servi-o de todo o vosso coração.
21 Não vos desvieis;
porquanto seguiríeis coisas vãs, que nada aproveitam, e tampouco vos livrarão,
porque são vãs.
22 Pois o Senhor, por causa
do seu grande nome, não desamparará o seu povo; porque aprouve ao Senhor fazer
de vós o seu povo.
23 E quanto a mim, longe de
mim esteja o pecar contra o Senhor, deixando de orar por vos; eu vos ensinarei
o caminho bom e direito.
24 Tão-somente temei ao
Senhor, e servi-o fielmente de todo o vosso coração; pois vede quão grandiosas
coisas vos fez.
25 Se, porém, perseverardes em
fazer o mal, perecereis, assim vós como o vosso rei.
»I SAMUEL [13]
1 Um ano reinara Saul em
Israel. No segundo ano de seu reinado sobre seu povo,
2 escolheu para si três mil
homens de Israel; dois mil estavam com Saul em Micmás e no monte de Betel, e mil
estavam com Jônatas em Gibeá de Benjamim. Quanto ao resto do povo, mandou-o
cada um para sua tenda.
3 Ora, Jônatas feriu a
guarnição dos filisteus que estava em Geba, o que os filisteus ouviram; pelo
que Saul tocou a trombeta por toda a terra, dizendo: Ouçam os hebreus.
4 Então todo o Israel ouviu
dizer que Saul ferira a guarnição dos filisteus, e que Israel se fizera
abominável aos filisteus. E o povo foi convocado após Saul em Gilgal.
5 E os filisteus se ajuntaram
para pelejar contra Israel, com trinta mil carros, seis mil cavaleiros, e povo
em multidão como a areia que está à beira do mar subiram e se acamparam em
Micmás, ao oriente de Bete-Aven.
6 Vendo, pois, os homens de
Israel que estavam em aperto (porque o povo se achava angustiado), esconderam-se
nas cavernas, nos espinhais, nos penhascos, nos esconderijos subterrâneos e nas
cisternas.
7 Ora, alguns dos hebreus
passaram o Jordão para a terra de Gade e Gileade; mas Saul ficou ainda em
Gilgal, e todo o povo o seguia tremendo.
8 Esperou, pois, sete dias,
até o tempo que Samuel determinara; não vindo, porém, Samuel a Gilgal, o povo,
deixando a Saul, se dispersava.
9 Então disse Saul: Trazei-me
aqui um holocausto, e ofertas pacíficas. E ofereceu o holocausto.
10 Mal tinha ele acabado de
oferecer e holocausto, eis que Samuel chegou; e Saul lhe saiu ao encontro, para
o saudar.
11 Então perguntou Samuel:
Que fizeste? Respondeu Saul: Porquanto via que o povo, deixando-me, se
dispersava, e que tu não vinhas no tempo determinado, e que os filisteus já se
tinham ajuntado em Micmás,
12 eu disse: Agora descerão
os filisteus sobre mim a Gilgal, e ainda não aplaquei o Senhor. Assim me
constrangi e ofereci o holocausto.
13 Então disse Samuel a Saul:
Procedeste nesciamente; não guardaste o mandamento que o Senhor teu Deus te
ordenou. O Senhor teria confirmado o teu reino sobre Israel para sempre;
14 agora, porém, não
subsistirá o teu reino; já tem o Senhor buscado para si um homem segundo o seu
coração, e já o tem destinado para ser príncipe sobre o seu povo, porquanto não
guardaste o que o Senhor te ordenou.
15 Então Samuel se levantou,
e subiu de Gilgal a Gibeá de Benjamim. Saul contou o povo que se achava com
ele, cerca de seiscentos homens.
16 E Saul, seu filho Jônatas
e o povo que se achava com eles, ficaram em Gibeá de Benjamim, mas os filisteus
se tinham acampado em Micmás.
17 Nisso os saqueadores
saíram do arraial dos filisteus em três companhias: uma das companhias tomou o
caminho de Ofra para a terra de Sual,
18 outra tomou o caminho de
Bete-Horom, e a outra tomou o caminho do termo que dá para o vale de Zebuim, na
direção do deserto.
19 Ora, em toda a terra de
Israel não se achava um só ferreiro; porque os filisteus tinham dito: Não façam
os hebreus para si nem espada nem lança.
20 Pelo que todos os
israelitas tinham que descer aos filisteus para afiar cada um a sua relha, a
sua enxada, o seu machado e o seu sacho.
21 Tinham porém limas para os
sachos, para as enxadas, para as forquilhas e para os machados, e para
consertar as aguilhadas.
22 Assim, no dia da peleja,
não se achou nem espada nem lança na mão de todo o povo que estava com Saul e
com Jônatas; acharam-se, porém, com Saul e com Jônatas seu filho.
23 E saiu a guarnição dos
filisteus para o desfiladeiro de Micmás.
»I SAMUEL [14]
1 Sucedeu, pois, um dia, que
Jônatas, filho de Saul, disse ao seu escudeiro: Vem, passemos à guarnição dos
filisteus, que está do outro lado. Mas não o fez saber a seu pai.
2 Ora Saul estava na
extremidade de Gibeá, debaixo da romeira que havia em Migrom; e o povo que
estava com ele era cerca de seiscentos homens;
3 e Aíja, filho de Aitube,
irmão de Icabô, filho de Finéias, filho de Eli, sacerdote do Senhor em Siló,
trazia o éfode. E o povo não sabia que Jônatas tinha ido.
4 Ora, entre os desfiladeiros
pelos quais Jônatas procurava chegar à guarnição dos filisteus, havia um
penhasco de um e de outro lado; o nome de um era Bozez, e o nome do outro Sené.
5 Um deles estava para o
norte defronte de Micmás, e o outro para o sul defronte de Gibeá.
6 Disse, pois, Jônatas ao seu
escudeiro: Vem, passemos à guarnição destes incircuncisos; porventura operará o
Senhor por nós, porque para o Senhor nenhum impedimento há de livrar com muitos
ou com poucos.
7 Ao que o seu escudeiro lhe
respondeu: Faze tudo o que te aprouver; segue, eis-me aqui, a tua disposição
será a minha.
8 Disse Jônatas: Eis que
passaremos àqueles homens, e nos descobriremos a eles.
9 Se nos disserem: Parai até
que cheguemos a vós; então ficaremos no nosso lugar, e não subiremos a eles.
10 Se, porém, disserem: Subi
a nós; então subiremos, pois o Senhor os entregou em nossas mãos; isso nos será
por sinal.
11 Então ambos se descobriram
à guarnição dos filisteus, e os filisteus disseram: Eis que já os hebreus estão
saindo das cavernas em que se tinham escondido.
12 E os homens da guarnição
disseram a Jônatas e ao seu escudeiro: Subi a nós, e vos ensinaremos uma coisa.
Disse, pois, Jônatas ao seu escudeiro: Sobe atrás de mim, porque o Senhor os
entregou na mão de Israel.
13 Então trepou Jônatas de
gatinhas, e o seu escudeiro atrás dele; e os filisteus caíam diante de Jônatas,
e o seu escudeiro os matava atrás dele.
14 Esta primeira derrota, em
que Jônatas e o seu escudeiro mataram uns vinte homens, deu-se dentro de meia
jeira de terra.
15 Pelo que houve tremor no
arraial, no campo e em todo o povo; também a própria guarnição e os saqueadores
tremeram; e até a terra estremeceu; de modo que houve grande pânico.
16 Olharam, pois, as
sentinelas de Saul e Gibeá de Benjamim, e eis que a multidão se derretia,
fugindo para cá e para lá.
17 Disse então Saul ao povo
que estava com ele: Ora, contai e vede quem é que saiu dentre nós: E contaram,
e eis que nem Jônatas nem o seu escudeiro estava ali.
18 Então Saul disse a Aíja:
Traze aqui a arca de Deus. Pois naquele dia estava a arca de Deus com os filhos
de Israel.
19 E sucedeu que, estando
Saul ainda falando com o sacerdote, o alvoroço que havia no arraial dos
filisteus ia crescendo muito; pelo que disse Saul ao sacerdote: Retira a tua
mão.
20 Então Saul e todo o povo
que estava com ele se reuniram e foram à peleja; e eis que dentre os filisteus
a espada de um era contra o outro, e houve mui grande derrota.
21 Os hebreus que estavam
dantes com os filisteus, e tinham subido com eles ao arraial, também se
ajuntaram aos israelitas que estavam com Saul e Jônatas.
22 E todos os homens de
Israel que se haviam escondido na região montanhosa de Efraim, ouvindo que os
filisteus fugiam, também os perseguiram de perto na peleja.
23 Assim o Senhor livrou a
Israel naquele dia, e a batalha passou além de Bete-Aven.
24 Ora, os homens de Israel
estavam já exaustos naquele dia, porquanto Saul conjurara o povo, dizendo:
Maldito o homem que comer pão antes da tarde, antes que eu me vingue de meus
inimigos. Pelo que todo o povo se absteve de comer.
25 Mas todo o povo chegou a
um bosque, onde havia mel à flor da terra.
26 Chegando, pois, o povo ao
bosque, viu correr o mel; todavia ninguém chegou a mão à boca, porque o povo
temia a conjuração.
27 Jônatas, porém, não tinha
ouvido quando seu pai conjurara o povo; pelo que estendeu a ponta da vara que
tinha na mão, e a molhou no favo de mel; e, ao chegar a mão à boca,
aclararam-se-lhe os olhos.
28 Então disse um do povo:
Teu pai solenemente conjurou o povo, dizendo: Maldito o homem que comer pão
hoje. E o povo ainda desfalecia.
29 Pelo que disse Jônatas:
Meu pai tem turbado a terra; ora vede como se me aclararam os olhos por ter
provado um pouco deste mel.
30 Quanto maior não teria
sido a derrota dos filisteus se o povo hoje tivesse comido livremente do
despojo, que achou de seus inimigos?
31 Feriram, contudo, naquele
dia aos filisteus, desde Micmás até Aijalom. E o povo desfaleceu em extremo;
32 então o povo se lançou ao
despojo, e tomou ovelhas, bois e bezerros e, degolando-os no chão, comeu-os com
o sangue.
33 E o anunciaram a Saul,
dizendo: Eis que o povo está pecando contra o Senhor, comendo carne com o
sangue. Respondeu Saul: Procedestes deslealmente. Trazei-me aqui já uma grande
pedra.
34 Disse mais Saul:
Dispersai-vos entre e povo, e dizei-lhes: Trazei-me aqui cada um o seu boi, e
cada um a sua ovelha e degolai-os aqui, e comei; e não pequeis contra e Senhor,
comendo com sangue. Então todo o povo trouxe de noite, cada um o seu boi, e os
degolaram ali.
35 Então edificou Saul um
altar ao Senhor; este foi o primeiro altar que ele edificou ao Senhor.
36 Depois disse Saul:
Desçamos de noite atrás dos filisteus, e despojemo-los, até e amanhecer, e não
deixemos deles um só homem. E o povo disse: Faze tudo o que parecer bem aos
teus olhos. Disse, porém, o sacerdote: Cheguemo-nos aqui a Deus.
37 Então consultou Saul a
Deus, dizendo: Descerei atrás dos filisteus? entregá-los-ás na mão de Israel?
Deus, porém, não lhe respondeu naquele dia.
38 Disse, pois, Saul:
Chegai-vos para cá, todos os chefes do povo; informai-vos, e vede em que se cometeu
hoje este pecado;
39 porque, como vive o Senhor
que salva a Israel, ainda que seja em meu filha Jônatas, ele será morto. Mas de
todo o povo ninguém lhe respondeu.
40 Disse mais a todo o
Israel: Vós estareis dum lado, e eu e meu filho Jônatas estaremos do outro.
Então disse o povo a Saul: Faze o que parecer bem aos teus olhos.
41 Falou, pois, Saul ao
Senhor Deus de Israel: Mostra o que é justo. E Jônatas e Saul foram tomados por
sorte, e o povo saiu livre.
42 Então disse Saul: Lançai a
sorte entre mim e Jônatas, meu filho. E foi tomado Jônatas.
43 Disse então Saul a
Jônatas: Declara-me o que fizeste. E Jônatas lho declarou, dizendo: Provei, na
verdade, um pouco de mel com a ponta da vara que tinha na mão; eis-me pronto a
morrer.
44 Ao que disse Saul: Assim
me faça Deus, e outro tanto, se tu, certamente, não morreres, Jônatas.
45 Mas o povo disse a Saul:
Morrerá, porventura, Jônatas, que operou esta grande salvação em Israel? Tal
não suceda! como vive o Senhor, não lhe há de cair no chão um só cabelo da sua
cabeça! pois com Deus fez isso hoje. Assim o povo livrou Jônatas, para que não
morresse.
46 Então Saul deixou de
perseguir os filisteus, e estes foram para o seu lugar.
47 Tendo Saul tomado o reino
sobre Israel, pelejou contra todos os seus inimigos em redor: contra Moabe,
contra os filhos de Amom, contra Edom, contra os reis de Zobá e contra os
filisteus; e, para onde quer que se voltava, saía vitorioso.
48 Houve-se valorosamente,
derrotando os amalequitas, e libertando Israel da mão dos que o saqueavam.
49 Ora, os filhos de Saul
eram Jônatas, Isvi e Malquisua; os nomes de suas duas filhas eram estes: o da
mais velha Merabe, e o da mais nova Mical.
50 O nome da mulher de Saul
era Ainoã, filha de Aimaaz; e o nome do chefe do seu exército, Abner, filho de
Ner, tio de Saul.
51 Quis, pai de Saul, e Ner,
pai de Abner, eram filhos de Abiel.
52 E houve forte guerra
contra os filisteus, por todos os dias de Saul; e sempre que Saul via algum
homem poderoso e valente, o agregava a si.
»I SAMUEL [15]
1 Disse Samuel a Saul:
Enviou-me o Senhor a ungir-te rei sobre o seu povo, sobre Israel; ouve, pois,
agora as palavras do Senhor.
2 Assim diz o Senhor dos
exércitos: Castigarei a Amaleque por aquilo que fez a Israel quando se lhe opôs
no caminho, ao subir ele do Egito.
3 Vai, pois, agora e fere a
Amaleque, e o destrói totalmente com tudo o que tiver; não o poupes, porém
matarás homens e mulheres, meninos e crianças de peito, bois e ovelhas, camelos
e jumentos.
4 Então Saul convocou o povo,
e os contou em Telaim, duzentos mil homens de infantaria, e mais dez mil dos de
Judá.
5 Chegando, pois, Saul à
cidade de Amaleque, pôs uma emboscada no vale.
6 E disse Saul aos queneus:
Ide, retirai-vos, saí do meio dos amalequitas, para que eu não vos destrua
juntamente com eles; porque vós usastes de misericórdia com todos os filhos de
Israel, quando subiram do Egito. Retiraram-se, pois, os queneus do meio dos
amalequitas.
7 Depois Saul feriu os
amalequitas desde Havilá até chegar a Sur, que está defronte do Egito.
8 E tomou vivo a Agague, rei
dos amalequitas, porém a todo o povo destruiu ao fio da espada.
9 Mas Saul e o povo pouparam
a Agague, como também ao melhor das ovelhas, dos bois, e dos animais
engordados, e aos cordeiros, e a tudo o que era bom, e não os quiseram destruir
totalmente; porém a tudo o que era vil e desprezível destruíram totalmente.
10 Então veio a palavra do
Senhor a Samuel, dizendo:
11 Arrependo-me de haver
posto a Saul como rei; porquanto deixou de me seguir, e não cumpriu as minhas
palavras. Então Samuel se contristou, e clamou ao Senhor a noite toda.
12 E Samuel madrugou para
encontrar-se com Saul pela manhã; e foi dito a Samuel: Já chegou Saul ao
Carmelo, e eis que levantou para si numa coluna e, voltando, passou e desceu a
Gilgal.
13 Veio, pois, Samuel ter com
Saul, e Saul lhe disse: Bendito sejas do Senhor; já cumpri a palavra do Senhor.
14 Então perguntou Samuel:
Que quer dizer, pois, este balido de ovelhas que chega aos meus ouvidos, e o
mugido de bois que ouço?
15 Ao que respondeu Saul: De
Amaleque os trouxeram, porque o povo guardou o melhor das ovelhas e dos bois,
para os oferecer ao Senhor teu Deus; o resto, porém, destruímo-lo totalmente.
16 Então disse Samuel a Saul:
Espera, e te declararei o que o Senhor me disse esta noite. Respondeu-lhe Saul:
Fala.
17 Prosseguiu, pois, Samuel:
Embora pequeno aos teus próprios olhos, porventura não foste feito o cabeça das
tribos de Israel? O Senhor te ungiu rei sobre Israel;
18 e bem assim te enviou o
Senhor a este caminho, e disse: Vai, e destrói totalmente a estes pecadores, os
amalequitas, e peleja contra eles, até que sejam aniquilados.
19 Por que, pois, não deste
ouvidos à voz do Senhor, antes te lançaste ao despojo, e fizeste o que era mau
aos olhos do Senhor?
20 Então respondeu Saul a
Samuel: Pelo contrário, dei ouvidos à voz do Senhor, e caminhei no caminho pelo
qual o Senhor me enviou, e trouxe a Agague, rei de Amaleque, e aos amalequitas
destruí totalmente;
21 mas o povo tomou do
despojo ovelhas e bois, o melhor do anátema, para o sacrificar ao Senhor teu Deus
em Gilgal.
22 Samuel, porém, disse: Tem,
porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se
obedeça à voz do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar, e o
atender, do que a gordura de carneiros
23 Porque a rebelião é como o
pecado de adivinhação, e a obstinação é como a iniqüidade de idolatria.
Porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, ele também te rejeitou, a ti, para
que não sejas rei.
24 Então disse Saul a Samuel:
Pequei, porquanto transgredi a ordem do Senhor e as tuas palavras; porque temi
ao povo, e dei ouvidos a sua voz.
25 Agora, pois, perdoa o meu
pecado, e volta comigo, para que eu adore ao Senhor.
26 Samuel porém disse a Saul:
Não voltarei contigo; porquanto rejeitaste a palavra do Senhor, e o Senhor te
rejeitou a ti, para que não sejas rei sobre Israel:
27 E, virando-se Samuel para
se ir, Saul pegou-lhe pela orla da capa, a qual se rasgou.
28 Então Samuel lhe disse: O
Senhor rasgou de ti hoje o reino de Israel, e o deu a um teu próximo, que é
melhor do que tu.
29 Também aquele que é a
Força de Israel não mente nem se arrepende, por quanto não é homem para que se
arrependa.
30 Ao que disse Saul: Pequei;
honra-me, porém, agora diante dos anciãos do meu povo, e diante de Israel, e
volta comigo, para que eu adore ao Senhor teu Deus.
31 Então, voltando Samuel,
seguiu a Saul, e Saul adorou ao Senhor.
32 Então disse Samuel:
Trazei-me aqui a Agague, rei dos amalequitas. E Agague veio a ele animosamente;
e disse: Certamente já passou a amargura da morte.
33 Disse, porém, Samuel:
Assim como a tua espada desfilhou a mulheres, assim ficará desfilhada tua mãe
entre as mulheres. E Samuel despedaçou a Agague perante o Senhor em Gilgal.
34 Então Samuel se foi a
Ramá; e Saul subiu a sua casa, a Gibeá de Saul.
35 Ora, Samuel nunca mais viu
a Saul até o dia da sua morte, mas Samuel teve dó de Saul. E o Senhor se
arrependeu de haver posto a Saul rei sobre Israel.
»I SAMUEL [16]
1 Então disse o Senhor a
Samuel: Até quando terás dó de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine
sobre Israel? Enche o teu vaso de azeite, e vem; enviar-te-ei a Jessé o
belemita, porque dentre os seus filhos me tenho provido de um rei.
2 Disse, porém, Samuel: Como
irei eu? pois Saul o ouvirá e me matará. Então disse o Senhor: Leva contigo uma
bezerra, e dize: Vim para oferecer sacrifício ao Senhor:
3 E convidarás a Jessé para o
sacrifício, e eu te farei saber o que hás de fazer; e ungir-me-ás a quem eu te
designar.
4 Fez, pois, Samuel o que
dissera o Senhor, e veio a Belém; então os anciãos da cidade lhe saíram ao
encontro, tremendo, e perguntaram: É de paz a tua vinda?
5 Respondeu ele: É de paz;
vim oferecer sacrifício ao Senhor. Santificai-vos, e vinde comigo ao
sacrifício. E santificou ele a Jessé e a seus filhos, e os convidou para o
sacrifício.
6 E sucedeu que, entrando
eles, viu a Eliabe, e disse: Certamente está perante o Senhor o seu ungido.
7 Mas o Senhor disse a
Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura,
porque eu o rejeitei; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem olha
para o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.
8 Depois chamou Jessé a
Abinadabe, e o fez passar diante de Samuel, o qual disse: Nem a este escolheu o
Senhor.
9 Então Jessé fez passar a
Samá; Samuel, porém, disse: Tampouco a este escolheu o Senhor.
10 Assim fez passar Jessé a
sete de seus filhos diante de Samuel; porém Samuel disse a Jessé: O Senhor não
escolheu a nenhum destes.
11 Disse mais Samuel a Jessé:
São estes todos os teus filhos? Respondeu Jessé: Ainda falta o menor, que está
apascentando as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Manda trazê-lo, porquanto
não nos sentaremos até que ele venha aqui.
12 Jessé mandou buscá-lo e o
fez entrar. Ora, ele era ruivo, de belos olhos e de gentil aspecto. Então disse
o Senhor: Levanta-te, e unge-o, porque é este mesmo.
13 Então Samuel tomou o vaso
de azeite, e o ungiu no meio de seus irmãos; e daquele dia em diante o Espírito
do Senhor se apoderou de Davi. Depois Samuel se levantou, e foi para Ramá.
14 Ora, o Espírito do Senhor
retirou-se de Saul, e o atormentava um espírito maligno da parte do Senhor.
15 Então os criados de Saul
lhe disseram: Eis que agora um espírito maligno da parte de Deus te atormenta;
16 dize, pois, Senhor nosso,
a teus servos que estão na tua presença, que busquem um homem que saiba tocar
harpa; e quando o espírito maligno da parte do Senhor vier sobre ti, ele tocara
com a sua mão, e te sentirás melhor.
17 Então disse Saul aos seus
servos: Buscai-me, pois, um homem que toque bem, e trazei-mo.
18 Respondeu um dos mancebos:
Eis que tenho visto um filho de Jessé, o belemita, que sabe tocar bem, e é
forte e destemido, homem de guerra, sisudo em palavras, e de gentil aspecto; e
o Senhor é com ele.
19 Pelo que Saul enviou
mensageiros a Jessé, dizendo: Envia-me Davi, teu filho, o que está com as
ovelhas.
20 Jessé, pois, tomou um
jumento carregado de pão, e um odre de vinho, e um cabrito, e os enviou a Saul
pela mão de Davi, seu filho.
21 Assim Davi veio e se
apresentou a Saul, que se agradou muito dele e o fez seu escudeiro.
22 Então Saul mandou dizer a
Jessé: Deixa ficar Davi ao meu serviço, pois achou graça aos meus olhos.
23 E quando o espírito
maligno da parte de Deus vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa, e a tocava com
a sua mão; então Saul sentia alívio, e se achava melhor, e o espírito maligno
se retirava dele.
»I SAMUEL [17]
1 Ora, os filisteus ajuntaram
as suas forças para a guerra e congregaram-se em Socó, que pertence a Judá, e
acamparam entre Socó e Azeca, em Efes-Damim.
2 Saul, porém, e os homens de
Israel se ajuntaram e acamparam no vale de Elá, e ordenaram a batalha contra os
filisteus.
3 Os filisteus estavam num
monte de um lado, e os israelitas estavam num monte do outro lado; e entre eles
o vale.
4 Então saiu do arraial dos
filisteus um campeão, cujo nome era Golias, de Gate, que tinha de altura seis
côvados e um palmo.
5 Trazia na cabeça um
capacete de bronze, e vestia uma couraça escameada, cujo peso era de cinco mil
siclos de bronze.
6 Também trazia grevas de
bronze nas pernas, e um dardo de bronze entre os ombros.
7 A haste da sua lança era
como o órgão de um tear, e a ponta da sua lança pesava seiscentos siclos de
ferro; adiante dele ia o seu escudeiro.
8 Ele, pois, de pé, clamava
às fileiras de Israel e dizia-lhes: Por que saístes a ordenar a batalha? Não
sou eu filisteu, e vós servos de Saul? Escolhei dentre vós um homem que desça a
mim.
9 Se ele puder pelejar comigo
e matar-me, seremos vossos servos; porem, se eu prevalecer contra ele e o
matar, então sereis nossos servos, e nos servireis.
10 Disse mais o filisteu:
Desafio hoje as fileiras de Israel; dai-me um homem, para que nós dois
pelejemos.
11 Ouvindo, então, Saul e
todo o Israel estas palavras do filisteu, desalentaram-se, e temeram muito.
12 Ora, Davi era filho de um
homem efrateu, de Belém de Judá, cujo nome era Jessé, que tinha oito filhos; e
nos dias de Saul este homem era já velho e avançado em idade entre os homens.
13 Os três filhos mais velhos
de Jessé tinham seguido a Saul à guerra; eram os nomes de seus três filhos que
foram à guerra: Eliabe, o primogênito, o segundo Abinadabe, e o terceiro Samá:
14 Davi era o mais moço; os
três maiores seguiram a Saul,
15 mas Davi ia e voltava de
Saul, para apascentar as ovelhas de seu pai em Belém.
16 Chegava-se, pois, o filisteu
pela manhã e à tarde; e apresentou-se por quarenta dias.
17 Disse então Jessé a Davi,
seu filho: Toma agora para teus irmãos uma refa deste grão tostado e estes dez
pães, e corre a levá-los ao arraial, a teus irmãos.
18 Leva, também, estes dez
queijos ao seu comandante de mil; e verás como passam teus irmãos, e trarás
notícias deles.
19 Ora, estavam Saul, e eles,
e todos os homens de Israel no vale de Elá, pelejando contra os filisteus.
20 Davi então se levantou de
madrugada e, deixando as ovelhas com um guarda, carregou-se e partiu, como
Jessé lhe ordenara; e chegou ao arraial quando o exército estava saindo em
ordem de batalha e dava gritos de guerra.
21 Os israelitas e os
filisteus se punham em ordem de batalha, fileira contra fileira.
22 E Davi, deixando na mão do
guarda da bagagem a carga que trouxera, correu às fileiras; e, chegando,
perguntou a seus irmãos se estavam bem.
23 Enquanto ainda falava com
eles, eis que veio subindo do exército dos filisteus o campeão, cujo nome era
Golias, o filisteu de Gate, e falou conforme aquelas palavras; e Davi as ouviu.
24 E todos os homens de
Israel, vendo aquele homem, fugiam, de diante dele, tomados de pavor.
25 Diziam os homens de
Israel: Vistes aquele homem que subiu? pois subiu para desafiar a Israel. Ao
homem, pois, que o matar, o rei cumulará de grandes riquezas, e lhe dará a sua
filha, e fará livre a casa de seu pai em Israel.
26 Então falou Davi aos
homens que se achavam perto dele, dizendo: Que se fará ao homem que matar a
esse filisteu, e tirar a afronta de sobre Israel? pois quem é esse incircunciso
filisteu, para afrontar os exércitos do Deus vivo?
27 E o povo lhe repetiu
aquela palavra, dizendo: Assim se fará ao homem que o matar.
28 Eliabe, seu irmão mais
velho, ouviu-o quando falava àqueles homens; pelo que se acendeu a sua ira
contra Davi, e disse: Por que desceste aqui, e a quem deixaste aquelas poucas
ovelhas no deserto? Eu conheço a tua presunção, e a maldade do teu coração;
pois desceste para ver a peleja.
29 Respondeu Davi: Que fiz eu
agora? porventura não há razão para isso?
30 E virou-se dele para
outro, e repetiu as suas perguntas; e o povo lhe respondeu como da primeira
vez.
31 Então, ouvidas as palavras
que Davi falara, foram elas referidas a Saul, que mandou chamá-lo.
32 E Davi disse a Saul: Não
desfaleça o coração de ninguém por causa dele; teu servo irá, e pelejará contra
este filisteu.
33 Saul, porém, disse a Davi:
Não poderás ir contra esse filisteu para pelejar com ele, pois tu ainda és
moço, e ele homem de guerra desde a sua mocidade.
34 Então disse Davi a Saul:
Teu servo apascentava as ovelhas de seu pai, e sempre que vinha um leão, ou um
urso, e tomava um cordeiro do rebanho,
35 eu saía após ele, e o
matava, e lho arrancava da boca; levantando-se ele contra mim, segurava-o pela
queixada, e o feria e matava.
36 O teu servo matava tanto
ao leão como ao urso; e este incircunciso filisteu será como um deles,
porquanto afrontou os exércitos do Deus vivo.
37 Disse mais Davi: O Senhor,
que me livrou das garras do leão, e das garras do urso, me livrará da mão deste
filisteu. Então disse Saul a Davi: Vai, e o Senhor seja contigo.
38 E vestiu a Davi da sua
própria armadura, pôs-lhe sobre a cabeça um capacete de bronze, e o vestiu de
uma couraça.
39 Davi cingiu a espada sobre
a armadura e procurou em vão andar, pois não estava acostumado àquilo. Então
disse Davi a Saul: Não posso andar com isto, pois não estou acostumado. E Davi
tirou aquilo de sobre si.
40 Então tomou na mão o seu
cajado, escolheu do ribeiro cinco seixos lisos e pô-los no alforje de pastor
que trazia, a saber, no surrão, e, tomando na mão a sua funda, foi-se chegando
ao filisteu.
41 O filisteu também vinha se
aproximando de Davi, tendo a: sua frente o seu escudeiro.
42 Quando o filisteu olhou e
viu a Davi, desprezou-o, porquanto era mancebo, ruivo, e de gentil aspecto.
43 Disse o filisteu a Davi:
Sou eu algum cão, para tu vires a mim com paus? E o filisteu, pelos seus
deuses, amaldiçoou a Davi.
44 Disse mais o filisteu a
Davi: Vem a mim, e eu darei a tua carne às aves do céu e às bestas do campo.
45 Davi, porém, lhe
respondeu: Tu vens a mim com espada, com lança e com escudo; mas eu venho a ti
em nome do Senhor dos exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, a quem tens
afrontado.
46 Hoje mesmo o Senhor te
entregará na minha mão; ferir-te-ei, e tirar-te-ei a cabeça; os cadáveres do
arraial dos filisteus darei hoje mesmo às aves do céu e às feras da terra; para
que toda a terra saiba que há Deus em Israel;
47 e para que toda esta
assembléia saiba que o Senhor salva, não com espada, nem com lança; pois do
Senhor é a batalha, e ele vos entregará em nossas mãos.
48 Quando o filisteu se
levantou e veio chegando para se defrontar com Davi, este se apressou e correu
ao combate, a encontrar-se com o filisteu.
49 E Davi, metendo a mão no
alforje, tirou dali uma pedra e com a funda lha atirou, ferindo o filisteu na
testa; a pedra se lhe cravou na testa, e ele caiu com o rosto em terra.
50 Assim Davi prevaleceu
contra o filisteu com uma funda e com uma pedra; feriu-o e o matou; e não havia
espada na mão de Davi.
51 Correu, pois, Davi, pôs-se
em pé sobre o filisteu e, tomando a espada dele e tirando-a da bainha, o matou,
decepando-lhe com ela a cabeça. Vendo então os filisteus que o seu campeão
estava morto, fugiram.
52 Então os homens de Israel
e de Judá se levantaram gritando, e perseguiram os filisteus até a entrada de
Gai e até as portas de Ecrom; e caíram os feridos dos filisteus pelo caminho de
Saraim até Gate e até Ecrom.
53 Depois voltaram os filhos
de Israel de perseguirem os filisteus, e despojaram os seus arraiais.
54 Davi tomou a cabeça do
filisteu e a trouxe a Jerusalém; porém pôs as armas dele na sua tenda.
55 Quando Saul viu Davi sair
e encontrar-se com o filisteu, perguntou a Abner, o chefe do exército: De quem
é filho esse jovem, Abner? Respondeu Abner: Vive a tua alma, ó rei, que não
sei.
56 Disse então o rei:
Pergunta, pois, de quem ele é filho.
57 Voltando, pois, Davi de
ferir o filisteu, Abner o tomou consigo, e o trouxe à presença de Saul,
trazendo Davi na mão a cabeça do filisteu.
58 E perguntou-lhe Saul: De
quem és filho, jovem? Respondeu Davi: Filho de teu servo Jessé, belemita.
»I SAMUEL [18]
1 Ora, acabando Davi de falar
com Saul, a alma de Jônatas ligou-se com a alma de Davi; e Jônatas o amou como
à sua própria alma.
2 E desde aquele dia Saul o
reteve, não lhe permitindo voltar para a casa de seu pai.
3 Então Jônatas fez um pacto
com Davi, porque o amava como à sua própria vida.
4 E Jônatas se despojou da
capa que vestia, e a deu a Davi, como também a sua armadura, e até mesmo a sua
espada, o seu arco e o seu cinto.
5 E saía Davi aonde quer que
Saul o enviasse, e era sempre bem sucedido; e Saul o pôs sobre a gente de
guerra, e isso pareceu bem aos olhos de todo o povo, e até aos olhos dos servos
de Saul.
6 Sucedeu porém que, retornando
eles, quando Davi voltava de ferir o filisteu, as mulheres de todas as cidades
de Israel saíram ao encontro do rei Saul, cantando e dançando alegremente, com
tamboris, e com instrumentos de música.
7 E as mulheres, dançando,
cantavam umas para as outras, dizendo: Saul feriu os seus milhares, porém Davi
os seus dez milhares.
8 Então Saul se indignou
muito, pois aquela palavra pareceu mal aos seus olhos, e disse: Dez milhares
atribuíram a Davi, e a mim somente milhares; que lhe falta, senão só o reino?
9 Daquele dia em diante, Saul
trazia Davi sob suspeita.
10 No dia seguinte o espírito
maligno da parte de Deus se apoderou de Saul, que começou a profetizar no meio
da casa; e Davi tocava a harpa, como nos outros dias. Saul tinha na mão uma
lança.
11 E Saul arremessou a lança,
dizendo consigo: Encravarei a Davi na parede. Davi, porém, desviou-se dele por
duas vezes.
12 Saul, pois, temia a Davi,
porque o Senhor era com Davi e se tinha retirado dele.
13 Pelo que Saul o afastou de
si, e o fez comandante de mil; e ele saía e entrava diante do povo.
14 E Davi era bem sucedido em
todos os seus caminhos; e o Senhor era com ele.
15 Vendo, então, Saul que ele
era tão bem sucedido, tinha receio dele.
16 Mas todo o Israel e Judá
amavam a Davi, porquanto saía e entrava diante deles.
17 Pelo que Saul disse a
Davi: Eis que Merabe, minha filha mais velha, te darei por mulher, contanto que
me sejas filho valoroso, e guerreies as guerras do Senhor. Pois Saul dizia
consigo: Não seja contra ele a minha mão, mas sim a dos filisteus.
18 Mas Davi disse a Saul:
Quem sou eu, e qual é a minha vida e a família de meu pai em Israel, para eu
vir a ser genro do rei?
19 Sucedeu, porém, que ao
tempo em que Merabe, filha de Saul, devia ser dada a Davi, foi dada por mulher
a Adriel, meolatita.
20 Mas Mical, a outra filha
de Saul, amava a Davi; sendo isto anunciado a Saul, pareceu bem aos seus olhos.
21 E Saul disse: Eu lha
darei, para que ela lhe sirva de laço, e para que a mão dos filisteus venha a
ser contra ele. Pelo que Saul disse a Davi: com a outra serás hoje meu genro.
22 Saul, pois, deu ordem aos
seus servos: Falai em segredo a Davi, dizendo: Eis que o rei se agrada de ti, e
todos os seus servos te querem bem; agora, pois, consente em ser genro do rei.
23 Assim os servos de Saul
falaram todas estas palavras aos ouvidos de Davi. Então disse Davi: Parece-vos
pouca coisa ser genro do rei, sendo eu homem pobre e de condição humilde?
24 E os servos de Saul lhe
anunciaram isto, dizendo: Assim e assim falou Davi.
25 Então disse Saul: Assim direis
a Davi: O rei não deseja dote, senão cem prepúcios de filisteus, para que seja
vingado dos seus inimigos. Porquanto Saul tentava fazer Davi cair pela mão dos
filisteus.
26 Tendo os servos de Saul
anunciado estas palavras a Davi, pareceu bem aos seus olhos tornar-se genro do
rei. Ora, ainda os dias não se haviam cumprido,
27 quando Davi se levantou,
partiu com os seus homens, e matou dentre os filisteus duzentos homens; e Davi
trouxe os prepúcios deles, e os entregou, bem contados, ao rei, para que fosse
seu genro. Então Saul lhe deu por mulher sua filha Mical.
28 Mas quando Saul viu e
compreendeu que o Senhor era com Davi e que todo o Israel o amava,
29 temeu muito mais a Davi; e
Saul se tornava cada vez mais seu inimigo.
30 Então saíram os chefes dos
filisteus à campanha; e sempre que eles saíam, Davi era mais bem sucedido do
que todos os servos de Saul, pelo que o seu nome era mui estimado.
»I SAMUEL [19]
1 Falou, pois, Saul a
Jônatas, seu filho, e a todos os seus servos, para que matassem a Davi. Porém
Jônatas, filho de Saul, estava muito afeiçoado a Davi.
2 Pelo que Jônatas o anunciou
a Davi, dizendo: Saul, meu pai, procura matar-te; portanto, guarda-te amanhã
pela manhã, fica num lugar oculto e esconde-te;
3 eu sairei e me porei ao
lado de meu pai no campo em que estiveres; falarei acerca de ti a meu pai,
verei o que há, e to anunciarei.
4 Então Jônatas falou bem de
Davi a Saul, seu pai, e disse-lhe: Não peque o rei contra seu servo Davi,
porque ele não pecou contra ti, e porque os seus feitos para contigo têm sido
muito bons.
5 Porque expôs a sua vida e
matou o filisteu, e o Senhor fez um grande livramento para todo o Israel. Tu
mesmo o viste, e te alegraste; por que, pois, pecarias contra o sangue
inocente, matando sem causa a Davi?
6 E Saul deu ouvidos à voz de
Jônatas, e jurou: Como vive o Senhor, Davi não morrera.
7 Jônatas, pois, chamou a
Davi, contou-lhe todas estas palavras, e o levou a Saul; e Davi o assistia como
dantes.
8 Depois tornou a haver
guerra; e saindo Davi, pelejou contra os filisteus, e os feriu com grande
matança, e eles fugiram diante dele.
9 Então o espírito maligno da
parte do Senhor veio sobre Saul, estando ele sentado em sua casa, e tendo na
mão a sua lança; e Davi estava tocando a harpa.
10 E Saul procurou encravar a
Davi na parede, porém ele se desviou de diante de Saul, que fincou a lança na
parede. Então Davi fugiu, e escapou naquela mesma noite.
11 Mas Saul mandou
mensageiros à casa de Davi, para que o vigiassem, e o matassem pela manhã;
porém Mical, mulher de Davi, o avisou, dizendo: Se não salvares a tua vida esta
noite, amanhã te matarão.
12 Então Mical desceu Davi
por uma janela, e ele se foi e, fugindo, escapou.
13 Mical tomou uma estátua,
deitou-a na cama, pôs-lhe à cabeceira uma pele de cabra, e a cobriu com uma
capa.
14 Quando Saul enviou
mensageiros para prenderem a Davi, ela disse: Está doente.
15 Tornou Saul a enviá-los,
para que vissem a Davi, dizendo-lhes: Trazei-mo na cama, para que eu o mate.
16 Vindo, pois, os
mensageiros, eis que estava a estátua na cama, e a pele de cabra à sua
cabeceira.
17 Então perguntou Saul a
Mical: Por que assim me enganaste, e deixaste o meu inimigo ir e escapar?
Respondeu Mical a Saul: Porque ele me disse: Deixa-me ir! Por que hei de
matar-te?
18 Assim Davi fugiu e
escapou; e indo ter com Samuel, em Ramá, contou-lhe tudo quanto Saul lhe
fizera; foram, pois, ele e Samuel, e ficaram em Naiote.
19 E foi dito a Saul: Eis que
Davi está em Naiote, em Ramá.
20 Então enviou Saul
mensageiros para prenderem a Davi; quando eles viram a congregação de profetas
profetizando, e Samuel a presidi-los, o Espírito de Deus veio sobre os
mensageiros de Saul, e também eles profetizaram.
21 Avisado disso, Saul enviou
outros mensageiros, e também estes profetizaram. Ainda terceira vez enviou Saul
mensageiros, os quais também profetizaram.
22 Então foi ele mesmo a Rama
e, chegando ao poço grande que estava em Sécu, perguntou: Onde estão Samuel e
Davi? Responderam-lhe: Eis que estão em Naiote, em Ramá.
23 Foi, pois, para Naiote, em
Ramá; e o Espírito de Deus veio também sobre ele, e ele ia caminhando e
profetizando, até chegar a Naiote, em Ramá.
24 E despindo as suas vestes,
ele também profetizou diante de Samuel; e esteve nu por terra todo aquele dia e
toda aquela noite. Pelo que se diz: Está também Saul entre os profetas?
»I SAMUEL [20]
1 Então fugiu Davi de Naiote,
em Ramá, veio ter com Jônatas e lhe disse: Que fiz eu? qual é a minha
iniqüidade? e qual é o meu pecado diante de teu pai, para que procure tirar-me
a vida?
2 E ele lhe disse: Longe
disso! não hás de morrer. Meu pai não faz coisa alguma, nem grande nem pequena,
sem que primeiro ma participe; por que, pois, meu pai me encobriria este
negócio? Não é verdade.
3 Respondeu-lhe Davi, com
juramento: Teu pai bem sabe que achei graça aos teus olhos; pelo que disse: Não
saiba isto Jônatas, para que não se magoe. Mas, na verdade, como vive o Senhor,
e como vive a tua alma, há apenas um passo entre mim e a morte.
4 Disse Jônatas a Davi: O que
desejas tu que eu te faça?
5 Respondeu Davi a Jônatas:
Eis que amanhã é a lua nova, e eu deveria sentar-me com o rei para comer; porém
deixa-me ir, e esconder-me-ei no campo até a tarde do terceiro dia.
6 Se teu pai notar a minha
ausência, dirás: Davi me pediu muito que o deixasse ir correndo a Belém, sua
cidade, porquanto se faz lá o sacrifício anual para toda a parentela.
7 Se ele disser: Está bem;
então teu servo tem paz; porém se ele muito se indignar, fica sabendo que ele
já está resolvido a praticar o mal.
8 Usa, pois, de misericórdia
para com o teu servo, porque o fizeste entrar contigo em aliança do Senhor; se,
porém, há culpa em mim, mata-me tu mesmo; por que me levarias a teu pai?
9 Ao que respondeu Jônatas:
Longe de ti tal coisa! Se eu soubesse que meu pai estava resolvido a trazer o
mal sobre ti, não to descobriria eu?
10 Perguntou, pois, Davi a
Jônatas: Quem me fará saber, se por acaso teu pai te responder asperamente?
11 Então disse Jônatas a
Davi: Vem, e saiamos ao campo. E saíram ambos ao campo.
12 E disse Jônatas a Davi: O
Senhor, Deus de Israel, seja testemunha! Sondando eu a meu pai amanhã a estas
horas, ou depois de amanhã, se houver coisa favorável para Davi, eu não
enviarei a ti e não to farei saber?
13 O Senhor faça assim a
Jônatas, e outro tanto, se, querendo meu pai fazer-te mal, eu não te fizer
saber, e não te deixar partir, para ires em paz; e o Senhor seja contigo, assim
como foi com meu pai.
14 E não somente usarás para
comigo, enquanto viver, da benevolência do Senhor, para que não morra,
15 como também não cortarás
nunca da minha casa a tua benevolência, nem ainda quando o Senhor tiver
desarraigado da terra a cada um dos inimigos de Davi.
16 Assim fez Jônatas aliança
com a casa de Davi, dizendo: O Senhor se vingue dos inimigos de Davi.
17 Então Jônatas fez Davi
jurar de novo, porquanto o amava; porque o amava com todo o amor da sua alma.
18 Disse-lhe ainda Jônatas:
Amanhã é a lua nova, e notar-se-á a tua ausência, pois o teu lugar estará
vazio.
19 Ao terceiro dia descerás
apressadamente, e irás àquele lugar onde te escondeste no dia do negócio, e te
sentarás junto à pedra de Ezel.
20 E eu atirarei três flechas
para aquela banda, como se atirasse ao alvo.
21 Então mandarei o moço,
dizendo: Anda, busca as flechas. Se eu expressamente disser ao moço: Olha que
as flechas estão para cá de ti, apanha-as; então vem, porque, como vive o
Senhor, há paz para ti, e não há nada a temer.
22 Mas se eu disser ao moço
assim: Olha que as flechas estão para lá de ti; vai-te embora, porque o Senhor
te manda ir.
23 E quanto ao negócio de que
eu e tu falamos, o Senhor é testemunha entre mim e ti para sempre.
24 Escondeu-se, pois, Davi no
campo; e, sendo a lua nova, sentou-se o rei para comer.
25 E, sentando-se o rei, como
de costume, no seu assento junto à parede, Jônatas sentou-se defronte dele, e
Abner sentou-se ao lado de Saul; e o lugar de Davi ficou vazio.
26 Entretanto Saul não disse
nada naquele dia, pois dizia consigo: Aconteceu-lhe alguma coisa pela qual não
está limpo; certamente não está limpo.
27 Sucedeu também no dia
seguinte, o segundo da lua nova, que o lugar de Davi ficou vazio. Perguntou,
pois, Saul a Jônatas, seu filho: Por que o filho de Jessé não veio comer nem
ontem nem hoje?
28 Respondeu Jônatas a Saul:
Davi pediu-me encarecidamente licença para ir a Belém,
29 dizendo: Peço-te que me
deixes ir, porquanto a nossa parentela tem um sacrifício na cidade, e meu irmão
ordenou que eu fosse; se, pois, agora tenho achado graça aos teus olhos,
peço-te que me deixes ir, para ver a meus irmãos. Por isso não veio à mesa do
rei.
30 Então se acendeu a ira de
Saul contra Jônatas, e ele lhe disse: Filho da perversa e rebelde! Não sei eu
que tens escolhido a filho de Jessé para vergonha tua, e para vergonha de tua
mãe?
31 Pois por todo o tempo em
que o filho de Jessé viver sobre a terra, nem tu estarás seguro, nem o teu
reino; pelo que envia agora, e traze-mo, porque ele há de morrer.
32 Ao que respondeu Jônatas a
Saul, seu pai, e lhe disse: Por que há de morrer. que fez ele?
33 Então Saul levantou a
lança, para o ferir; assim entendeu Jônatas que seu pai tinha determinado matar
a Davi.
34 Pelo que Jônatas, todo
encolerizado, se levantou da mesa, e no segundo dia do mês não comeu; pois se
magoava por causa de Davi, porque seu pai o tinha ultrajado.
35 Jônatas, pois, saiu ao
campo, pela manhã, ao tempo que tinha ajustado com Davi, levando consigo um
rapazinho.
36 Então disse ao moço: Corre
a buscar as flechas que eu atirar. Correu, pois, o moço; e Jônatas atirou uma
flecha, que fez passar além dele.
37 Quando o moço chegou ao
lugar onde estava a flecha que Jônatas atirara, gritou-lhe este, dizendo: Não
está porventura a flecha para lá de ti?
38 E tornou a gritar ao moço:
Apressa-te, anda, não te demores! E o servo de Jônatas apanhou as flechas, e as
trouxe a seu senhor.
39 O moço, porém, nada
percebeu; só Jônatas e Davi sabiam do negócio.
40 Então Jônatas deu as suas
armas ao moço, e lhe disse: Vai, leva-as à cidade.
41 Logo que o moço se foi,
levantou-se Davi da banda do sul, e lançou-se sobre o seu rosto em terra, e
inclinou-se três vezes; e beijaram-se um ao outro, e choraram ambos, mas Davi
chorou muito mais.
42 E disse Jônatas a Davi:
Vai-te em paz, porquanto nós temos jurado ambos em nome do Senhor, dizendo: O
Senhor seja entre mim e ti, e entre a minha descendência e a tua descendência
perpetuamente.
43 Então Davi se levantou e
partiu; e Jônatas entrou na cidade.
»I SAMUEL [21]
1 Então veio Davi a Nobe, ao
sacerdote Aimeleque, o qual saiu, tremendo, ao seu encontro, e lhe perguntou:
Por que vens só, e ninguém contigo?
2 Respondeu Davi ao sacerdote
Aimeleque: O rei me encomendou um negócio, e me disse: Ninguém saiba deste
negócio pelo qual eu te enviei, e o qual te ordenei. Quanto aos mancebos,
apontei-lhes tal e tal lugar.
3 Agora, pois, que tens à
mão? Dá-me cinco pães, ou o que se achar.
4 Ao que, respondendo o
sacerdote a Davi, disse: Não tenho pão comum à mão; há, porém, pão sagrado, se
ao menos os mancebos se têm abstido das mulheres.
5 E respondeu Davi ao
sacerdote, e lhe disse: Sim, em boa fé, as mulheres se nos vedaram há três
dias; quando eu saí, os vasos dos mancebos também eram santos, embora fosse
para uma viagem comum; quanto mais ainda hoje não serão santos os seus vasos?
6 Então o sacerdote lhe deu o
pão sagrado; porquanto não havia ali outro pão senão os pães da proposição, que
se haviam tirado de diante do Senhor no dia em que se tiravam para se pôr ali
pão quente.
7 Ora, achava-se ali naquele
dia um dos servos de Saul, detido perante o Senhor; e era seu nome Doegue,
edomeu, chefe dos pastores de Saul.
8 E disse Davi a Aimeleque:
Não tens aqui à mão uma lança ou uma espada? porque eu não trouxe comigo nem a
minha espada nem as minhas armas, pois o negócio do rei era urgente.
9 Respondeu o sacerdote: A
espada de Golias, o filisteu, a quem tu feriste no vale de Elá, está aqui
envolta num pano, detrás do éfode; se a queres tomar, toma-a, porque não há
outra aqui senão ela. E disse Davi: Não há outra igual a essa; dá-ma.
10 Levantou-se, pois, Davi e
fugiu naquele dia de diante de Saul, e foi ter com Áquis, rei de Gate.
11 Mas os servos de Áquis lhe
perguntaram: Este não é Davi, o rei da terra? não foi deste que cantavam nas
danças, dizendo: Saul matou os seus milhares, por Davi os seus dez milhares?
12 E Davi considerou estas
palavras no seu coração, e teve muito medo de Áquis, rei de Gate.
13 Pelo que se contrafez
diante dos olhos deles, e fingiu-se doido nas mãos deles, garatujando nas
portas, e deixando correr a saliva pela barba.
14 Então disse Áquis aos seus
servos: Bem vedes que este homem está louco; por que mo trouxestes a mim?
15 Faltam-me a mim doidos,
para que trouxésseis a este para fazer doidices diante de mim? há de entrar
este na minha casa?
»I SAMUEL [22]
1 Depois Davi, retirando-se
desse lugar, escapou para a caverna de Adulão. Quando os seus irmãos e toda a
casa de seu pai souberam disso, desceram ali para ter com ele.
2 Ajuntaram-se a ele todos os
que se achavam em aperto, todos os endividados, e todos os amargurados de
espírito; e ele se fez chefe deles; havia com ele cerca de quatrocentos homens.
3 Dali passou Davi para Mizpe
de Moabe; e disse ao rei de Moabe: Deixa, peço-te, que meu pai e minha mãe
fiquem convosco, até que eu saiba o que Deus há de fazer de mim.
4 E os deixou com o rei de
Moabe; e ficaram com ele por todo o tempo que Davi esteve no lugar forte.
5 Disse o profeta Gade a
Davi: Não fiques no lugar forte; sai, e entra na terra de Judá. Então Davi
saiu, e foi para o bosque de Herete.
6 Ora, ouviu Saul que já
havia notícias de Davi e dos homens que estavam com ele. Estava Saul em Gibeá,
sentado debaixo da tamargueira, sobre o alto, e tinha na mão a sua lança, e
todos os seus servos estavam com ele.
7 Então disse Saul a seus
servos que estavam com ele: Ouvi, agora, benjamitas! Acaso o filho de Jessé vos
dará a todos vós terras e vinhas, e far-vos-á a todos chefes de milhares e
chefes de centenas,
8 para que todos vós tenhais
conspirado contra mim, e não haja ninguém que me avise de ter meu filho, feito
aliança com o filho de Jessé, e não haja ninguém dentre vós que se doa de mim,
e me participe o ter meu filho sublevado meu servo contra mim, para me armar
ciladas, como se vê neste dia?
9 Então respondeu Doegue, o
edomeu, que também estava com os servos de Saul, e disse: Vi o filho de Jessé
chegar a Nobe, a Aimeleque, filho de Aitube;
10 o qual consultou por ele
ao Senhor, e lhe deu mantimento, e lhe deu também a espada de Golias, o
filisteu.
11 Então o rei mandou chamar
a Aimeleque, o sacerdote, filho de Aitube, e a toda a casa de seu pai, isto é,
aos sacerdotes que estavam em Nobe; e todos eles vierem ao rei.
12 E disse Saul: Ouve, filho
de Aitube! E ele lhe disse: Eis-me aqui, senhor meu.
13 Então lhe perguntou Saul:
Por que conspirastes contra mim, tu e o filho de Jessé, pois deste lhe pão e
espada, e consultaste por ele a Deus, para que ele se levantasse contra mim a
armar-me ciladas, como se vê neste dia?
14 Ao que respondeu Aimeleque
ao rei dizendo: Quem há, entre todos os teus servos, tão fiel como Davi, o
genro do rei, chefe da tua guarda, e honrado na tua casa?
15 Porventura é de hoje que
comecei a consultar por ele a Deus? Longe de mim tal coisa! Não impute o rei
coisa nenhuma a mim seu servo, nem a toda a casa de meu pai, pois o teu servo
não soube nada de tudo isso, nem muito nem pouco.
16 O rei, porém, disse: Hás
de morrer, Aimeleque, tu e toda a casa de teu pai.
17 E disse o rei aos da sua
guarda que estavam com ele: Virai-vos, e matai os sacerdotes do Senhor, porque
também a mão deles está com Davi, e porque sabiam que ele fugia e não mo
fizeram saber. Mas os servos do rei não quiseram estender as suas mãos para
arremeter contra os sacerdotes do Senhor.
18 Então disse o rei a
Doegue: Vira-te e arremete contra os sacerdotes. Virou-se, então, Doegue, o
edomeu, e arremeteu contra os sacerdotes, e matou naquele dia oitenta e cinco
homens que vestiam éfode de linho.
19 Também a Nobe, cidade desses
sacerdotes, passou a fio de espada; homens e mulheres, meninos e criancinhas de
peito, e até os bois, jumentos e ovelhas passou a fio de espada.
20 Todavia um dos filhos de
Aimeleque, filho de Aitube, que se chamava Abiatar, escapou e fugiu para Davi.
21 E Abiatar anunciou a Davi
que Saul tinha matado os sacerdotes do Senhor.
22 Então Davi disse a
Abiatar: Bem sabia eu naquele dia que, estando ali Doegue, o edomeu, não
deixaria de o denunciar a Saul. Eu sou a causa da morte de todos os da casa de
teu pai.
23 Fica comigo, não temas;
porque quem procura a minha morte também procura a tua; comigo estarás em
segurança.
»I SAMUEL [23]
1 Ora, foi anunciado a Davi:
Eis que os filisteus pelejam contra Queila e saqueiam as eiras.
2 Pelo que consultou Davi ao
Senhor, dizendo: Irei eu, e ferirei a esses filisteus? Respondeu o Senhor a
Davi: Vai, fere aos filisteus e salva a Queila.
3 Mas os homens de Davi lhe
disseram: Eis que tememos aqui em Judá, quanta mais se formos a Queila, contra
o exército dos filisteus!
4 Davi, pois, tornou a
consultar ao Senhor, e o Senhor lhe respondeu: Levanta-te, desce a Queila,
porque eu hei de entregar os filisteus na tua mão.
5 Então Davi partiu com os
seus homens para Queila, pelejou contra os filisteus, levou-lhes o gado, e fez
grande matança entre eles; assim Davi salvou os moradores de Queila.
6 Ora, quando Abiatar, filho
de Aimeleque, fugiu para Davi, a Queila, desceu com um éfode na mão.
7 Então foi anunciado a Saul
que Davi tinha ido a Queila; e disse Saul: Deus o entregou nas minhas mãos;
pois está encerrado, porque entrou numa cidade que tem portas e ferrolhos.
8 E convocou todo o povo à
peleja, para descerem a Queila, e cercar a Davi e os seus homens.
9 Sabendo, pois, Davi que
Saul maquinava este mal contra ele, disse a Abiatar, sacerdote: Traze aqui o
éfode.
10 E disse Davi: Ó Senhor,
Deus de Israel, teu servo acaba de ouvir que Saul procura vir a Queila, para
destruir a cidade por causa de mim.
11 Entregar-me-ão os cidadãos
de Queila na mão dele? descerá Saul, como o teu servo tem ouvido? Ah, Senhor
Deus de Israel! faze-o saber ao teu servo. Respondeu o Senhor: Descerá.
12 Disse mais Davi:
Entregar-me-ão os cidadãos de Queila, a mim e aos meus homens, nas mãos de
Saul? E respondeu o Senhor: Entregarão.
13 Levantou-se, então, Davi
com os seus homens, cerca de seiscentos, e saíram de Queila, e foram-se aonde
puderam. Saul, quando lhe foi anunciado que Davi escapara de Queila, deixou de
sair contra ele.
14 E Davi ficou no deserto,
em lugares fortes, permanecendo na região montanhosa no deserto de Zife. Saul o
buscava todos os dias, porém Deus não o entregou na sua mão.
15 Vendo, pois, Davi que Saul
saíra à busca da sua vida, esteve no deserto de Zife, em Hores.
16 Então se levantou Jônatas,
filho de Saul, e foi ter com Davi em Hores, e o confortou em Deus;
17 e disse-lhe: Não temas;
porque não te achará a mão de Saul, meu pai; porém tu reinarás sobre Israel, e
eu serei contigo o segundo; o que também Saul, meu pai, bem sabe.
18 E ambos fizeram aliança
perante o Senhor; Davi ficou em Hores, e Jônatas, voltou para sua casa.
19 Então subiram os zifeus a
Saul, a Gibeá, dizendo: Não se escondeu Davi entre nós, nos lugares fortes em
Hores, no outeiro de Haquilá, que está à mão direita de Jesimom?
20 Agora, pois, ó rei, desce
apressadamente, conforme todo o desejo da tua alma; a nós nos cumpre entregá-lo
nas mãos do rei.
21 Então disse Saul: Benditos
sejais vós do Senhor, porque vos compadecestes de mim:
22 Ide, pois, informai-vos
ainda melhor; sabei e notai o lugar que ele freqüenta, e quem o tenha visto
ali; porque me foi dito que é muito astuto.
23 Pelo que atentai bem, e
informai-vos acerca de todos os esconderijos em que ele se oculta; e então
voltai para mim com notícias exatas, e eu irei convosco. E há de ser que, se
estiver naquela terra, eu o buscarei entre todos os milhares de Judá.
24 Eles, pois, se levantaram
e foram a Zife adiante de Saul; Davi, porém, e os seus homens estavam no
deserto de Maom, na campina ao sul de Jesimom.
25 E Saul e os seus homens
foram em busca dele. Sendo isso anunciado a Davi, desceu ele à penha que está
no deserto de Maom. Ouvindo-o Saul, foi ao deserto de Maom, a perseguir Davi.
26 Saul ia de uma banda do
monte, e Davi e os seus homens da outra banda. E Davi se apressava para
escapar, por medo de Saul, porquanto Saul e os seus homens iam cercando a Davi
e aos seus homens, para os prender.
27 Nisso veio um mensageiro a
Saul, dizendo: Apressa-te, e vem, porque os filisteus acabam de invadir a
terra.
28 Pelo que Saul voltou de
perseguir a Davi, e se foi ao encontro dos filisteus. Por esta razão aquele
lugar se chamou Selá-Hamalecote.
29 Depois disto, Davi subiu e
ficou nos lugares fortes de En-Gedi.
»I SAMUEL [24]
1 Ora, quando Saul voltou de
perseguir os filisteus, foi-lhe dito: Eis que Davi está no deserto de En-Gedi.
2 Então tomou Saul três mil
homens, escolhidos dentre todo o Israel, e foi em busca de Davi e dos seus
homens, até sobre as penhas das cabras montesas.
3 E chegou no caminho a uns
currais de ovelhas, onde havia uma caverna; e Saul entrou nela para aliviar o
ventre. Ora Davi e os seus homens estavam sentados na parte interior da
caverna.
4 Então os homens de Davi lhe
disseram: Eis aqui o dia do qual o Senhor te disse: Eis que entrego o teu
inimigo nas tuas mãos; far-lhe-ás como parecer bem aos teus olhos. Então Davi
se levantou, e de mansinho cortou a orla do manto de Saul.
5 Sucedeu, porém, que depois
doeu o coração de Davi, por ter cortado a orla do manto de Saul.
6 E disse aos seus homens: O
Senhor me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do Senhor,
que eu estenda a minha mão contra ele, pois é o ungido do Senhor.
7 com essas palavras Davi
conteve os seio chegando para se permitiu que se levantassem contra Saul. E
Saul se levantou da caverna, e prosseguiu o seu caminho.
8 Depois também Davi se
levantou e, saindo da caverna, gritou por detrás de Saul, dizendo: Ó rei, meu
senhor! Quando Saul olhou para trás, Davi se inclinou com o rosto em terra e
lhe fez reverência.
9 Então disse Davi a Saul:
por que dás ouvidos às palavras dos homens que dizem: Davi procura fazer-te
mal?
10 Eis que os teus olhos
acabam de ver que o Senhor hoje te pôs em minhas mãos nesta caverna; e alguns
disseram que eu te matasse, porém a minha mão te poupou; pois eu disse: Não
estenderei a minha mão contra o meu senhor, porque é o ungido do Senhor.
11 Olha, meu pai, vê aqui a
orla do teu manto na minha mão, pois cortando-te eu a orla do manto, não te
matei. Considera e vê que não há na minha mão nem mal nem transgressão alguma,
e que não pequei contra ti, ainda que tu andes à caça da minha vida para ma
tirares.
12 Julgue o Senhor entre mim
e ti, e vingue-me o Senhor de ti; a minha mão, porém, não será contra ti.
13 Como diz o provérbio dos
antigos: Dos ímpios procede a impiedade. A minha mão, porém, não será contra
ti.
14 Após quem saiu o rei de
Israel? a quem persegues tu? A um cão morto, a uma pulga!
15 Seja, pois, o Senhor juiz,
e julgue entre mim e ti; e veja, e advogue a minha causa, e me livre da tua
mão.
16 Acabando Davi de falar a
Saul todas estas palavras, perguntou Saul: E esta a tua voz, meu filho Davi?
Então Saul levantou a voz e chorou.
17 E disse a Davi: Tu és mais
justo do que eu, pois me recompensaste com bem, e eu te recompensei com mal.
18 E tu mostraste hoje que
procedeste bem para comigo, por isso que, havendo-me o Senhor entregado na tua
mão, não me mataste.
19 Pois, quem há que,
encontrando o seu inimigo, o deixará ir o seu caminho? O Senhor, pois, te pague
com bem, pelo que hoje me fizeste.
20 Agora, pois, sei que
certamente hás de reinar, e que o reino de Israel há de se firmar na tua mão.
21 Portanto jura-me pelo
Senhor que não desarraigarás a minha descendência depois de mim, nem
extinguirás o meu nome da casa de meu pai.
22 Então jurou Davi a Saul. E
foi Saul para sua casa, mas Davi e os seus homens subiram ao lugar forte.
»I SAMUEL [25]
1 Ora, faleceu Samuel; e todo
o Israel se ajuntou e o pranteou; e o sepultaram na sua casa, em Ramá. E Davi
se levantou e desceu ao deserto de Parã.
2 Havia um homem em Maom que
tinha as suas possessões no Carmelo. Este homem era muito rico, pois tinha três
mil ovelhas e mil Cabras e estava tosquiando as suas ovelhas no Carmelo.
3 Chamava-se o homem Nabal, e
sua mulher chamava-se Abigail; era a mulher sensata e formosa; o homem porém,
era duro, e maligno nas suas ações; e era da casa de Calebe.
4 Ouviu Davi no deserto que
Nabal tosquiava as suas ovelhas,
5 e enviou-lhe dez mancebos,
dizendo-lhes: Subi ao Carmelo, ide a Nabal e perguntai-lhe, em meu nome, como
está.
6 Assim lhe direis: Paz seja
contigo, e com a tua casa, e com tudo o que tens.
7 Agora, pois, tenho ouvido
que tens tosquiadores. Ora, os pastores que tens acabam de estar conosco;
agravo nenhum lhes fizemos, nem lhes desapareceu coisa alguma por todo o tempo
que estiveram no Carmelo.
8 Pergunta-o aos teus
mancebos, e eles to dirão. Que achem, portanto, os teus servos graça aos teus
olhos, porque viemos em boa ocasião. Dá, pois, a teus servos e a Davi, teu
filho, o que achares à mão.
9 Chegando, pois, os mancebos
de Davi, falaram a Nabal todas aquelas palavras em nome de Davi, e se calaram.
10 Ao que Nabal respondeu aos
servos de Davi, e disse: Quem é Davi, e quem o filho de Jessé? Muitos servos há
que hoje fogem ao seu senhor.
11 Tomaria eu, pois, o meu
pão, e a minha água, e a carne das minhas reses que degolei para os meus
tosquiadores, e os daria a homens que não sei donde vêm?
12 Então os mancebos de Davi
se puseram a caminho e, voltando, vieram anunciar-lhe todas estas palavras.
13 Pelo que disse Davi aos
seus homens: Cada um cinja a sua espada. E cada um cingiu a sua espada, e Davi
também cingiu a sua, e subiram após Davi cerca de quatrocentos homens, e
duzentos ficaram com a bagagem.
14 um dentre os mancebos,
porém, o anunciou a Abigail, mulher de Nabal, dizendo: Eis que Davi enviou
mensageiros desde o deserto a saudar o nosso amo; e ele os destratou.
15 Todavia, aqueles homens
têm-nos sido muito bons, e nunca fomos agravados deles, e nada nos desapareceu
por todo o tempo em que convivemos com eles quando estávamos no campo.
16 De muro em redor nos
serviram, assim de dia como de noite, todos os dias que andamos com eles
apascentando as ovelhas.
17 Considera, pois, agora e
vê o que hás de fazer, porque o mal já está de todo determinado contra o nosso
amo e contra toda a sua casa; e ele é tal filho de Belial, que não há quem lhe
possa falar.
18 Então Abigail se apressou,
e tomou duzentos pães, dois odres de vinho, cinco ovelhas assadas, cinco
medidas de trigo tostado, cem cachos de passas, e duzentas pastas de figos
secos, e os pôs sobre jumentos.
19 E disse aos seus mancebos:
Ide adiante de mim; eis que vos seguirei de perto. Porém não o declarou a
Nabal, seu marido.
20 E quando ela, montada num
jumento, ia descendo pelo encoberto do monte, eis que Davi e os seus homens lhe
vinham ao encontro; e ela se encontrou com eles.
21 Ora, Davi tinha dito: Na
verdade que em vão tenho guardado tudo quanto este tem no deserto, de sorte que
nada lhe faltou de tudo quanto lhe pertencia; e ele me pagou mal por bem.
22 Assim faça Deus a Davi, e
outro tanto, se eu deixar até o amanhecer, de tudo o que pertence a Nabal, um
só varão.
23 Vendo, pois, Abigail a
Davi, apressou-se, desceu do jumento e prostrou-se sobre o seu rosto diante de
Davi, inclinando-se à terra,
24 e, prostrada a seus pés,
lhe disse: Ah, senhor meu, minha seja a iniqüidade! Deixa a tua serva falar aos
teus ouvidos, e ouve as palavras da tua serva.
25 Rogo-te, meu senhor, que
não faças caso deste homem de Belial, a saber, Nabal; porque tal é ele qual é o
seu nome. Nabal é o seu nome, e a loucura está com ele; mas eu, tua serva, não
vi os mancebos de meu senhor, que enviaste.
26 Agora, pois, meu senhor,
vive o Senhor, e vive a tua alma, porquanto o Senhor te impediu de derramares
sangue, e de te vingares com a tua própria mão, sejam agora como Nabal os teus
inimigos e os que procuram fazer o mal contra o meu senhor.
27 Aceita agora este presente
que a tua serva trouxe a meu senhor; seja ele dado aos mancebos que seguem ao
meu senhor.
28 Perdoa, pois, a
transgressão da tua serva; porque certamente fará o Senhor casa firme a meu
senhor, pois meu senhor guerreia as guerras do Senhor; e não se achará mal em
ti por todos os teus dias.
29 Se alguém se levantar para
te perseguir, e para buscar a tua vida, então a vida de meu senhor será atada
no feixe dos que vivem com o Senhor teu Deus; porém a vida de teus inimigos ele
arrojará ao longe, como do côncavo de uma funda.
30 Quando o Senhor tiver
feito para com o meu senhor conforme todo o bem que já tem dito de ti, e te
houver estabelecido por príncipe sobre Israel,
31 então, meu senhor, não
terás no coração esta tristeza nem este remorso de teres derramado sangue sem
causa, ou de haver-se vingado o meu senhor a si mesmo. E quando o Senhor fizer
bem a meu senhor, lembra-te então da tua serva.
32 Ao que Davi disse a Abigail:
Bendito seja o Senhor Deus de Israel, que hoje te enviou ao meu encontro!
33 E bendito seja o teu
conselho, e bendita sejas tu, que hoje me impediste de derramar sangue, e de
vingar-me pela minha própria mão!
34 Pois, na verdade, vive o
Senhor Deus de Israel que me impediu de te fazer mal, que se tu não te
apressaras e não me vieras ao encontro, não teria ficado a Nabal até a luz da
manhã nem mesmo um menino.
35 Então Davi aceitou da mão
dela o que lhe tinha trazido, e lhe disse: Sobe em paz à tua casa; vê que dei
ouvidos à tua voz, e aceitei a tua face.
36 Ora, quando Abigail voltou
para Nabal, eis que ele fazia em sua casa um banquete, como banquete de rei; e
o coração de Nabal estava alegre, pois ele estava muito embriagado; pelo que
ela não lhe deu a entender nada daquilo, nem pouco nem muito, até a luz da
manhã.
37 Sucedeu, pois, que, pela
manhã, estando Nabal já livre do vinho, sua mulher lhe contou essas coisas; de
modo que o seu coração desfaleceu, e ele ficou como uma pedra.
38 Passados uns dez dias, o
Senhor feriu a Nabal, e ele morreu.
39 Quando Davi ouviu que
Nabal morrera, disse: Bendito seja o Senhor, que me vingou da afronta que
recebi de Nabal, e deteve do mal a seu servo, fazendo cair a maldade de Nabal
sobre a sua cabeça. Depois mandou Davi falar a Abigail, para tomá-la por
mulher.
40 Vindo, pois, os servos de
Davi a Abigail, no Carmelo, lhe falaram, dizendo: Davi nos mandou a ti, para te
tomarmos por sua mulher.
41 Ao que ela se levantou, e
se inclinou com o rosto em terra, e disse: Eis que a tua serva servirá de
criada para lavar os pés dos servos de meu senhor.
42 Então Abigail se apressou
e, levantando-se, montou num jumento, e levando as cinco moças que lhe
assistiam, seguiu os mensageiros de Davi, que a recebeu por mulher.
43 Davi tomou também a Ainoã
de Jizreel; e ambas foram suas mulheres.
44 Pois Saul tinha dado sua
filha Mical, mulher de Davi, a Palti, filho de Laís, o qual era de Galim.
»I SAMUEL [26]
1 Ora, vieram os zifeus a
Saul, a Gibeá, dizendo: Não está Davi se escondendo no outeiro de Haquilá,
defronte de Jesimom?
2 Então Saul se levantou, e
desceu ao deserto de Zife, levando consigo três mil homens escolhidos de
Israel, para buscar a Davi no deserto de Zife.
3 E acampou-se Saul no
outeiro de Haquilá, defronte de Jesimom, junto ao caminho; porém Davi ficou no
deserto, e percebendo que Saul vinha após ele ao deserto,
4 enviou espias, e
certificou-se de que Saul tinha chegado.
5 Então Davi levantou-se e
foi ao lugar onde Saul se tinha acampado; viu Davi o lugar onde se deitavam
Saul e Abner, filho de Ner, chefe do seu exército. E Saul estava deitado dentro
do acampamento, e o povo estava acampado ao redor dele.
6 Então Davi, dirigindo-se a
Aimeleque, o heteu, e a Abisai, filho de Zeruia, irmão de Joabe, perguntou:
Quem descerá comigo a Saul, ao arraial? Respondeu Abisai: Eu descerei contigo.
7 Foram, pois, Davi e Abisai
de noite ao povo; e eis que Saul estava deitado, dormindo dentro do
acampamento, e a sua lança estava pregada na terra à sua cabeceira; e Abner e o
povo estavam deitados ao redor dele.
8 Então disse Abisai a Davi:
Deus te entregou hoje nas mãos o teu inimigo; deixa-me, pois, agora encravá-lo
na terra, com a lança, de um só golpe; não o ferirei segunda vez.
9 Mas Davi respondeu a
Abisai: Não o mates; pois quem pode estender a mão contra o ungido do Senhor, e
ficar inocente?
10 Disse mais Davi: Como vive
o Senhor, ou o Senhor o ferirá, ou chegará o seu dia e morrerá, ou descerá para
a batalha e perecerá;
11 o Senhor, porém, me guarde
de que eu estenda a mão contra o ungido do Senhor. Agora, pois, toma a lança
que está à sua cabeceira, e a bilha d'água, e vamo-nos.
12 Tomou, pois, Davi a lança
e a bilha d'água da cabeceira de Saul, e eles se foram. Ninguém houve que o
visse, nem que o soubesse, nem que acordasse; porque todos estavam dormindo,
pois da parte do Senhor havia caído sobre eles um profundo sono.
13 Então Davi, passando à
outra banda, pôs-se no cume do monte, ao longe, de maneira que havia grande
distância entre eles.
14 E Davi bradou ao povo, e a
Abner, filho de Ner, dizendo: Não responderás, Abner? Então Abner respondeu e
disse: Quem és tu, que bradas ao rei?
15 Ao que disse Davi a Abner:
Não és tu um homem? e quem há em Israel como tu? Por que, então, não guardaste
o rei, teu senhor? porque um do povo veio para destruir o rei, teu senhor.
16 Não é bom isso que
fizeste. Vive o Senhor, que sois dignos de morte, porque não guardastes a vosso
senhor, o ungido do Senhor. Vede, pois, agora onde está a lança do rei, e a
bilha d'água que estava à sua cabeceira.
17 Saul reconheceu a voz de
Davi, e disse: Não é esta a tua voz, meu filho Davi? Respondeu Davi: E minha
voz, ó rei, meu senhor.
18 Disse mais: Por que o meu
senhor persegue tanto o seu servo? que fiz eu? e que maldade se acha na minha
mão?
19 Ouve pois agora, ó rei,
meu senhor, as palavras de teu servo: Se é o Senhor quem te incita contra mim,
receba ele uma oferta; se, porém, são os filhos dos homens, malditos sejam
perante o Senhor, pois eles me expulsaram hoje para que eu não tenha parte na
herança do Senhor, dizendo: Vai, serve a outros deuses.
20 Agora, pois, não caia o
meu sangue em terra fora da presença do Senhor; pois saiu o rei de Israel em
busca duma pulga, como quem persegue uma perdiz nos montes.
21 Então disse Saul: Pequei;
volta, meu filho Davi, pois não tornarei a fazer-te mal, porque a minha vida
foi hoje preciosa aos teus olhos. Eis que procedi como um louco, e errei
grandissimamente.
22 Davi então respondeu, e
disse: Eis aqui a lança, ó rei! venha cá um os mancebos, e leve-a.
23 O Senhor, porém, pague a
cada um a sua justiça e a sua lealdade; pois o Senhor te entregou hoje na minha
mão, mas eu não quis estender a mão contra o ungido do Senhor.
24 E assim como foi a tua
vida hoje preciosa aos meus olhos, seja a minha vida preciosa aos olhos do
Senhor, e livre-me ele de toda a tribulação.
25 Então Saul disse a Davi:
Bendito sejas tu, meu filho Davi, pois grandes coisas farás e também certamente
prevalecerás. Então Davi se foi o seu caminho e Saul voltou para o seu lugar.
»I SAMUEL [27]
1 Disse, porém, Davi no seu
coração: Ora, perecerei ainda algum dia pela mão de Saul; não há coisa melhor
para mim do que escapar para a terra dos filisteus, para que Saul perca a
esperança de mim, e cesse de me buscar por todos os termos de Israel; assim
escaparei da sua mão.
2 Então Davi se levantou e
passou, com os seiscentos homens que com ele estavam, para Áquis, filho de
Maoque, rei de Gate.
3 E Davi ficou com Áquis em
Gate, ele e os seus homens, cada um com a sua família, e Davi com as suas duas
mulheres, Ainoã, a jizreelita, e Abigail, que fora mulher de Nabal, o
carmelita.
4 Ora, sendo Saul avisado de
que Davi tinha fugido para Gate, não cuidou mais de buscá-lo.
5 Disse Davi a Áquis: Se eu
tenho achado graça aos teus olhos, que se me dê lugar numa das cidades do país,
para que eu ali habite; pois, por que haveria o teu servo de habitar contigo na
cidade real?
6 Então lhe deu Áquis naquele
dia a cidade de Ziclague; pelo que Ziclague pertence aos reis de Judá, até o
dia de hoje.
7 E o número dos dias que
Davi habitou na terra dos filisteus foi de um ano e quatro meses.
8 Ora, Davi e os seus homens
subiam e davam sobre os gesuritas, e os girzitas, e os amalequitas; pois, desde
tempos remotos, eram estes os moradores da terra que se estende na direção de
Sur até a terra do Egito.
9 E Davi feria aquela terra,
não deixando com vida nem homem nem mulher; e, tomando ovelhas, bois, jumentos,
camelos e vestuários, voltava, e vinha a Áquis.
10 E quando Áquis perguntava:
Sobre que parte fizestes incursão hoje? Davi respondia: Sobre o Negebe de Judá;
ou: Sobre o Negebe dos jerameelitas; ou: Sobre o Negebe dos queneus.
11 E Davi não deixava com
vida nem homem nem mulher para trazê-los a Gate, pois dizia: Para que
porventura não nos denunciem, dizendo: Assim fez Davi. E este era o seu costume
por todos os dias que habitou na terra dos filisteus.
12 Áquis, pois, confiava em
Davi, dizendo: Fez-se ele por certo aborrecível para com o seu povo em Israel;
pelo que me será por servo para sempre.
»I SAMUEL [28]
1 Naqueles dias ajuntaram os
filisteus os seus exércitos para a guerra, para pelejarem contra Israel. Disse
Áquis a Davi: Sabe de certo que sairás comigo ao arraial, tu e os teus homens.
2 Respondeu Davi a Áquis:
Assim saberás o que o teu servo há de fazer. E disse Áquis a Davi: Por isso te
farei para sempre guarda da minha pessoa.
3 Ora, Samuel já havia
morrido, e todo o Israel o tinha chorado, e o tinha sepultado e em Ramá, que
era a sua cidade. E Saul tinha desterrado es necromantes e os adivinhos.
4 Ajuntando-se, pois, os filisteus,
vieram acampar-se em Suném; Saul ajuntou também todo o Israel, e se acamparam
em Gilboa.
5 Vendo Saul o arraial dos
filisteus, temeu e estremeceu muito o seu coração.
6 Pelo que consultou Saul ao
Senhor, porém o Senhor não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por
profetas.
7 Então disse Saul aos seus
servos: Buscai-me uma necromante, para que eu vá a ela e a consulte.
Disseram-lhe os seus servos: Eis que em En-Dor há uma mulher que é necromante.
8 Então Saul se disfarçou,
vestindo outros trajes; e foi ele com dois homens, e chegaram de noite à casa
da mulher. Disse-lhe Saul: Peço-te que me adivinhes pela necromancia, e me
faças subir aquele que eu te disser.
9 A mulher lhe respondeu: Tu
bem sabes o que Saul fez, como exterminou da terra os necromantes e os
adivinhos; por que, então, me armas um laço à minha vida, para me fazeres
morrer?
10 Saul, porém, lhe jurou
pelo Senhor, dizendo: Como vive o Senhor, nenhum castigo te sobrevirá por isso.
11 A mulher então lhe
perguntou: Quem te farei subir? Respondeu ele: Faze-me subir Samuel.
12 Vendo, pois, a mulher a
Samuel, gritou em alta voz, e falou a Saul, dizendo: Por que me enganaste? pois
tu mesmo és Saul.
13 Ao que o rei lhe disse:
Não temas; que é que vês? Então a mulher respondeu a Saul: Vejo um deus que vem
subindo de dentro da terra.
14 Perguntou-lhe ele: Como é
a sua figura? E disse ela: Vem subindo um ancião, e está envolto numa capa.
Entendendo Saul que era Samuel, inclinou-se com o rosto em terra, e lhe fez
reverência.
15 Samuel disse a Saul: Por
que me inquietaste, fazendo-me subir? Então disse Saul: Estou muito angustiado,
porque os filisteus guerreiam contra mim, e Deus se tem desviado de mim, e já
não me responde, nem por intermédio dos profetas nem por sonhos; por isso te
chamei, para que me faças saber o que hei de fazer.
16 Então disse Samuel: Por
que, pois, me perguntas a mim, visto que o Senhor se tem desviado de ti, e se
tem feito teu inimigo?
17 O Senhor te fez como por
meu intermédio te disse; pois o Senhor rasgou o reino da tua mão, e o deu ao
teu próximo, a Davi.
18 Porquanto não deste
ouvidos à voz do Senhor, e não executaste e furor da sua ira contra Amaleque,
por isso o Senhor te fez hoje isto.
19 E o Senhor entregará
também a Israel contigo na mão dos filisteus. Amanhã tu e teus filhos estareis
comigo, e o Senhor entregará o arraial de Israel na mão dos filisteus.
20 Imediatamente Saul caiu
estendido por terra, tomado de grande medo por causa das palavras de Samuel; e
não houve força nele, porque nada havia comido todo aquele dia e toda aquela
noite.
21 Então a mulher se
aproximou de Saul e, vendo que estava tão perturbado, disse-lhe: Eis que a tua
serva deu ouvidos à tua voz; pus a minha vida na minha mão, dando ouvidos às
palavras que disseste.
22 Agora, pois, ouve também
tu as palavras da tua serva, e permite que eu ponha um bocado de pão diante de
ti; come, para que tenhas forças quando te puseres a caminho.
23 Ele, porém, recusou,
dizendo: Não comerei. Mas os seus servos e a mulher o constrangeram, e ele deu
ouvidos à sua voz; e levantando-se do chão, sentou-se na cama.
24 Ora, a mulher tinha em
casa um bezerro cevado; apressou-se, pois, e o degolou; também tomou farinha, e
a amassou, e a cozeu em bolos ázimos.
25 Então pôs tudo diante de
Saul e de seus servos; e eles comeram. Depois levantaram-se e partiram naquela
mesma noite.
»I SAMUEL [29]
1 Os filisteus ajuntaram
todos os seus exércitos em Afeque; e acamparam-se os israelitas junto à fonte
que está em Jizreel.
2 Então os chefes dos
filisteus se adiantaram com centenas e com milhares; e Davi e os seus homens
iam com Áquis na retaguarda.
3 Perguntaram os chefes dos
filisteus: que fazem aqui estes hebreus? Respondeu Áquis aos chefes dos
filisteus: Não é este Davi, o servo de Saul, rei de Israel, que tem estado
comigo alguns dias ou anos? e nenhuma culpa tenho achado nele desde o dia em
que se revoltou, até o dia de hoje.
4 Mas os chefes dos filisteus
muito se indignaram contra ele, e disseram a Áquis: Faze voltar este homem para
que torne ao lugar em que o puseste; não desça ele conosco à batalha, a fim de
que não se torne nosso adversário no combate; pois, como se tornaria este
agradável a seu senhor? porventura não seria com as cabeças destes homens?
5 Este não é aquele Davi, a
respeito de quem cantavam nas danças: Saul feriu os seus milhares, mas Davi os
seus dez milhares?
6 Então Áquis chamou a Davi e
disse-lhe: Como vive o Senhor, tu és reto, e a sua entrada e saída comigo no
arraial é boa aos meus olhos, pois nenhum mal tenho achado em ti, desde o dia
em que vieste ter comigo, até o dia de hoje; porém aos chefes não agradas.
7 Volta, pois, agora, e vai
em paz, para não desagradares os chefes dos filisteus.
8 Ao que Davi disse a Áquis:
Por quê? que fiz eu? ou, que achaste no teu servo, desde o dia em que vim ter
contigo, até o dia de hoje, para que eu não vá pelejar contra es inimigos do
rei meu senhor?
9 Respondeu, porém, Áquis e
disse a Davi: Bem o sei; e, na verdade, aos meus olhos és bom como um anjo de
Deus; contudo os chefes dos filisteus disseram: Este não há de subir conosco à
batalha.
10 Levanta-te, pois, amanhã
de madrugada, tu e os servos de teu senhor que vieram contigo; e, tendo vos
levantado de madrugada, parti logo que haja luz.
11 Madrugaram, pois, Davi e
os seus homens, a fim de partirem, pela manhã, e voltarem à terra dos
filisteus; e os filisteus subiram a Jizreel.
»I SAMUEL [30]
1 Sucedeu, pois, que,
chegando Davi e os seus homens ao terceiro dia a Ziclague, os amalequitas
tinham feito uma incursão sobre o Negebe, e sobre Ziclague, e tinham ferido a
Ziclague e a tinham queimado a fogo;
2 e tinham levado cativas as
mulheres, e todos os que estavam nela, tanto pequenos como grandes; a ninguém,
porém, mataram, tão-somente os levaram consigo, e foram o seu caminho.
3 Quando Davi e os seus
homens chegaram à cidade, eis que estava queimada a fogo, e suas mulheres, seus
filhos e suas filhas tinham sido levados cativos.
4 Então Davi e o povo que se
achava com ele alçaram a sua voz, e choraram, até que não ouve neles mais
forças para chorar.
5 Também as duas mulheres de
Davi foram levadas cativas: Ainoã, a jizreelita, e Abigail, que fora mulher de
Nabal, o carmelita.
6 Também Davi se angustiou;
pois o povo falava em apedrejá-lo, porquanto a alma de todo o povo estava
amargurada por causa de seus filhos e de suas filhas. Mas Davi se fortaleceu no
Senhor seu Deus.
7 Disse Davi a Abiatar, o
sacerdote, filho de Aimeleque: Traze-me aqui o éfode. E Abiatar trouxe o éfode
a Davi.
8 Então consultou Davi ao
Senhor, dizendo: Perseguirei eu a esta tropa? alcançá-la-ei? Respondeu-lhe o
Senhor: Persegue-a; porque de certo a alcançarás e tudo recobrarás.
9 Ao que partiu Davi, ele e
os seiscentos homens que com ele se achavam, e chegaram ao ribeiro de Besor,
onde pararam os que tinham ficado para trás.
10 Mas Davi ainda os perseguia,
com quatrocentos homens, enquanto que duzentos ficaram atrás, por não poderem,
de cansados que estavam, passar o ribeiro de Besor.
11 Ora, acharam no campo um
egípcio, e o trouxeram a Davi; deram-lhe pão a comer, e água a beber;
12 deram-lhe também um pedaço
de massa de figos secos e dois cachos de passas. Tendo ele comido, voltou-lhe o
ânimo; pois havia três dias e três noites que não tinha comido pão nem bebido
água.
13 Então Davi lhe perguntou:
De quem és tu, e donde vens? Respondeu ele: Sou um moço egípcio, servo dum
amalequita; e o meu senhor me abandonou, porque adoeci há três dias.
14 Nós fizemos uma incursão
sobre o Negebe dos queretitas, sobre o de Judá e sobre o de Calebe, e pusemos
fogo a Ziclague.
15 Perguntou-lhe Davi:
Poderias descer e guiar-me a essa tropa? Respondeu ele: Jura-me tu por Deus que
não me matarás, nem me entregarás na mão de meu senhor, e eu descerei e te
guiarei a essa tropa.
16 Desceu, pois, e o guiou; e
eis que eles estavam espalhados sobre a face de toda a terra, comendo, bebendo
e dançando, por causa de todo aquele grande despojo que haviam tomado da terra
dos filisteus e a terra de Judá.
17 Então Davi os feriu, desde
o crepúsculo até a tarde do dia seguinte, e nenhum deles escapou, senão só
quatrocentos mancebos que, montados sobre camelos, fugiram.
18 Assim recobrou Davi tudo
quanto os amalequitas haviam tomado; também libertou as suas duas mulheres.
19 De modo que não lhes
faltou coisa alguma, nem pequena nem grande, nem filhos nem filhas, nem
qualquer coisa de tudo quanto os amalequitas lhes haviam tomado; tudo Davi
tornou a trazer.
20 Davi lhes tomou também
todos os seus rebanhos e manadas; e o povo os levava adiante do outro gado, e
dizia: Este é o despojo de Davi.
21 Quando Davi chegou aos
duzentos homens que, de cansados que estavam, não tinham podido segui-los, e
que foram obrigados a ficar ao pé do ribeiro de Besor, estes saíram ao encontro
de Davi e do povo que com ele vinha; e Davi, aproximando-se deles, os saudou em
paz.
22 Então todos os malvados e
perversos, dentre os homens que tinham ido com Davi, disseram: Visto que não
foram conosco, nada lhes daremos do despojo que recobramos, senão a cada um sua
mulher e seus filhos, para que os levem e se retirem.
23 Mas Davi disse: Não fareis
assim, irmãos meus, com o que nos deu o Senhor, que nos guardou e entregou nas
nossas mãos a tropa que vinha contra nós.
24 E quem vos daria ouvidos
nisso? pois qual é a parte dos que desceram à batalha, tal será também a parte
dos que ficaram com a bagagem; receberão partes.
25 E assim foi daquele dia em
diante, ficando estabelecido por estatuto e direito em Israel até o dia de
hoje.
26 Quando Davi chegou a
Ziclague, enviou do despojo presente aos anciãos de Judá, seus amigos, dizendo:
Eis aí para vós um presente do despojo dos inimigos do Senhor;
27 aos de Betel, aos de
Ramote do Sul, e aos de Jatir;
28 aos de Aroer, aos de
Sifmote, e aos de Estemoa;
29 aos de Racal, aos das
cidades dos jerameelitas, e aos das cidades dos queneus;
30 aos de Horma, aos de
Corasã, e aos de Atace;
31 e aos de Hebrom, e aos de
todos os lugares que Davi e os seus homens costumavam freqüentar.
»I SAMUEL [31]
1 Ora, os filisteus pelejaram
contra Israel; e os homens de Israel fugiram de diante dos filisteus, e caíram
mortos no monte Gilboa.
2 E os filisteus apertaram
com Saul e seus filhos, e mataram a Jônatas, a Abinadabe e a Malquisua, filhos
de Saul.
3 A peleja se agravou contra
Saul, e os flecheiros o alcançaram, e o feriram gravemente.
4 Pelo que disse Saul ao seu
escudeiro: Arranca a tua espada, e atravessa-me com ela, para que porventura
não venham esses incircuncisos, e me atravessem e escarneçam de mim. Mas o seu
escudeiro não quis, porque temia muito. Então Saul tomou a espada, e se lançou
sobre ela.
5 Vendo, pois, e seu
escudeiro que Saul já era morto, também ele se lançou sobre a sua espada, e
morreu com ele.
6 Assim morreram juntamente
naquele dia Saul, seus três filhos, e seu escudeiro, e todos os seus homens.
7 Quando os israelitas que
estavam no outro lado do vale e os que estavam além de Jordão viram que os
homens de Israel tinham fugido, e que Saul e seus filhos estavam mortos,
abandonaram as suas cidades e fugiram; e vieram os filisteus e habitaram nelas.
8 No dia seguinte, quando os
filisteus vieram para despojar os mortos, acharam Saul e seus três filhos
estirados no monte Gilboa.
9 Então cortaram a cabeça a
Saul e o despejaram das suas armas; e enviaram pela terra dos filisteus, em
redor, a anunciá-lo no templo dos seus ídolos e entre e povo,
10 Puseram as armas de Saul
no templo de Astarote; e penduraram o seu corpo no muro de Bete-Seã.
11 Quando os moradores de
Jabes-Gileade ouviram isso a respeito de Saul, isto é, o que os filisteus lhe
tinham feito,
12 todos os homens valorosos
se levantaram e, caminhando a noite toda, tiraram e corpo de Saul e os corpos
de seus filhos do muro de Bete-Seã; e voltando a Jabes, ali os queimaram.
13 Depois tomaram os seus ossos, e os sepultaram debaixo da
tamargueira, em Jabes, e jejuaram sete dias.
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